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Documentário registra tradição da reza do terço em Ibitipoca

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Primeiro cruzeiro instalado no distrito de Ibitipoca data da década de 1940. (Foto: Rose Belcavelo/divulgação)
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A história da Santa Cruz, que teria sido utilizada para a crucificação de Jesus Cristo, é marcada por várias versões. As mais conhecidas dizem que Helena de Constantinopla encontrou o objeto sagrado em sua peregrinação a Jerusalém, no ano de 326, tendo construído a Igreja do Santo Sepulcro para abrigá-la. Parte da cruz passou a ser exibida a partir do ano de 335, sendo tomada pelos persas após a invasão de Jerusalém, em 614, e recuperada em 628. Por conta desse desencontro de datas e histórias, o Dia da Santa Cruz foi celebrado por muitos séculos em 3 de maio e 14 de setembro, mas o Papa João XXIII decidiu escolher a segunda a fim de unificar as comemorações. O que não impede que inúmeros fiéis continuem a celebrar o Dia da Invenção da Cruz em 3 de maio: é o que acontece em diversos pontos de Minas Gerais, incluindo o distrito de Conceição de Ibitipoca, em Lima Duarte – tradição esta que é retratada no documentário “A reza do terço”, de Chester Marcone e Alfredo Kenji Dan.

O curta, com 15 minutos de duração, foi uma sugestão da administração do Parque Estadual do Ibitipoca, que, de acordo com Chester, busca promover o resgate da tradição cultural da região. As gravações aconteceram no último dia 3 de maio, quando inúmeros fiéis percorreram os quase três quilômetros de caminhada para chegar ao cruzeiro instalado no local na década de 1940, antes da criação do Parque Estadual do Ibitipoca. O filme teve sua primeira exibição no último dia 5, durante a inauguração do espaço de convivência Nossa Casa na Serra, dentro do parque.

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“O documentário se concentra no evento – incluindo a caminhada, a celebração e a reza do terço – na comunidade e nos personagens, em especial a Tia Dina e Dona Maria Raimunda, que participam há décadas da celebração”, explica Chester, destacando a disposição das pessoas mais velhas em fazer a peregrinação mesmo sob o sol forte que fazia na ocasião. “Nós percebemos a felicidade dessas pessoas ao realizar essa celebração, com lágrimas nos olhos, emocionadas. É uma tradição que passa por gerações.”

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Para o cineasta, o documentário – que deve ser inscrito no circuito de festivais – é uma forma de apresentar a celebração para as futuras gerações, ajudando a manter viva a tradição religiosa. “É um dia do ano que se tira para rezar o terço.”

Fé nascida na infância

Tia Dina (à frente) participa da celebração do Dia da Cruz há quase 60 anos. (Foto: divulgação)

Mais conhecida como Tia Dina, Ana Bernardina Moreira é uma das responsáveis por organizar a caminhada até o cruzeiro e a celebração do Dia da Santa Cruz. Aos 67 anos de idade, ela diz que participa do evento religioso desde os 8 anos, quando subia até o cruzeiro com seu pai, Júlio Fortes (“mais conhecido como Zuzu”, lembra) e a tia Elzira Moreira. Moradora do distrito de Conceição do Ibitipoca, ela conta ter disposição até hoje para participar das comemorações. Atualmente tem a companhia de muitos familiares, como as irmãs Sebastiana e Bárbara, a sobrinha Josileia e suas filhas, as primas Maria Raimunda e Balduína, entre outras. “Eu tenho saudade de antigamente, quando ia com meu pai, minha tia. A gente levava o lanche, que chamávamos de merenda; era muita alegria. Mas continuamos alegres, choramos de emoção pelo que passou e de alegria pelos que conheci graças à reza do terço. E vamos conhecer mais”, afirma a Tia Dina, que credita à oração a cura de um problema de saúde.

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“Eu tinha um problema em um dos pés, que estava sempre inflamado, e pedia ao cruzeiro que me ajudasse. Hoje estou curada e vou lá todos os anos para agradecer a Deus. A cruz, para mim, é importante porque significa a vida; sem a cruz, somos nada, sem ela seríamos uma árvore sem galhos.”
O gerente do Parque Estadual do Ibitipoca, João Carlos Lima de Oliveira, informa que a primeira cruz foi colocada ali no início da década de 1940, após uma tempestade destruir a capela que ficava no Pico do Pião, onde os moradores da comunidade costumavam fazer suas celebrações. “Essa cultura da adoração à Cruz em 3 de maio veio com os imigrantes e se espalhou por vários locais, e é marcada pela realização de uma reza semicantada”, explica.

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