
A Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) deflagra, nesta quarta-feira (23), às 20h, a programação da 16ª edição. A estrutura do festival de cinema será focada em eixos temáticos, como preservação, história e educação sob a égide do tema central “Memórias entre diferentes tempos”. A proposta da curadoria é pautar os impasses enfrentados pelo audiovisual brasileiro nos últimos anos, “agravados pela pandemia e pelas dificuldades de um Governo que não trata a cultura como um setor de relevância”, pontua a organização. A CineOP exibirá 118 filmes entre pré-estreias e mostras temáticas – são 32 longas, seis médias e 80 curtas-metragens produzidos no Brasil e em países como Chile, Colômbia e Portugal. A programação, integralmente gratuita e virtual, está detalhada e será transmitida no site da CineOP.
A abertura oficial nesta quarta-feira será uma performance audiovisual para apresentar a temática do CineOP. Além disso, o ator Chico Díaz, 62 anos, dos principais nomes da dramaturgia brasileira, será homenageado não apenas com o Troféu Vila Rica, mas com uma mostra homônima. Entretanto, o ator ainda será tema de um bate-papo com o curador Francis Vogner dos Reis mediado pela jornalista Simone Zuccolotto – “O percurso de Chico Díaz em quatro décadas”. Simone mediará uma conversa sobre as diferenças entre os processos de criação e os modos de produção entre as distintas épocas da carreira de Chico Díaz. Após o bate-papo, será exibida a pré-estreia nacional do longa-metragem “O ano da morte de Ricardo Reis”, do diretor português João Botelho. Chico, aliás, está no elenco. A Mostra Homenagem ainda trará “A cor do seu destino” (1986), de Jorge Durán, “Os matadores” (1996), de Beto Brat, “Amarelo Manga” (2002), de Cláudio Assis, “Quem você mais deseja” (2005), de André Sturm e Silvia Rocha Campos.
Além da Mostra Homenagem, os mais de cem filmes da CineOP estarão distribuídos entre outras sete: Contemporânea, Preservação, Histórica, Educação, Mostrinha, Valores e Cine-Escola. A Mostra Contemporânea, por exemplo, divide os longas-metragens em quatro eixos, como “Indígenas e as imagens: Entre o passado e o presente”, que trata sobre a cultura dos povos originários; “Os espaços e os vestígios da história”, que reúne trabalhos que ecoam o ambiente onde são filmados ou suas relações com a história; “Passado em investigação”, sobre filmes com recortes documentais pouco abordados sobre a Ditadura Militar; e “Memórias das artes brasileiras”, que resgata importantes figuras da cultura nacional, como o dramaturgo José Celso Martinez Correa e a cantora e compositora Alzira Espíndola. Os curtas, por sua vez, são distribuídos na Mostra Contemporânea no já tradicional recorte entre Cine-Praça, Cine-Teatro e Cine Vila Rica.
Já a Mostra Histórica será guiada pelo tema “O passado guiado pelas imagens dos anos 1990”, ou seja, buscará traçar paralelos entre o cinema brasileiro da década de 1990 e o começo da década de 2020, uma vez que várias camadas do cinema e do próprio país que foram então “semeadas como gênese da época estão hoje reposicionadas”. Além disso, aquele período demarcaria tanto uma transição cultural quanto política no Brasil “de extensa batalha por legitimação da produção local e pelas negociações com a iniciativa privada”. A mostra exibirá filmes como “Lamarca” (1994), de Sérgio Rezende, “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil” (1995), de Carla Camuratti), “Carmen Miranda – Banana is my business” (1995), de Helena Solberg, e “Baile perfumado” (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.
A Mostra Preservação, por sua vez, será guiada pelo título-pergunta “Preservação audiovisual: Que caminhos trilhar?”. O eixo abordará a década de 1990 como uma espécie de amadurecimento das condições que levaram o audiovisual brasileiro a se consolidar na década de 2000. O período é apontado como de “aprimoramento do ensino e aprendizado audiovisual”, bem como de mudanças tecnológicas da película para o vídeo e o digital. A Mostra Preservação, dedicada a títulos importantes da historiografia do cinema brasileiro, exibirá, por exemplo, uma nova cópia de “O país de São Saruê” (1971), de Vladimir Carvalho. O filme será apresentado em sua versão restaurada fotoquimicamente ao final da década de 1990 pelo Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro. Além disso, estarão na mostra os documentários “Cinemateca brasileira” (1993), de Ozualdo R. Candeias, e “Circo Voador – A nave” (2015), de Tainá Menezes.
Por outro lado, a Mostra Educação reunirá mais de 20 trabalhos audiovisuais de bancos escolares ou utilizadas a partir de uma relação pedagógica com alunos. O tema central será “Das ruínas às utopias: Processos de criação audiovisual e metodologias de ensino”. As sessões Mostrinha e Cine-Escola são dedicadas a uma busca pela formação de novos públicos para o cinema brasileiro. Inclusive, na Mostrinha, há longas em pré-estreia, como “Passagem secreta”, de Rodrigo Grota, e “Dentro da caixinha – Segredo de criança”, de Guilherme Reis. Os filmes da Mostrinha contam com acessibilidade em libras, audiodescrição e legendas descritivas. A Mostra Valores, por fim, exibirá quatro filmes realizados na cidade de Ouro Preto tanto pela Prefeitura quanto pela TV da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
Oficinas e presenças internacionais
Além das mostras, a programação da CineOP contará com oficinas e masterclasses de profissionais internacionais. São 130 vagas ofertadas por seis diferentes oficinas. As modalidades são: “Tecendo memórias em imagens e sons”, com Eduardo de Souza de Oliveira, “Gestão de comunicação para instituições de salvaguarda”, com Ariane Gervásio, “Desenvolvimento de projetos de educação audiovisual”, com Igor Amin, “Espelho investido – Exercícios (audiovisuais) de escuta empática”, com Raquel Gandra, “Financiando meu filme”, com Bruna Kassab, e “Oficina de som para documentário”, com o espanhol Juan Quintáns.
Além de Quintáns, outros forasteiros também participarão da Mostra de Ouro Preto. Do Chile, participam a pesquisadora e professora de cinema Alicia Vega, o também professor e cineasta Ignacio Agüero e a coordenadora-geral do Programa Escuela al Cine, da Cineteca Nacional, e a diretora da Cinemateca Nacional, Mónica Villarroel. Além disso, participará a chefe de Conservação de Filmes e Acesso Digital dos Países Baixos, Anne Gant, o diretor da Cinemateca de Bogotá, Ricardo Alfonso Cantor Bossa, e a responsável pelo acervo da organização sem fins lucrativos Witness, Yvonne Ng, da Tchéquia.