Antes do início da cerimônia, Oswaldo Braga – organizador do evento com o marido, Marco Trajano, que morreu em 2021 em decorrência da Covid – comemorava o retorno ao Parque Halfeld e o público que compareceu ao primeiro dia da festa, que voltou a acontecer de forma totalmente presencial após não ser realizada em 2020 e no formato híbrido ano passado, devido à pandemia.
“Ontem (sexta-feira) tivemos a praça lotada, com cerca de três mil pessoas e sem incidentes ou qualquer tipo de problema. Percebemos um clima alegre, de reencontro, como há muito tempo não via. Foi muito bom, lindo demais, com shows maravilhosos, e acho que hoje vamos arrebentar.”
A animação era compartilhada pelo público. Morando há 31 anos em Juiz de Fora, Paulinho da Borboleta, 57 anos, participa todo ano da Rainbow Fest. “O reencontro é sempre especial, e pra gente é uma felicidade imensa poder se reencontrar depois de dois anos de toda essa pandemia”, diz, acrescentando que estará presente no Miss Brasil Gay.
E não apenas os moradores de Juiz de Fora comparecem e prestigiam a Rainbow Fest. Kyra O’Neal veio com amigos de Maricá, no estado do Rio e vai passar o final de semana na cidade, tendo se hospedado em um hotel. “Estou adorando o retorno da festa e também o retorno à praça, pois venho à Rainbow Fest há mais de 20 anos. Dá mais espaço e liberdade para as pessoas, ainda mais porque ainda estamos no meio da pandemia.”
Discursos em defesa da democracia e do orgulho LGBTQIA+
A cerimônia de abertura teve início às 14h30, com discursos de integrantes de movimentos LGBTQIA+, políticos e artistas. Rodolfo Carlos, do Movimento Gay de Minas (MGM), destacou a alegria de poder falar no evento depois de dois anos de pandemia e acrescentou que este é um momento muito especial, pois é ano de eleição.
“É importante falar ‘eu sou gay, LGBTQI+, e mereço fazer parte da sociedade.”
A drag queen militante Salete Campari também discursou, e foi mais um nome a reforçar a importância do momento político atual. “Este ano é preciso gritar, porque se estamos aqui é porque estamos vivos. Fazer evento para público LGBTQ é difícil, e quando uma prefeitura apoia é preciso bater palmas. E é importante votar em candidatos LGBTQ que não tenham vergonha de estar com a gente”, afirmou.
A diretora-geral da Funalfa, Giane Elisa Sales de Alemida, também discursou no evento. “Para nós é uma alegria ver a praça cheia, ressignificando um espaço que é para todos. Como cidadã, tenho que agradecer a quem defende os direitos de todas as pessoas.” Já o secretário de Turismo, Marcelo do Carmo, pontuou que este é um momento muito importante para o turismo da cidade. “Depois de dois anos, Juiz de Fora volta a ser uma cidade multicor. Esse é um momento de democracia; como o Caetano Veloso cantou, “a praça é do povo como o céu é do condor.”
O secretário de Comunicação, Márcio Guerra, falou em nome da prefeita Margarida Salomão. “Temos uma cidade que é pioneira em vários aspectos, e a prefeita Margarida pediu para lembrar a todos que a cidade teve um cidadão chamado Jairo, que desfilou de baiana nos anos 40 na primeira escola de samba de Minas Gerais, a Turunas do Riachuelo. É preciso lembrar também do trabalho do Zé Kodak, do Marco Trajano”, disse, lembrando que que a Prefeitura deu todo o apoio à Rainbow Fest e ao Miss Brasil Gay, além de ter seu secretariado dividido entre homens e mulheres e várias pessoas LGBTQ na equipe administrativa.
Depois dos discursos, do hino nacional e de uma apresentação da cantora Sandra Portella, Oswaldo Braga pediu um minuto de silêncio a todos que morreram por causa da Covid-19, incluindo seu marido, que teve imagens exibidas no telão durante o minuto de silêncio.
“Uma característica que a Rainbow Fest vai ter daqui para frente é a saudade do Marco Trajano, mas também temos o retorno ao Parque Halfeld, que era um sonho dele e vimos que estava certo, porque está lindo. É uma festa democrática porque reúne todas as letras do nosso movimento. Há 24 anos realizamos a Rainbow Fest, e ainda hoje precisamos defender uma coisa básica que é a democracia”, discursou.
Uma tradição que foi quebrada com a morte de Trajano foi o beijo que ele e Oswaldo davam para marcar a abertura do elenco. Ele foi substituído, pelo menos este ano, por um abraço coletivo antes da contagem regressiva. Depois, os DJs voltaram a tocar e colocar o público para dançar, antecipando as apresentações das drag queens.