Depois da divulgação da programação oficial do carnaval de rua, em Juiz de Fora, blocos tradicionais da cidade foram cancelados. Dentre os motivos relatados, o principal foi a falta de apoio por parte dos órgãos públicos. Segundo os organizadores, os cancelamentos teriam sido ocasionados por exigências feitas de última hora pela Prefeitura de Juiz de Fora, envolvendo a distribuição obrigatória de água gratuita e o policiamento. Conforme a PJF, 13 dos 83 blocos do município foram cancelados. Os nomes dessas atrações não foram divulgados.
Diferentes blocos carnavalescos do município, em conversa com a Tribuna, demonstraram preocupação, mesmo que não tenham sido cancelados. O “Cola no Velcro”, por exemplo, afirma que quando um agente cultural organiza um bloco, sabe que não contará com apoio financeiro, apenas estrutural.
“Normalmente, recebemos som, palco, tendas, luz, banheiros e segurança – o básico para que possamos nos organizar. Este ano, fomos surpreendidos negativamente, já que o apoio está sendo no que diz respeito ao tablado (um palco inferior) e à luz apenas para o som do tablado – que inclusive alugamos por nossa conta – e não sabemos quantos banheiros serão. Ou seja, teremos que arcar com tendas, luz, trucks, som e com a distribuição de água potável e gratuita”, conta.
Para o bloco, a situação foi a gota d’água. “Além da burocracia, confusão e falta de apoio, chega essa nova exigência que os blocos, principalmente os maiores, não têm como arcar. Por questões financeiras e até mesmo de dúvidas em relação ao volume de água necessário, por exemplo. Como saber quantos litros em um evento público?”, questiona a organização do “Cola no Velcro”.
Um bloco que preferiu permanecer em anonimato afirmou que ainda não foi realizada nenhuma exigência, mas a organização está apreensiva com a possibilidade de não poder realizar a folia. “Não entendo como Juiz de Fora não é um polo atrativo de carnaval da região. Pelo contrário, o movimento é para as cidades menores”, diz.
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Cancelados
Uma das folias que precisou ser cancelada foi a do “Bloco da Imprensa”. Érica Salazar, uma das proponentes da atração, relata que receberam mensagem após o bloco ter o protocolo e a autorização do Corpo de Bombeiros para atuar. “O documento alega ausência de croqui indicando posição de veículos que iriam comercializar produtos. Não utilizamos isso. Outro item é a “Não declaração de veículos de apoio”. Também não usamos esta estrutura. Por fim, a “Falta de assinatura do termo de compromisso”, o qual obriga o bloco a arcar com a distribuição de água para os foliões”, enumera. A opção pelo cancelamento foi por não ter condições financeiras para arcar com mais despesas.
Segundo Érica, a Prefeitura teria se justificado, alegando erro de comunicação entre a Funalfa e a Secretaria de Sustentabilidade em Meio Ambiente e Atividades Urbanas (Sesmaur). Porém, a resposta chegou tardiamente. “Já havíamos avisado a banda e entregamos a data para que ela possa ter a liberdade de conseguir cachê em algum outro evento”. Ainda conforme a proponente do “Bloco da Imprensa”, a preocupação com a segurança de todos é sempre válida, mas planejamento, organização e transparência nas informações são fundamentais em qualquer evento, principalmente no Carnaval. “Vários representantes de blocos estavam com medo de desfilar, mediante as exigências impossíveis e questionáveis de serem cumpridas em eventos.”
Da mesma forma, o Bloco “Súbita” foi indeferido pela Prefeitura. Cléber Kureb, da organização, acredita que o motivo foi devido aos blocos grandes terem concentração marcada para o mesmo dia, uma vez que em 2024 o Carnaval ocorre no fim de janeiro e início de fevereiro. “Para nós, impacta pouco. Temos um formato que envolve DJs e que acontece ao longo do ano. Portanto, só adiamos para o próximo mês. Temos muito apoio do nosso público, então fica para o ano que vem.”
Posicionamento da PJF e da PM
Em resposta à demanda da Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora afirmou que os blocos que tiveram seu pedido indeferido foram por determinação da Polícia Militar, que alegou não ter efetivo suficiente para garantir a segurança dos foliões. Com relação à distribuição de água, conforme a PJF, a Sesmaur está realizando reuniões com os blocos para orientação a respeito da portaria federal.
Já a Polícia Militar esclareceu que está realizando os últimos acertos com relação ao planejamento de segurança do Carnaval 2024. Nesse sentido, não irá se manifestar sobre questões específicas quanto à organização e indeferimento.