A cultura hip hop nasceu na rua e é feita para ela. A ocupação dos espaços urbanos é quase indissociável dos quatro elementos que formam a manifestação: o break, o grafite, os DJs e o rap. Aqui em Juiz de Fora, os grafites estão visíveis nos mais variados espaços, independente da região. Os outros, no entanto, precisam de um movimento maior para serem vistos. Neste domingo (19), a partir das 9h, o recém-inaugurado viaduto Hélio Fádel se tornará o “Espaço Hip Hop”: uma ocupação que vislumbra a utilização desses ambientes considerados “underground” para promover e incentivar eventos culturais na cidade. No dia, com palco aberto, os quatro elementos estarão presentes, com elaboração de grafites ao vivo, batalha de break all style, discotecagem, apresentações de rap e slam de poesia.
O evento está sendo produzido pelo coletivo Espaço Hip Hop. Quem está à frente da organização é Stain, articulador cultural, b-boy (dançarino de break), grafiteiro e artista plástico. Antes mesmo da inauguração do viaduto, os trabalhos de Stain e Pekena, também grafiteira, já coloriam o espaço. Ele diz que, quando foi grafitar, já esperava pela inauguração para produzir um evento dessa ordem, que ocupasse aquele espaço e fizesse dali um lugar fixo para tais ações. Stain contou que, enquanto estava fazendo o grafite, ouviu essa sugestão de outras pessoas que transitam por lá. Fazer do viaduto um lugar cultural valorizaria a área e minimizaria riscos que já são vistos em equipamentos urbanos similares.
A proposta inicial era fazer uma série de intervenções físicas no espaço, que contribuíssem para que ele fosse ideal para esse tipo de evento. Esse projeto foi inscrito no edital “Quilombagens”, do Programa Murilo Mendes, mas acabou não sendo aprovado. Mesmo assim, Stain tinha vontade de fazê-lo acontecer de alguma forma. Não é de hoje que ele desenvolve esse tipo de ocupação. Depois de algumas articulações, a sugestão encontrada, com o apoio da Funalfa, foi fazer um primeiro evento-teste para averiguar as possibilidades. Além disso, ele vai funcionar como uma extensão da feira da Avenida Brasil, que é por si só um clássico na cidade.
Reivindicar os espaços públicos
“A gente quis reivindicar um espaço para a nossa cultura. Mas não fazer dele apenas um lugar de hip hop, mas, sim, para diversas outras culturas que têm dificuldade de fazer eventos por não ter lugar para isso. Esse de domingo vai acontecer para a gente mostrar que quer ocupar e é possível, que ali pode ser um espaço de cultura, que vai tanto ajudar o hip hop em si quanto a cidade”, diz Stain. Além disso, ele completa que o “Espaço Hip Hop” vai ser um momento de matar a saudade desse tipo de evento que, por ser na rua, não pôde acontecer na pior fase da pandemia. É também, de acordo com ele, a oportunidade de articular e sonhar em um próximo ano com um propósito melhor.
Além de Stain, o coletivo Espaço Hip Hop é formado pelos B-boys Boiz Killa, Kels, DJ Anditaum e Ghusta, e também pela arquiteta Gabriela de Morais.