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Clássico da literatura sci-fi, “Duna” volta aos cinemas

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Timothée Chalamet interpreta o protagonista, Paul Atreides, treinado por sua mãe (Rebecca Ferguson) para ser O Escolhido (Foto: Divulgação)
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“Duna”, o mais novo filme do diretor Denis Villeneuve, chega aos cinemas nesta quinta-feira com o desafio de, enfim, entregar uma adaptação digna para o romance homônimo de Frank Herbert, considerado um dos maiores clássicos da ficção científica. O livro, lançado em 1965, estava no radar de Hollywood desde os anos 70, mas as tentativas de Alejandro Jodorowski e Ridley Scott de adaptar a história não saíram do campo das ideias. A primeira versão cinematográfica ganhou vida em 1984, com direção de David Lynch, mas foi um fracasso retumbante de público e crítica – quem quiser encarar, ela está disponível nas plataformas de streaming.

Conhecido por ter dirigido longas de sci-fi como “A chegada” e “Blade Runner 2049”, Villeneuve conseguiu convencer os executivos da Warner Bros. e da produtora Legendary a não repetirem o erro de Lynch, que tentou condensar as mais de 800 páginas do livro em apenas um filme. Com isso, o épico espacial deverá ter uma segunda parte – ainda a ser filmada – para fechar a história, e o cineasta pôde gastar os 148 minutos do longa (11 a mais que a versão de David Lynch) para contar a primeira parte do livro.

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Assim como o filme de 1984 tinha elenco estelar (Patrick Stewart, Max von Sydow, Kyle MacLachlan, Sting, Virginia Madsen), a nova adaptação não economiza nos nomes de peso, entre eles Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jason Momoa, Stellan Skarsgård, Zendaya, Javier Bardem, Dave Bautista, Charlotte Rampling e Josh Brolin.

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Jogo de intrigas, poder e religião

Vencedor do Hugo Awards – principal premiação de fantasia e ficção científica – em 1966, “Duna” teve sua história estendida em outros cinco livros e um conto escritos por Herbert antes de sua morte, em 1986, além de novos capítulos escritos posteriormente por seu filho Brian, em parceria com o escritor Kevin J. Anderson. A saga espacial é considerada um clássico do gênero ao abordar temas como política, religião, tecnologia, ganância e ecologia, assunto que não tinha na época a relevância que alcançou nos últimos anos.

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Com roteiro escrito pelo próprio Denis Villeneuve em parceria com Eric Roth e Jon Spaihts, a primeira parte da nova versão cinematográfica de “Duna” vai agradar ao fã que aguardava fidelidade em relação ao original. A trama é passada milhares de anos no futuro, em que o imperador Shaddam IV, da Casa Corrino, governa o Imperium num sistema em que várias Casas comandam sistemas estelares num regime próximo ao do feudalismo da nossa Idade Média.

Nesse mundo futurístico, a principal fonte de poder vem da chamada Especiaria, que prolonga a vida e consciência de seus usuários e é também a única forma da humanidade conseguir realizar viagens espaciais de longa distância, monopolizadas pela Guilda. Por isso, é considerada a commodity mais valiosa do universo e fonte de toda sorte de intrigas e traições, ainda mais porque ela só existe no desértico planeta Arrakis. Logo, o responsável por sua mineração possui grande poder e fortuna.

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Por décadas, a Casa Harkonnen, uma das mais poderosas do Imperium ao lado da Casa Atreides, tinha o monopólio da exploração da Especiaria. O Imperador, porém, sente-se ameaçado pela crescente popularidade do Duque Leto Atreides (Isaac), governante do planeta Caladan, que comanda um poderoso exército. Por isso, ele entrega a licença de mineração para a Casa Atreides já tendo um conluio com o Barão Vladimir Harkonnen (Skarsgård) para trair e matar o Duque.

Leto, entretanto, desconfia das intenções do soberano, e por isso muda-se para Arrakis com seu exército, os principais conselheiros, a concubina Lady Jessica (Ferguson) e o filho, Paul Atreides (Chalamet), o protagonista da história. Desde cedo, o jovem é treinado pela mãe para desenvolver suas habilidades sobre-humanas, entre elas a presciência e a capacidade de se fazer obedecido ao usar A Voz, pois ela acredita que ele é o Kwisatz Haderach – ou O Escolhido – aguardado há séculos pela Bene Gesserit, poderosa e influente ordem religiosa da qual Lady Jessica faz parte.

Em seu novo lar, Leto Atreides – preocupado com a traição iminente – procura estabelecer boas relações com os Fremen, habitantes originais do planeta e conhecidos por serem indomáveis, guerreiros ferozes e por “cavalgarem” os gigantescos vermes de areia. Os nativos, entretanto, não são fáceis de se convencer, mas serão fundamentais para que a profecia do Kwisatz Haderach se torne realidade.

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Longa tem elenco com nomes de peso, como Josh Brolin (à esquerda) e Oscar Isaac (Foto: Divulgação)

Fidelidade na adaptação

Encarar a adaptação de um livro tão denso e complexo é missão das mais difíceis, mas pode-se dizer que Denis Villeneuve conseguiu não repetir os erros do “Duna” de 1984, sendo o primeiro grande acerto dividir a trama em dois filmes. Dessa forma, o diretor pôde, ao mesmo tempo, cortar muito da obra original e dar ritmo ao filme, que segue lento, mas não arrastado.

Aos poucos, o cineasta vai movendo as peças no tabuleiro de intrigas e traições do universo criado por Frank Herbert, apresentando personagens e suas motivações, contextualizando o panorama político e religioso. A complexidade das tramas de bastidores e os diálogos cifrados mantêm o suspense em relação às esperadas traições e reviravoltas.

A adaptação também é bem-sucedida no desenvolvimento dos personagens, um dos problemas do livro. Enquanto na obra de Frank Herbert é difícil se preocupar ou desenvolver empatia por eles, o filme os torna mais humanos – neste ponto, Lady Jessica é a maior beneficiada, pois perde quase totalmente a insuportável arrogância do material original. Como um todo, o elenco se sai muito bem em seus papéis; porém, quem ainda sofre é o Paul Atreides de Timothée Chalamet. Além da sua jornada do herói não ter peso, a impressão que se tem é que suas habilidades sobre-humanas foram desenvolvidas sem maiores dificuldades, e até mesmo a sua predestinação parece ser encarada como algo banal, pois o momento em que ele encontra o propósito de sua existência carece de carga dramática.

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Na parte técnica, “Duna” é um verdadeiro espetáculo visual. Os efeitos especiais e o design das naves espaciais são fabulosos, assim como o figurino, a fotografia de Greig Fraser e todo o design de produção. A trilha sonora de Hans Zimmer também entrega ao filme de Villeneuve a grandiosidade que ele pretende entregar ao público.

Se pensarmos em outros clássicos da ficção científica como “2001” e “Blade Runner”, “Duna” não parece, num primeiro momento, ter força para se tornar uma das produções inesquecíveis do gênero. Porém, Denis Villeneuve mostrou competência para realizar uma excelente adaptação de um livro marcante pela trama e complexidade, com qualidades suficientes para aguardarmos por sua continuação.

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