Com apenas 6 anos, Alice D’Ângelo já tem uma noção de quem foi Murilo Mendes. Gostei dele. Foi um pintor, um poeta, alguma coisa desse tipo, confunde-se a pequena que, no último sábado, participou da segunda edição do Microlições de arte – projeto promovido pelo setor de divisão educativa do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm). Durante a tarde, atividades lúdicas foram desenvolvidas com o objetivo de diminuir a distância e acabar com o medo que separa espectador e obra de arte. Os estudos recentes indicam que, por mais que você direcione a pessoa e diga que uma determinada tela faz parte de um movimento X ou Y ou foi feita utilizando uma técnica tal, o que importa é a relação que o espectador mantém com ela. O que tentamos fazer é trabalhar o assunto de maneira natural. Por isso, deixamos a obra aberta, comenta o arte-educador Vinícius Steinbach, acrescentando ser necessário investir numa maneira simples de ensinar.
Começamos o nosso bate-papo com perguntas como ‘Qual quadro você mais gostou? Qual achou mais estranho? O que ele te transmite?’ É um questionamento que não tem resposta certa, deixando a pessoa para responder o que quiser, observa. Mas como a meta é transmitir informação, não adianta deixar a pessoa sozinha sem falar que o quadro pertence ao abstracionismo italiano, por exemplo. Não podemos permitir que o participante saia daqui da mesma forma que entrou, porque ele quer consumir alguma coisa. Se indico uma linha de pensamento e falo das características de cada período, consigo criar uma relação entre ele e o quadro.
No último encontro, a programação foi dividida em dois momentos. Diferentemente do que foi feito em fevereiro, a garotada ficou de um lado e adultos de outro. A justificativa para a mudança é a disparidade de níveis de apreensão. A vivência não é a mesma. Até o linguajar é outro. Posso falar naturalmente de abstração com 95% dos adultos que eles já têm uma ideia do que seja isso ou, pelo menos, têm uma referência. Com a criança, não posso entrar direto nesse assunto. Com a meninada, tento trazer para o elementar, mas sem banalizar, sem infantilizar. Queremos que ela saia daqui modificada.
Folha e lápis de cor. Enquanto os mais crescidos ficaram livres para conhecer o acervo exposto nas galerias, munidos desses dois materiais, os 13 baixinhos tiveram como tarefa desenhar um retrato de um amigo ou amiga. Ao lado deles, uma fotografia do patrono e a coleção de pinturas de sua coleção, com destaque para os trabalhos Ommagio a Murilo Mendes e outro sem título, assinados pelos italianos Michelangelo Conte e Piero Dorazio, respectivamente, serviam de inspiração. Desenhei a minha amiga. Aprendi que existem vários artistas famosos e que o Murilo tinha muitos amigos pintores, diz Rebeca Vargas, 12. É a primeira vez que venho e pretendo voltar. Vi fotografias, livros e também vários quadros, conta Juliana Vieira, 11.
Para Bianca D’Ângelo, 36, mãe da pequena Alice, que preferiu reproduzir a amiga Letícia, o passeio ao museu é uma oportunidade de criar hábitos. Desperta na criança o desejo de compreender as obras de arte e de visitar lugares como este. Já tínhamos vindo aqui na primeira vez. Hoje, foi ela quem me trouxe, diz. Essa ideia do Microlições é muito interessante, pois nos possibilita aprender através das pequenas coisas, como o próprio nome já diz, opina a pedagoga Alessandra Sexto Bernardes, 39, que veio de Muriaé acompanhada de um grupo de adolescentes.
Depois de percorrer as galerias do museu, ao final, mães e filhos se juntaram no jardim. Era a hora de expressarem o que aprenderam por meio de uma atividade prática, realizada com tecidos coloridos. É um trabalho que os instigou a perceber que movimentar um simples tecido pode ser arte, pois produziram uma coisa nova, com intenção de arte, afirma Steinbach.
Aproximação com a comunidade
De acordo com a professora Nícea Nogueira, diretora do Museu de Arte Murilo Mendes, o Microlições de arte está dentro da proposta de aproximar o espaço da comunidade. O projeto está mais definido. Agora vamos levá-lo para as escolas. São ações que têm como finalidade captar e atrair o público. O Mamm está num momento de sedução. Queremos que os visitantes voltem sempre, diz a diretora, adiantando que, nesta semana, foi dado o passo inicial para a implantação do Educar com Arte. Já tivemos uma primeira conversa com a Secretaria de Educação e com a rede particular de ensino. A intenção é que uma equipe nossa vá até os colégios apresentar o museu para professores e alunos, que, em seguida, serão convidados a virem aqui. É uma proposta de trabalho contínuo.