Edimilson de Almeida Pereira venceu nesta terça (23) a 14ª edição do Prêmio São Paulo de Literatura com o romance “Front”, publicado pela Editora Nós no ano passado. No total, 281 obras foram inscritas na premiação. Edmilson e Morgana Kretzmann, vencedora na categoria de melhor romance de estreia, ganham R$ 200 mil cada um, o maior valor oferecido em premiações nacionais. Além de “Front”, Edimilson lançou em 2020 outros dois livros, simultaneamente: “O ausente”, pela Relicário, e “Um corpo à deriva”, pela Macondo, formando a trilogia “Náusea”.
Durante os 58 anos de vida, o juiz-forano, que também é professor da Faculdade de Letras na UFJF, diz que sempre dialogou tanto com a poesia quanto com a prosa. Apesar de essa segunda faceta ter sido divulgada ao público só no ano passado, já nos anos 80 Edimilson escreveu uma novela que nunca foi publicada. Essa estreia revelada na prosa de ficção vem ganhando o olhar dos críticos. Além de ter sido o vencedor deste prêmio, Edimilson concorre no Oceano com “O ausente” e é um dos nomes confirmados na 19ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Sempre caminhando
Edimilson diz que escreve porque “é uma das formas mais profundas de entender a perplexidade da vida”. “É onde eu me enxergo melhor e consigo entender por que o mundo é assim”, ele completa. Para ele, essas premiações são importantes e geram reconhecimento ao seu trabalho. Ainda assim, ele prefere não viver à mercê disso. Ele compara esse estágio com paradas, não com chegadas. Receber o prêmio não dita uma nova forma de trabalho, mas, sim, possibilita, com mais facilidade, que ele continue experimentando novas formas de criar. “Eu ainda quero experimentar. Deixo as possibilidades abertas. A arte é uma experiência em aberto, assim como os caminhos. Eu quero fugir dos rótulos.”
“Front”, para ele, desloca um eixo. O livro, assim como muitos que estavam concorrendo à premiação, fala, sim, sobre a realidade e a desigualdade social, mas de um outro lugar. “A violência está todo dia nos roteiros dos jornais. Mas se eu deslocar e pensar o porquê de isso acontecer, eu provoco um outro desdobramento”, acredita. De acordo com Edimilson, o livro é um pensamento sobre a linguagem e, por isso, caminha na contramão, buscando se existe uma nova forma de vencer uma “crise da linguagem”, que agride e “diz coisas que não fazem sentido”. Mas em um intervalo curto para o próprio protagonista da ficção, é necessário um limite para a agonia. Ele vira o eixo narrativo e questiona a própria necessidade de o leitor querer uma resposta.
Sem compromisso
Por viver o momento de agora, na área externa de sua casa, com caminhos abertos, ele não sabe o que o futuro aguarda. E nem cria expectativa sobre as próximas premiações. “Quieto no meu canto”, como ele diz, Edimilson vai encontrando motivações nas relações humanas e interiores sem compromisso com resultados.