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Putz! faz uma única apresentação do espetáculo ‘Inimputáveis’

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Para a apresentação, a Putz escolheu textos que não fossem agressivos demais, mas, ao mesmo tempo, tivessem o DNA questionador da companhia (FOTO: Arquivo/Putz)
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Em 2012, o mundo ia acabar. Uma profecia fez gente acreditar na possibilidade extrema. Chegou 2013 e, como se sabe, o mundo segue inteiro. Pelo menos, em partes. Coisas se desfizeram, como de costume em qualquer ano. Outras retornaram para mostrar que sempre é hora. E é hora de reencontro para os jovens do começo dos anos 2000 que rodavam bares e teatros da cidade atrás de outros também jovens que usavam esses espaços como ambiente de humor e crítica. A Cia. Teatro Putz, essa que ocupava esses lugares todos, com público fiel, em 2012, chegou a acabar (ao contrário do mundo). Mas, 11 anos depois, retorna, em um único dia: uma única possibilidade de entrar na máquina do tempo e se deparar com o que era a vida naquele quase ano derradeiro e o que foi pauta de anos dedicados ao teatro. Neste domingo (24), o Teatro Paschoal Carlos Magno é palco de celebração do breve retorno da Putz!, com o espetáculo “Inimputáveis”, a partir das 11h. Diferente do que era há 11 anos, quando era preciso fabricar lambe-lambe e espalhar pela cidade para divulgar um espetáculo e chegar até o público, os ingressos são vendidos on-line no link. . Outra novidade, a turma tem Instagram.

Tudo 11. Quando a Putz! encerrou suas atividades completava 11 anos. Hoje, volta 11 anos depois. O que pode parecer estrategicamente pensado não passa de coincidência na vida de seis pessoas que passaram a dedicar suas vidas a outras histórias e narrativas. A companhia não morreu para eles, que seguiam se encontrando esporadicamente e até pensavam em um possível retorno – o próprio público pedia. Em um dos encontros, perceberam que a possibilidade poderia ser mais real. As situações conspiravam a favor, apesar da correria, e eles passaram a colocar a mão na massa para fazer um espetáculo acontecer.

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O primeiro passo foi ver os textos das cenas escritas e apresentadas nesse tempo de Putz!. Tarcízio Dalpra Jr, autor dos textos e ator, conta que eles contabilizaram mais de 100 esquetes escritas. O primeiro contato foi até chocante, ao se depararem com o que era falado há 11 anos, como o mundo era completamente diferente, apesar de uma diferença de um curto tempo. “O nosso humor era ácido. Faltava sensibilidade em alguns pontos que a gente só percebe com o amadurecimento. Tanto o nosso quanto a da sociedade em si. Tinha muita coisa que a gente viu que era além do limite. A gente se propôs a ser essa metralhadora giratória, de não escolher lado, de falar sobre o que nos cerca sem papas na língua, mas tinha coisa que, hoje, olhando, não é nem o medo do cancelamento, é mais a própria noção nossa como comunicador e artista de como transmitir e levar isso.”

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Com esses textos, foram escolhendo aqueles que não precisariam tanto de alterações. “A gente escolheu os textos que tivessem um contexto legal e que não fossem agressivos demais, mas, ao mesmo tempo, tivesse nosso DNA”. Mas as transformações pelas quais os textos passaram não alteram o que é, de fato, a Putz!. “Embora a gente tenha toda essa consciência de transformação do humor e social, em momento nenhum a gente quis fazer uma peça politicamente correta, que fosse uma peça do Putz! do passado adaptada para um politicamente correto de hoje. Não. A gente brinca com isso. Quer trazer esse recorte: olhar para trás e falar ‘Putz, que absurdo'”, brinca. “A gente meio que interferiu o mínimo possível nos textos para que eles pudessem não soar tão distantes da nossa realidade”. O que guia a narrativa e o que pautou a divulgação foi a frase: “E se hoje a gente apresentasse os mesmos esquetes de 11 anos atrás, seríamos cancelados?”, o que explica essa escolha por não mudar tanto o texto.

A partir da curadoria do espetáculo, foi preciso pensar no material humano mesmo: quais pessoas do elenco original poderiam participar e integrar a Putz! pelo menos em um dia. “Por mais que a gente tenha entendido essa transformação de contexto, ainda existe um DNA questionador, contracultura, que nasceu do Putz!. Então, mantido isso, a gente foi pensar no elenco, de uma maneira sem precisar recorrer a participações especiais, para que a gente pudesse montar um espetáculo mais fiel ao que a gente era. Seis pessoas do elenco original vão se apresentar, e vai ser massa demais. E, claro, tudo isso pensando naquelas esquetes que tivessem maior apelo do público, com personagens imortalizados e com aqueles que passeiam mais entre as cenas. Foi uma curadoria complicada, porque passou por alguns filtros.”

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Memórias afetivas

Olhar para o que foi a Putz! é entender, também, o espaço do humor naquela época. Espaço esse que, assim como os assuntos, se alterou. Coisa parecida com o que o Putz! fazia pelos bares, principalmente, foi ocupado pelas apresentações de stand-up: “fenômeno dessa linguagem contemporânea”, define Tarcízio. “O cara sem figurino, cara limpa, mais pocket, mais fácil de ser disseminado”. Esse teatro de bar, em formato de esquete, foi, inclusive, uma forma inspirada no que o Teatro de Quintal (TQ), fazia na cidade de maneira pioneira. “Em Juiz de Fora, na nossa época, esse método era muito efervescente. Tinha muita dinâmica. Mas hoje é difícil”. Quando se pergunta se a Putz! sobreviveria às transformações do tempo, se não tivesse tido essa pausa, ele responde: “A gente sempre teve um elenco muito eclético, nunca teve direção fixa, sempre foi coletiva. A gente tinha muita referência distinta, que a gente chama de ‘liquidificaputz’, que cada um com suas referências chegava na hora e como que colocava no bolo, e eu acho muito difícil que a gente não tivesse adaptado a uma nova sociedade. A gente sempre foi muito crítico, mas entendeu muito as mudanças, as transformações e as linguagens. E quando você acha um modo de tencionar a cultura, uma sociedade, dentro daquilo que a sociedade está absorvendo e entendendo como válido e legal, dá certo”.

A felicidade do reencontro com o público, no entanto, não garante que mais espetáculos como esse vão acontecer. É mesmo uma única oportunidade – até outra aparecer. Mas é interessante, para eles, reviver uma época em que o teatro era o protagonista da vida dessas pessoas. “A gente, quando se encontra, traz à tona várias memórias afetivas. Quando a gente olha para trás dá valor, porque era um trabalho cuidadoso e que existe um peso, a arte não simplesmente brota da inspiração. A gente vivia daquilo e batalhava e trabalhava muito em cima daquilo”. Isso tudo faz com que esse momento seja mesmo de celebração. “Esse carinho todo que a gente está tendo, de lapidar os textos e fazer uma produção bacana, inserir texto novo e encerrar com uma cena que para a gente é o encerramento de um ciclo, é para dar certa satisfação e falar: ‘Vocês vieram até aqui com a gente e a gente está dando esse presente para vocês, ao mesmo tempo que vocês estão dando para a gente, estando aqui nesse domingo, 11h da manhã’.”

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