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Quebrando Tabus

Mc Xuxú: "Saí do show com o dobro da energia que tentei passar para elas" (Foto: Matheus Engenheiro/Divulgação)
Mc Xuxú: “Saí do show com o dobro da energia que tentei passar para elas” (Foto: Matheus Engenheiro/Divulgação)
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Na última semana, um inusitado grupo de mulheres de Juiz de Fora pôde resgatar o sentido original do Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março: a luta feminina pela conquista de direitos. Num cenário improvável, a penitenciária feminina Ariosvaldo Campos Pires, situada no Linhares, as presas assistiram, como parte da programação do mês da mulher, ao show da funkeira MC Xuxú, fenômeno na internet e ativista na luta contra os mais diversos tipos de preconceito.”Para mim, uma cantora negra transexual de periferia, é muito importante fazer este show aqui, sendo reconhecida como mulher, e poder oferecer algo a essas mulheres que estão privadas de suas liberdades, mas nunca de seus direitos”, diz a artista.

A apresentação foi realizada durante o banho de sol das presas, e Xuxú e seus bailarinos, Wally Castro e Rodrigo Medsan, fizeram sua performance em um palco improvisado no chão, com um tecido estendido, onde mostraram suas coreografias para o público, que vibrou a cada nova música e acompanhou os passos dos artistas. “Eles passaram pra gente que não tem diferença entre as pessoas, porque eu sou preta, ela é branca, ela é morena, e outra é homossexual. Eles receberam a gente com carinho, amor, alegria, dando uma expectativa pra gente que diz ‘tu vai vencer’ (sic).”, disse Daniele Jacinto Bastos, uma das detentas mais animadas, que chegou a dançar no palco improvisado ao lado de Xuxú e dos rapazes.

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Para Alexandra de Souza Cesário, que também cumpre sua sentença na penitenciária, o show deu uma injeção de autoestima nas detentas, além de também fomentar a esperança de uma vida melhor após o cumprimento da pena. “Foi um baque: um show de funk na cadeia? Para mim, foi muito bom. A gente fica aqui de baixo astral, longe da família, longe da rua, e aí receber algo assim levanta a gente, alerta que é para seguir em frente, dá exemplo de um futuro melhor. Quem sabe a gente não pode sair daqui uma cantora também?, diz ela, que também se acabou de dançar durante a apresentação. “A Xuxú me chamou para dançar com ela, e eu pensei: ‘Gente, quem sou eu para dançar com você?’ Me senti importante, valorizada.”

Segundo o psicólogo da unidade prisional, a intenção em promover este tipo de evento tem justamente este objetivo: valorizar as mulheres que estão cumprindo pena e atuar em prol de sua ressocialização. “A Xuxú foi escolhida a dedo por isso: tem uma história de superação: é transexual, negra, da periferia, é uma dupla homenagem: a ela e às detentas. E também porque ela compõe as próprias letras, que cantam a paz, a justiça e a liberdade, algo que está em consonância com a política de ressocialização prevista para as sentenciadas. É uma preparação para que elas retornem à sociedade: elas estão pagando pelo que fizeram, e a aposta é que saiam pessoas melhores, otimistas e capazes de viver em uma cultura de paz.”

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Se o efeito foi positivo para as detentas, o mesmo se pode dizer sobre quem estava no palco. “Já fiz show em casa de grã-fino, e muitas vezes eles te olham de cima. Cheguei na penitenciária insegura porque não conhecia o lugar, mas fui recebida com uma energia e um carinho tão grandes que logo perdi a timidez. Saí do show com o dobro da energia que tentei passar para elas. E sei que elas gostaram”, diz MC Xuxú. “Viemos para doar algo, mas recebemos muito mais. Como artista, foi uma experiência muito importante. Dá aquele nó na garganta poder ter passado a mensagem para elas de que é possível viver de seus sonhos”, completa o bailarino Rodrigo Medsan. “Estamos acostumados a fazer shows em casas noturnas, para pessoas que já estão ali com um propósito: festa, noitada. Mas este público estava ali para receber nada além de nosso carinho, e elas foram muito carinhosas. Não sabia como seríamos recebidos, porque cada um tem seu estilo musical preferido, e trouxemos não apenas o funk, mas o funk feito por homossexuais. E a receptividade foi incrível, não dá para dizer a importância de ter feito parte disso”, diz Wally Castro.

“A Xuxú está mostrando que não tem preconceito, porque é o dia dela, dia da mulher. E nós seguimos aqui batalhando. Tenho bom comportamento e nada do que reclamar. Meu conselho é que as outras presas andem no caminho certo, que tudo vai dar certo. Nossa liberdade ‘tá’ chegando”, disse Alexandra de Souza, ao relembrar a apresentação da funkeira. “O que vai ficar deste dia é o carinho. O carinho de todos eles com a gente”, completa Daniele.

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