Os livros podem ser verdadeiras portas para entender o mundo, a si mesmo e criar pontes entre diferentes realidades. Na literatura brasileira, há diversos exemplos de criações que geram justamente isso, e que são reconhecidas por sua qualidade. No mundo inteiro, há exemplos de lançamentos que encantaram os leitores e que apresentaram novas possibilidades e experiências. Nesta lista, a Tribuna traz dez livros para ler e presentear neste final de ano, que rememoram parte dos acontecimentos ocorridos, foram lançamentos de destaque e também podem apresentar caminhos para se pensar o mundo em 2024.
Oração para desaparecer, de Socorro Acioli
Socorro Acioli aproveita histórias reais um tanto estranhas e incomuns para o exercício da criação. É o que acontece em ‘Oração para desaparecer’, seu mais novo romance, que começa a partir de uma igreja no Ceará que ficou submersa na areia durante anos. A trama, então, se volta para a história de Cida, uma mulher que perdeu sua identidade e memória, aparecendo em Portugal sem saber o que realmente aconteceu com ela – mas precisa reconstruir sua vida mesmo assim. Ao longo dessa jornada, conhece Jorge, por quem se apaixona inesperadamente, mas sabe que teve um outro amor que não pode alcançar mais. Misturando memória, religiosidade e buscas ancestrais, este livro tece ligações entre fronteiras e nos ajuda a repensar a própria história.
Mau hábito, de Alana S. Portero
Nos anos 1980, na periferia de Madri, a heroína foi uma droga que devastou diversas famílias, enquanto a violência e a pobreza também arrasavam vidas. Ao mesmo tempo, esse momento foi de efervescência cultural e, para a protagonista, de descoberta. A obra, narrada em primeira pessoa e inspirada nas experiências da autora, fala sobre se entender uma mulher trans a partir das outras mulheres que a cercavam, assim como as dificuldades para entender a própria identidade e ainda as dores envolvidas nesse processo.
Pagu: autobiografia precoce, de Patrícia Galvão
Pagu foi a homenageada da Festa Internacional de Literatura de Paraty em 2023. Este livro é uma autobiografia da escritora, jornalista, militante e importante figura do modernismo, escrita ao longo de uma das vezes mais dramáticas em que ela esteve presa. No texto, Patrícia fala sobre a própria história de forma sincera e corajosa, contando sobre a sua maternidade, relacionamentos, experiências dentro do Partido Comunista e visões de mundo.
Palestina, de Joe Sacco
Em 2023, o conflito entre Israel e Palestina tomou novos rumos e chamou a atenção de todo o mundo. Este livro foi escrito nos anos 90, por um jornalista que realizou extensa pesquisa e diversas entrevistas na região da Faixa de Gaza e Cisjordânia, com mais de 100 pessoas, se aprofundando sobre como esses locais foram sendo dominados ao longo dos anos. A obra é considerada um clássico do ‘jornalismo em quadrinhos’, e recebeu diversos prêmios por sua originalidade e relevância histórica.
O que é meu, de José Henrique Bortoluci
José Henrique Bortoluci começa a escrever sobre a história de sua família, a partir da sua relação com seu pai, quando ele adoece de um câncer. Nesse momento, faz diversas entrevistas em Jau, sua cidade natal, com o homem que durante cinquenta anos foi motorista de caminhão, para retraçar a história recente do país e da própria família. Nessa investigação sensível, as marcas que vão aparecendo no corpo do pai também fazem com que ele reflita sobre a própria trajetória, como um trânsfuga de classe, e entenda mais sobre os caminhos em comum que os dois possuem.
O gosto amargo dos metais, de Prisca Agustoni
Os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho inspiraram essa obra de Prisca Agustoni, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora. A partir da lama e das ruínas deixadas, e ainda das pessoas que sobrevivem ao desastre, ela escava uma história sobre o que resiste e o que se perde a cada tragédia como essa. Com teor testemunhal e uma linguagem inventiva e primorosa, essa obra de poesia recebeu o Prêmio Oceanos de 2023 nesta categoria, um dos maiores dos países de Língua Portuguesa.
A outra filha, de Annie Ernaux
A vencedora do Nobel de Literatura de 2022 recebeu o convite para participar de uma coleção francesa em que deveria fazer uma carta que não havia sido escrita antes. A partir desse estímulo, fala pela primeira vez diretamente com a irmã que nunca conheceu, porque morreu aos 6 anos, antes dela ter sido nascida, e sobre a qual nunca tinha ouvido falar até que escuta, da boca da mãe falando com outra pessoa, que sua irmã “era mais boazinha” do que ela. Sendo assim, da mesma forma em que suas outras obras, ela se dedica a entender os significados da ausência da irmã para a própria vida, a relação com os pais e a forma que aquela comparação implícita moldou o seu ser.
Banzeiro Òkotó, de Eliane Brum
Eliane Brum é a jornalista mais premiada do país, e há cerca de cinco anos passou a morar na Amazônia e a se dedicar profundamente às questões que envolvem a maior floresta tropical do planeta e os povos que moram nela. Este livro mistura reportagens, pesquisas e relatos pessoais que sinalizam as transformações que esse território (e também a autora) passou, assim como as belezas da Amazônia e as reflexões sobre os caminhos que ainda são possíveis de traçar para mudar a realidade da floresta e do mundo.
Engenheiro fantasma, de Fabrício Corsaletti
Fabrício Corsaletti assume a voz de Bob Dylan para narrar uma temporada de exílio voluntário que o músico teria vivido em Buenos Aires. São 56 sonetos criados a partir dessa experiência, misturando noites boêmias, bairros, museus, personagens, cafés e experiências do compositor a partir desse olhar lírico e poético. A partir dessa experiência única na poesia brasileira, algo emerge que mistura de vez o que os dois poderiam ter em comum. A obra ganhou o prêmio de Livro do Ano do Jabuti.
Primeira pessoa do singular, de Haruki Murakami
Haruki Murakami é, há anos, um dos mais celebrados escritores contemporâneos e uma grande voz da literatura japonesa. Nessa coletânea de contos, diversos elementos persistentes de sua obra são tateados, a partir de histórias narradas em primeira pessoa e que revelam um olhar singular sobre o mundo. Gatos, jazz, memórias, solidão e paixões são alguns dos temas que rondam essas histórias, que possuem uma aura leve e diferenciam tanto a voz do autor.
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