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Premiado diretor teatral Rodrigo Portella fala sobre sua nova empreitada

destacada cultura rodrigo portella Elisa Mendes

(Foto: Elisa Mendes)

rodrigo reproducao facebook
Rodrigo Portella, após ser premiado com Shell de melhor diretor, foi convidado pela Cia. dos Atores (Foto: Divulgação)
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Somente neste primeiro semestre, o diretor de teatro Rodrigo Portella, 41, levou o nome de sua cidade natal, Três Rios, para o palco do Cesgranrio e Shell. A última premiação aconteceu na semana passada, dia 13, no Golden Room do Copacabana Palace, quando o diretor contou à Tribuna sobre como alcançar aquele destaque parecia tão distante, rememorando o início de tudo enquanto ainda vivia no interior e valorizando o teatro das pequenas companhias espalhadas por cidades fora das capitais, como Juiz de Fora.

“Tom na fazenda” (2017), peça dirigida por Rodrigo que segue em cartaz no Rio de Janeiro, rendeu-lhe estes e outros prêmios, como Botequim Cultural e Questão de Crítica. Este merecido reconhecimento fez com que Portella não parasse de receber convites para encabeçar diversos projetos na área do teatro. Nesta quinta-feira (22), seu mais novo triunfo vem à tona na estreia da peça “Insetos”, da Cia. dos Atores (de Santa Teresa, no Rio de Janeiro), dirigida por Rodrigo. O espetáculo, em comemoração aos 30 anos da companhia, está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio e integra a programação do Festival de Teatro de Curitiba, nos dias 3 e 4 de abril, no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná.

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“Quem ia dirigir a peça era a Vera Holtz, só que ela não pôde por conta de um outro trabalho e saiu do projeto. Nesse mesmo momento, a Cia. dos Atores tinha acabado de assistir a ‘Tom na fazenda’ e decidiu me chamar para a direção. Está sendo um encontro saborosíssimo, é uma equipe muito experiente. O interessante é que eles são de uma geração anterior à minha, e a troca está muito bacana, por serem generosos, inteligentes e criativos. Me receberam com muita confiança”, conta Rodrigo.

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A nova geração

O dramaturgo é Jô Bilac, 34, que, assim como Rodrigo, é um jovem que alcançou uma notável produtividade criativa, assinando a autoria de dezenas de peças, como “Cachorro!” (2007), “Savana glacial” (2010) e a mais recente, “Conselho de classe” (2013), também montada junto a Cia. dos Atores. Algumas destas dramaturgias tornaram-se livros, como “O rebu” (2013), que recebeu montagens internacionais e teve o texto traduzido para, pelo menos, quatro idiomas. O encontro dos dois é uma celebração desta geração do teatro. Trabalhando, estudando e construindo suas carreiras em paralelo, “Insetos” é justamente uma interseção.

“O texto tem um caráter performativo, não é uma historinha linear de começo, meio e fim. Há uma estrutura fragmentada, ele passa por muitos assuntos em 12 quadros. São 12 episódios traçando uma analogia com a contemporaneidade. Ele estabelece um estado de guerra, porque para Jô Bilac a gente está nesse estado de guerra, apesar de ela não ser declarada, como as do nosso imaginário. O fato de morrer tanta gente próxima nessas favelas do Rio e em todo o Brasil, o fato de a gente estar sob período de intervenção militar e de ter passado sobre o que muitos chamam de golpe político, diante de todo esse contexto, sem falar no cenário de imigrantes sírios buscando abrigo e quantos de nós não estamos deixando nosso país e indo para Europa à procura de uma vida menos explorada? O Jô Bilac fala destas questões, e é um texto difícil de abordar, porque ele fala muito no discurso, mas há muito humor, e é muito rico em imagens poética. E há uma característica muito comum na Cia. dos Atores e na arte brasileira, que é a antropofagia. A gente pega os assuntos, joga para dentro e coloca outra coisa para fora.”, avalia Rodrigo.

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A realidade como na fábula

Em ação no espetáculo “Insetos” o elenco da Cia. de Atores Susana Ribeiro, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e Cesar Augusto (Foto: Elisa Mendes)

“Insetos” mescla o contexto político real do Brasil com o teatro de fábula, que por si só nos leva à possibilidade da ficção como um escape ao indigerível. A adaptação assinada por Rodrigo e a Cia. dos Atores transcorre sobre sentimentos relacionados ao medo e à manipulação, contada com fábula. Os personagens denunciam o nome do espetáculo, sendo cigarra, gafanhoto, barata, louva-a-deus, besouro, mariposa, borboleta, mosquito, cupim e formiga, entre outros, interpretados por Cesar Augusto, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e Susana Ribeiro.

“Acho a ideia de falar sobre a gente através dos insetos muito esperta, porque, de alguma forma, cria um outro ponto de vista: de um lugar que é micro para o macro, que somos nós humanos, passando pela questão do desequilíbrio do planeta que a gente causa. O espetáculo vai abrindo muitas janelas para muitas leituras, há uma espécie de polifonia girando em torno do espectador”, afirma Rodrigo Portella.
Estes artrópodes assumem comportamentos coletivos e individuais, humanizados, estampando o paralelo entre um êxodo que gera um desequilíbrio natural, com tirania e guerra deflagrada. Um imenso caos está instaurado, e o comportamento dos indivíduos é o espelho da sensibilidade humana diante de um período político conturbado. Certamente um paralelo com o que vivemos hoje. Os insetos-personagens não estão em um profundo estado de introspecção, como a barata de Franz Kafka, tampouco são insetos mimetizados, os atores foram dirigidos para estarem, justamente, neste ínterim.

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Toque de humor

“Os insetos estão o tempo todo em nosso redor. Exatamente por isso a gente talvez não se relacione com eles, porque esta presença é tão ordinária que a gente não presta atenção. Além disso, a morfologia dos insetos é diferente de nós, mamíferos, então o primeiro passo foi o de entender como eles vivem, se organizam, bem como a questão do extinto e do impulso. Não há encéfalo nesses bichos, entender como isso funcionaria no corpo do ator foi um processo muito interessante. Como trazer as características de instinto de sobrevivência e procriação para o corpo?”, reflete Portella. A presença das antenas no figurino são um toque de humor, para brincar com as questões, e não uma intenção de reconstruir o inseto.
O ator e roteirista juizforano Tairone Valle também participará de sessões como ator substituto de Marcelo Valle. Após passar por um teste de leitura, ele foi escolhido e começou a entrar nos primeiros ensaios. “O nível de carinho e recepção comigo foi incrível. Todos eles estão fazendo um esforço danado para eu me sentir em casa”, afirmou Tairone, dizendo que nunca poderia imaginar que estaria trabalhando junto à Cia dos Atores.

“Insetos”
Estreia nesta quinta-feira (22). Quarta a domingo, às 19h. Sábados, às 17h e 19h. Até 6 de abril no CCBB – Rio de Janeiro

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