“Trancinhas” é um curta-metragem de Mariana Stolf. A história, no entanto, é contínua, sobretudo entre as meninas adolescentes que vivem os conflitos da idade. O filme, na verdade, é muito mais sobre as memórias femininas que propriamente sobre a adolescência, já que resgata e retrata os sentimentos de uma jovem confusa em suas próprias emoções e os de uma mãe solteira que também tem suas rebeldias veladas. A pré-estreia do curta acontece nesta quinta-feira (21), às 19h30, no Teatro Paschoal Carlos Magno. Três outras produções, assinadas por mulheres, também serão exibidas no dia: “Vida dentro de um melão”, de Helena Frade; “Meu arado feminino”, de Mariana Polidoro; e “Cyclone”, de Pri Helena. Renato da Lapa e Stella Maria Flor, que assinam a trilha sonora de “Trancinhas”, fazem pocket show de abertura.
Mariana tirou inspiração de sua própria vivência para escrever “Trancinhas”. O nome, inclusive, surge disso. De acordo com ela, quando era mais nova, em Ubatuba (SP), cidade onde cresceu, existia uma espécie de “gangue” formada por meninas de trancinhas que arrumavam confusão constantemente. “O meu roteiro foi apenas inspirado nelas. A subjetividade das personagens foram criadas a partir das minhas experiências. Gosto da ficção porque é permitido misturar vivências pessoais com a imaginação. Acredito que toda história conta um pouco sobre quem escreveu.” Para isso, ela ainda buscou referências em outras produções audiovisuais com temática parecida, em nomes como Greta Gerwig, Eliza Hittman, Larry Clark e Pamela Adlon.
Sina da adolescência
O enredo tem como ponto principal a dificuldade que as meninas enfrentam para se expressar e as formas que elas encontram de lidar com isso, por exemplo, furtando objetos pessoais ou sendo rude com pessoas próximas. “Tudo isso não passa de uma casca protetora e de tentativas de se encaixar em um lugar no mundo”, acredita Mariana. “Procurei retratar em ‘Trancinhas’ um pouco da fase da adolescência de meninas que não se identificam com os padrões normativos sociais”, completa.
As amigas da personagem principal usam as trancinhas, que Mariana acredita ser um marco identitário nessa fase. A própria protagonista também usa, mas, ali, ela ainda revela a relação entre mãe e filha, o que se torna, para ela, um outro tipo de marco. Essa relação, para Mariana, é o pano de fundo da história do filme. “Procurei expor um pouco sobre a faceta do ser mãe solteira. A mãe, como qualquer adulto, expressa suas próprias rebeldias, incompreendidas e desaprovadas pela filha. Enquanto a filha, em uma das fases mais confusas da vida, que é a adolescência, sente-se rejeitada pela mãe, sendo incapaz de compreender as diversas formas possíveis de expressão do cuidado materno.”
Adaptações possíveis
A ideia do roteiro surgiu quando Mariana ainda estava na graduação. O processo, então, foi longo, já que tempo depois foi aprovado pela Lei Municipal Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, na edição de 2019, e, então, precisou ser gravado mais tarde, por causa da pandemia. Algumas ideias foram sendo reelaboradas com ajuda da equipe, majoritariamente composta por mulheres. Uma delas, como lembra, era que as meninas das tranças, no final do curta, teriam o cabelo raspado, mas, para um edital de baixo custo, seria difícil representar isso. Outra mudança foi a locação. Como “Trancinhas” é permeado pelas memórias da infância da diretora, o roteiro original tinha as praias como parte do enredo. Elas, no entanto, precisaram ser adaptadas para Juiz de Fora, e se transformaram em parques para viabilizar o projeto, mantendo o mesmo sentimento de quando foi escrito – apesar do distanciamento. E todas essas discussões foram sendo debatidas por videochamadas, já que as condições impossibilitaram os contatos presenciais até para a preparação de elenco.
Este é o primeiro filme de Mariana. “Eu estava experimentando abertamente como dirigir, como escrever um roteiro.” E, para ela, o diálogo com a equipe foi parte essencial para tirar disso aprendizado e entender como se faz, verdadeiramente, um filme. Foi a partir disso que se deu a ideia de fazer a mostra com os outros três filmes, já que eles foram dirigidos por mulheres que fazem parte da equipe de “Trancinhas”. “O legal é que cada uma de nós tem uma linguagem diferente. A gente achou interessante essa ideia de nós, enquanto mulheres, nas linguagens que a gente tem, mostrar nossos pensamentos através dos filmes. E é um lugar aberto para conversa, para refletir o que pode ser tirado daquilo.”