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Apesar de autorizado, retorno de eventos culturais deve levar algum tempo

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Palco lateral do Cultural Bar deve voltar a receber artistas em novembro, assim como o principal (Foto: Bernardo Traad/Divulgação)
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Poder, pode. A questão é saber quando e se vai valer a pena. Fechados há pelo menos 18 meses, os espaços culturais de Juiz de Fora já podem voltar a receber público após o anúncio da Prefeitura, na última terça-feira, de que casas de shows, boates, teatros, museus e cinemas, entre outros, estão liberados a organizar e realizar eventos. A notícia foi oficializada no decreto publicado nesta quarta-feira (23), sendo que as regras passam a ser definidas pelo programa Juiz de Fora Viva, que substitui o Juiz de Fora Pela Vida.
A reabertura dos espaços tornou-se possível porque as regras e protocolos para o enfrentamento da Covid-19 agora são baseadas no índice da população já vacinada, desconsiderando os parâmetros epidemiológicos anteriormente utilizados, entre eles o número de novos casos e de mortes, flexibilizando, assim, diversas atividades sociais e econômicas.
Na teoria, a reabertura dos espaços não significa um “liberou geral”. No que diz respeito às casas de shows e casas noturnas (boates), a primeira etapa do programa (que considera pelo menos 40% da população vacinada com duas doses ou dose única) estipula que os espaços podem funcionar com até 60% da capacidade de ocupação, desde que não ultrapasse o total 320 pessoas em ambiente fechado e 380 em ambientes abertos, mais 20% de equipe de trabalho (staff). Os teatros e locais de encenação também poderão operar com 60% de capacidade. Na segunda etapa (70% da população com esquema vacinal completo), os teatros poderão ter uma taxa de ocupação de 80%, enquanto casas noturnas e de shows aumentarão o limite para 70%; na terceira etapa (85% da população vacinada), os espaços teatrais poderão operar com 100% de sua capacidade, e boates e casas de shows poderão funcionar com até 80% de ocupação. Nas fases 2 e 3, o limite de 320 ou 380 pessoas deixa de existir.
Além disso, os espaços precisam cumprir os protocolos de segurança sanitária (uso de máscaras, distanciamento) e exigir o comprovante de vacinação em todas as etapas, através da apresentação do cartão de vacina ou do aplicativo Conecte SUS. Em caso de descumprimento de alguma das regras, poderá haver cobrança de multa e até interdição.

Cultural Bar deve retornar em novembro

Um dos sócios do Cultural Bar, André Luiz Pereira vê com satisfação o anúncio feito pela Prefeitura, que, segundo ele, mostra que a cidade entendeu a importância de tomar as duas doses da vacina e _ ainda de acordo com ele _ o reconhecimento por parte do governo municipal de que os indicadores epidemiológicos permitem o retorno às atividades com segurança.
André destaca, ainda, que as regras estabelecidas pelo Juiz de Fora Viva viabilizam a reabertura da casa _ que tem capacidade para receber até 1.283 pessoas “com conforto e seguindo as normas técnicas de segurança”. Entretanto, os limites determinados pela primeira etapa do programa municipal obrigam a casa a operar com apenas 25% de sua capacidade.
A reabertura não será imediata. “Nós estamos com uma agenda preparada para iniciar em novembro, acreditando que a vacinação seguirá constante e que, assim, o público estará mais seguro para vir ao Cultural. Como foram mais de 18 meses parados, temos muitas festas e shows que teriam acontecido para o público matar a saudade”, adianta. “(Também) faremos eventos que já tiveram edições no Cultural, mas haverá novidades também já nas primeiras semanas.”
Algumas atrações adiadas, porém, precisam esperar o momento em que as casas de shows possam operar com capacidade máxima – caso dos shows de artistas nacionais que estavam agendados antes da pandemia e outros eventos. “Criamos projetos que se encaixam nesse cenário, pois já sabíamos que voltaríamos aos poucos. A qualidade será a mesma; o problema, talvez, seja esgotarem os ingressos”, afirma, otimista, André Luiz.

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A balada fica para depois

Antes de voltar com a pista de dança, Privilège deve ser reativada como bar e restaurante (Foto: Divulgação)

Casa noturna das mais antigas e tradicionais da cidade, a Privilège trabalha, a princípio, com a retomada dos eventos apenas em 2022. É o que diz um dos proprietários, Iuri Girardi. De acordo com ele, a casa ainda está avaliando a situação a partir da divulgação do novo decreto, acrescentando que ele e muitos produtores locais ainda estão com várias dúvidas em relação ao que foi divulgado pela PJF.
“Do jeito que chegou, temos mais dúvidas que certezas. Entendemos todos os esforços em torno de uma causa comum e incomum, porque ninguém vivenciou isso, mas para nossa atividade (o decreto) não impactou substancialmente nossa vida”, afirma o empresário, explicando que um dos principais entraves é justamente a capacidade de público liberada para casas noturnas e de shows.
“Nossa capacidade é de 1.200 pessoas, mas o decretou liberou apenas 320, o que dá pouco mais de 25% do público que podemos receber. Com o decreto da forma que está, não dá para trabalhar como costumamos durante todos esses anos; a partir de 50% ou 60% seria possível. Outro ponto é o horário de funcionamento, pois o término é especificado para 1h, e isso atrapalha bastante”, explica. “Estamos procurando novas formas de voltar à atividade, e por isso pretendemos voltar a trabalhar como bar e restaurante por enquanto. Acredito que dentro de um mês será possível.”
Independente da atividade com a qual vai retornar, Iuri aponta outra dificuldade: a perda de mão de obra decorrente da paralisação provocada pela pandemia. “Muita gente relevante saiu do mercado, como seguranças, barmen, garçons, caixas, técnicos de luz, DJs, que migraram para outros setores. Estamos observando uma dificuldade muito grande na cadeia de produção.”

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‘Fisioterapia cultural’

É possível que, sob demanda, Paschoal Carlos Magno volte a ter atividades ainda este ano (Foto: Fernando Priamo)

Outro setor cultural fortemente abalado pela pandemia foi o teatro. Muitos artistas até apostaram no audiovisual para manterem-se em atividade, mas agora todos poderão voltar a encontrar o público nos palcos, incluindo o Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno, um dos espaços administrados pela Funalfa.
Segundo o gerente do Departamento de Dinâmicas Culturais da Fundação, Gueminho Bernardes, será realizada na próxima sexta-feira uma reunião para definir os primeiros passos da reabertura, incluindo quando os interessados poderão solicitar o uso dos equipamentos culturais, quando cada um deles será reaberto ao público e disponibilidade de pessoal. Pela proximidade do final do ano, ele explica que a realização de eventos se dará por demanda espontânea, com os editais de ocupação ficando para 2022.
“A gente já vinha trabalhando com a hipótese da reabertura, inclusive com o pedido – ainda dentro do programa Juiz de Fora Pela Vida _ de adaptação de regras para algumas atividades culturais, pois já haviam liberado igrejas, academias, que tinham dinâmicas parecidas. Com a notícia dos novos parâmetros e critérios da Prefeitura, vamos discutir como reabrir gradualmente os espaços”, conta.
Gueminho diz ainda que a Funalfa manteve a zeladoria dos espaços desde a interrupção das atividades, incluindo ainda ações para melhorar as condições de acesso e atendimento. Mesmo assim, ele acredita que a retomada será uma fase de reaprendizado para o poder público, artistas, produtores e público. “Arriscaria dizer que será uma ‘fisioterapia cultural’, como um paciente que precisa reaprender a andar. É fato que a pandemia não acabou, mas vamos receber o público, artistas e produtores com a consciência de que é preciso seguir as regras. Mas certamente todos nós vamos viver essa felicidade de ver os espaços voltarem a funcionar.”

Retomada gradual em análise

Responsável por espaços como o Cine-Theatro Central, Forum da Cultura e Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), a UFJF ainda vai definir como se dará o retorno do público em seus espaços. Segundo a pró-reitora de Cultura da instituição, Valéria Faria, está sendo elaborada uma resolução para o retorno às atividades presenciais dos diversos setores da Pró-Reitoria de Cultura (Procult) de acordo com os protocolos de biossegurança estabelecidos pela instituição.
“A nova resolução, que estamos providenciando, busca agilizar o processo e eliminar a necessidade de uma minuta específica para cada um dos setores que estão requerendo a retomada gradual, acelerando o prazo de reabertura dentro das condições sanitárias necessárias para a proteção de todos, tendo em vista a pandemia de Covid-19”, diz. “Essa retomada, no caso da Procult, representa a possibilidade de preencher uma lacuna deixada pela ausência das ações presenciais, fundamentais para o fomento à arte e à cultura, alimentando a economia criativa de Juiz de Fora, da região e além. Sabemos do impacto provocado pelo longo tempo de fechamento, apesar de todo o esforço que nossas equipes tiveram em reinventar nossas programações a partir do universo virtual.”

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Primeiro Plano
Um evento que poderia se aproveitar da reabertura dos equipamentos culturais geridos pela Funalfa é o Festival Primeiro Plano, previsto inicialmente para acontecer de forma on-line entre 22 e 27 de novembro. Porém, uma das responsáveis pela organização do evento, Marília Lima, diz que eles estão discutindo a viabilidade da mudança de formato em um prazo tão curto. “Existe a possibilidade de um formato híbrido, mas é preciso pensar na parte de patrocínio, porque haveria oficinas, debates, sessões infantis, para fazer o festival completo. E talvez fosse preciso realizar em outra data, então é necessário pensar bem e discutir bastante entre a gente”, pondera.

Perspectivas diferentes

Comemoração dos 5 anos d’OAndarDeBaixo, em fevereiro, foi assim: sem público (Foto: Daniela Souza/Divulgação)

Se os espaços geridos por órgão públicos já planejam a reabertura para toda sorte de eventos, os grupos teatrais responsáveis pelos espaços alternativos da cidade têm uma realidade diferente. O ator e diretor Felipe Moratori, da Sala de Giz, recebeu a notícia da reabertura de forma positiva, porém ressalta que os parâmetros de ocupação tornam inviável para o grupo voltar com os espetáculos teatrais, pois o espaço administrado por eles tem capacidade para 70 pessoas sentadas (formato alternativo, podendo receber, de acordo com o Juiz de Fora Viva, um máximo de 42 espectadores), e 140 em pé (formato casa de show, em que poderiam receber até 84 pessoas).
“Para a Sala de Giz ainda é inviável, não apenas pela limitação do percentual de público, mas pela restrição da distância entre os espectadores. É inviável propor a distância entre assentos no espaço alternativo”, aponta. “Apresentações públicas no nosso espaço, apenas depois da liberação de 100% da capacidade.” Se as apresentações teatrais ainda ficarão para o futuro, pelo menos outras atividades serão retomadas em breve. “A partir de novembro, nossos ensaios e cursos voltarão às atividades regulares. Hoje acontecem apenas atividades internas.”
Uma das responsáveis pelo espaço OAndarDeBaixo, Carú Rezende revela que deseja “com alegria o encontro com o público”, mas demonstra cautela. “Vamos avaliar os investimentos necessários para receber o público com segurança. O momento é de crise financeira e certa insegurança sanitária, portanto, precisamos entender o desejo do público e também como será esse novo comportamento no teatro.” Mas se não há precisão com relação ao retorno dos espetáculos, outras atividades já estão no radar. “Em princípio, retomaremos as atividades de oficinas teatrais em outubro, dando início ao movimento no nosso espaço, que está parado desde março de 2020. Elas serão o termômetro para a avaliação do retorno do público.”

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