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Paulo César Pinheiro fala de sua carreira em documentário

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Paulo César Pinheiro compôs cerca de duas mil canções, mais de metade delas registradas em disco (Foto: Divulgação)
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Poucos artistas foram tão importantes para a música brasileira e permaneceram tão discretos quanto Paulo César Pinheiro. Ele compôs, em quase seis décadas de carreira, cerca de duas mil canções, mais de metade delas registradas em disco, gravadas por mais de 500 cantores. Entre os mais de cem parceiros que teve em sua trajetória estão Baden Powell, Tom Jobim, João de Aquino, Pixinguinha, João Nogueira, Raphael Rabello, Edu Lobo, Francis Hime. Clássicos da MPB que levam sua assinatura são muitos: “Canto das três raças”, “Sagarana”, “Mordaça”, “Portela na avenida”, “Tô voltando”, entre tantas outras, interpretados por artistas como Clara Nunes, Elis Regina, Elizeth Cardoso, MPB-4 e Simone.

Com esse currículo praticamente inigualável, o cantor, compositor, escritor e poeta carioca de 72 anos já havia ganhado duas biografias, e agora teve sua vida e carreira levadas para o audiovisual no documentário “Paulo César Pinheiro – Letra e alma”. O longa dirigido por Cleisson Vidal e Andrea Prates teve sua estreia na edição virtual deste ano do Festival É Tudo Verdade, que aconteceu em abril. O longa também foi selecionado para o In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, que acontece em junho também no formato on-line, e em agosto estreia no canal por assinatura Curta! e na plataforma de streaming do canal, o TamanduáTV.

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Ex-aluno do curso de comunicação da UFJF, Cleisson Vidal conta que a ideia do projeto surgiu em 2012, quando ele e Andrea Prates haviam terminado a produção de “Dino Cazzola: Uma filmografia de Brasília”. “A Andrea disse: ‘O Paulo é um sujeito incrível, pouco documentado, que tem um trabalho no imaginário popular'”, relembra. “Embora tenha subido aos palcos, ele nunca foi um artista de ponta. O Paulo fez espetáculos marcantes, mas sempre foi mais de escrever as letras. Como o intérprete tem maior projeção – e há esse descolamento das autorias -, pensamos numa proposta memorialista, de trazer à tona um artista de 72 anos e até hoje com potencial criativo, porém com trajetória pouco conhecida.”

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A proposta, porém, teve o primeiro passo apenas em 2014, quando entraram em contato com Paulo César Pinheiro, e o contrato para a produção foi assinado no ano seguinte. Depois, foram três anos para conseguir captar os recursos. As entrevistas, cerca de dez no total e com duas a três horas de duração cada, em média, foram realizadas entre 2018 e 2019. Inicialmente, Cleisson e Andrea pensaram em levar Paulo César para encontrar alguns de seus parceiros pelo país, para registrar essas conversas, além de rodas de samba e bate-papos no Rio de Janeiro, mas Paulo César preferiu que fossem feitas apenas as entrevistas em sua casa. “Ele disse: ‘Não estou a fim de viajar, não quero sair, meu canto é minha casa, aqui me sinto confortável’. Foi um desafio. Ficamos preocupados que isso pudesse ficar chato, mas ele é um grande contador de histórias. O Paulo é aquele sujeito que está ali, que tem sua vaidade mas sabe que trabalhou com outros artistas, não pega os louros apenas para si, fala dos outros com carinho e respeito muito grande, e traz a legitimidade de cada parceiro dele”, conta.

Pesquisa em arquivos: ainda um desafio

O primeiro documentário de Cleisson foi lançado em 2005 e era sobre uma banda de presidiários do Rio de Janeiro, e desde então trabalhou em vários outros – período suficiente para avaliar o quanto o desenvolvimento tecnológico e digital podem auxiliar na pesquisa documental. Na sua opinião, o acesso à internet ajuda “até a página dois ou três”. “Nem todos os bons arquivos estão expostos. O que há de mais precioso na Cinemateca Brasileira não está digitalizado, ou, se está digitalizado, não está no site. Claro que facilitou em relação há 20 anos, mas ainda não é algo simples”, analisa. “Para fazer pesquisa em arquivo internacional realmente ficou mais fácil, mas no Brasil ainda é um problema. A nossa luta, hoje, é para não perdermos esses arquivos por negligência, incompetência ou burrice. Estamos nessa luta.”

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Com o material em mãos, o documentário de Cleisson e Andrea condensou as dezenas de horas de entrevista – mais as imagens de arquivo – em um documentário de pouco mais de 80 minutos de duração, majoritariamente em preto e branco, com a edição pegando os depoimentos de Paulo César Pinheiro para contar sua trajetória de forma linear, partindo do seu nascimento e passando pelas primeiras poesias e parcerias. O longa mostra ainda diversos momentos da vida e obra do artista, como os problemas com a censura durante a ditadura militar, os espetáculos marcantes nos anos 1970 e a ligação com o samba, entre outros.

A decisão pelo preto e branco, segundo Cleisson, veio das entrevistas. “A gente fez testes com a montadora (Léa Van Steen, que também escreveu o roteiro com Andrea Prates), que sugeriu que ficaria esteticamente interessante que as entrevistas ficassem em preto e branco para uniformizar as imagens, pelo fato de terem sido feitas em dias diferentes, e que as poesias fossem apresentadas coloridas”, explica. A opção pelo formato linear se deu, entre outros motivos, pelo fato de o projeto ser direcionado para televisão. “Não que a TV seja um espaço de linguagem tradicional, mas seu público é muito maior e muitas vezes não conhece a trajetória dele. Então havia a preocupação de que o documentário fosse mais acessível.”

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Repercussão

Antes do contato para o documentário, Cleisson Vidal não conhecia Paulo César Pinheiro pessoalmente, mas sabia da sua importância para a história da música brasileira. O desafio dele e de Andrea, aponta, era traduzir e mostrar a potência da obra do artista carioca em um filme de 80 minutos – algo que acredita ter sido alcançado, pelo retorno que vem tendo das audiências que assistiram ao filme, a começar pelo protagonista do longa. “O Paulo ficou muito feliz com o resultado do filme, ele se sentiu representado. E uma coisa que me encantou foi o retorno que tivemos, com muitas mensagens de pessoas que ficaram encantadas com o Paulo e com o documentário. Gente que dizia conhecer algumas obras, mas não sabia da dimensão de toda a obra dele e ficaram emocionadas”, diz. “Dessas mensagens, muitas eram de pessoas dizendo que iam dormir mais leves depois de assistirem ao filme, e isso enche meus olhos de água. Talvez num outro momento, como há cinco anos atrás, em que as pessoas estavam preocupadas com as próprias vidas, seria apenas mais um filme, e nesse momento de carência coletiva estamos tendo o retorno de pessoas que não conheço. Para mim, essa é a grande beleza.”

 

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