Ícone do site Tribuna de Minas

Sambistas de Juiz de Fora tentam emplacar samba-enredo na Beija-flor

SAMBA 09 interpretes e torcida
No ano passado, o grupo reunia cariocas e mineiros e conseguiu chegar à semifinal (Foto: Arquivo Pessoal)
PUBLICIDADE

Gonguila se tornou Ras Gonguila, lá em Maceió, porque criou o enredo da própria vida. Nascido no século XX, era engraxate e se viu como um dos carnavalescos mais importantes de Alagoas, criando o bloco Cavaleiro dos Montes. Ele sempre ouviu falar das realezas africanas. No rádio, ouviu que o último imperador da Etiópia, Ras Tafari, estava sendo coroado. Gonguila adotou o Ras no nome e assim ficou conhecido: por se sentir também pertencente à realeza. Com o enredo montado na cabeça, o caminho foi dado e sua influência foi cada vez maior. A Beija-flor decidiu homenageá-lo na passarela do próximo carnaval. É uma forma, para eles, de coroar um rei que não foi coroado, apesar de uma vida de sucesso.

A competição para escolher o samba-enredo da escola foi iniciada na última quinta-feira (13). Na quadra, os interessados inscreveram e apresentaram suas canções, dando início, oficialmente, à caminhada rumo à Sapucaí. Na apresentação do tema da folia, a indicação foi para falar de superação e força de vontade, tendo com guia a ideia de que se pode ser quem se quer ser. Entre os vários que tentam emplacar o enredo, estão Carlos Victor Corrêa, conhecido como 2 c’s Soul, Grazi Barbosa, Maycon Sullivan, conhecido como MK Sullivan, e Waldemar da Silva, o Waldemar do cavaco. São sambistas de Juiz de Fora que enxergam em Ras Gonguila uma identificação que vai além do samba.

PUBLICIDADE

Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, 2 c’s Soul mora em Juiz de Fora há anos. Sua família foi a maior inspiração para que ele se enveredasse também pelo caminho da música, com influências, além do samba, no RnB e no rap. Beija-flor é a escola do coração de boa parte de sua casa, e foi a que ele escolheu para torcer. Sempre existiu ali uma vontade de fazer parte da ala dos compositores. “Eu, como compositor, sempre quis viver essa experiência”, confessa. No começo, parecia um pouco distante. Mas, graças ao apoio de Selminha Sorriso, porta-bandeira da escola, no ano passado, ele juntou uma turma para compor um samba e se inscrever no processo.

PUBLICIDADE

O grupo reunia cariocas e mineiros e conseguiu chegar à semifinal. Já naquele momento era a realização de um sonho. “A gente quando ia competir via pessoas aplaudindo. Parecia que já havia uma identificação com que o a gente faz. Mesmo não tendo vencido, foi muito importante isso. Era a nova geração sendo reconhecida pela velha guarda principalmente por causa do amor pela escola.” Neste ano, no entanto, a parte carioca que compôs o samba não ia conseguir se juntar. Eles decidiram, então, fincar no núcleo familiar: o samba, deste ano, foi escrito por ele, junto com sua namorada, seu pai e seu irmão. “Foi na família mesmo.”

Da esquerda para a direita: Maycon Sullivan, o MK Sullivan, Grazi Barbosa e Carlos Victor Corrêa, conhecido como 2 c’s Soul (Foto: Arquivo Pessoal)

Dentro de casa

São tantas as similaridades que, para 2 c’s Soul, foi natural escrever a música, principalmente dentro do núcleo familiar. Primeiro porque fala de um homem que queria ser reconhecido e foi: sonho que ele e sua família trazem desde sempre. Segundo porque fala de Alagoas, lugar de origem de sua avó paterna. É como a junção da vida dele: Alagoas, Rio de Janeiro e, então, Minas Gerais: esse o enredo da própria vida, como Gonguila mesmo escreveu. “A gente traz a ancestralidade da história e da nossa própria família. Nossa família tem uma construção cultural que complementa nossa história e o enredo”, afirma.

PUBLICIDADE

2 c’s Soul tem um desejo ainda maior que simplesmente estar na Beija-flor: ele quer ser um dos agentes de renovação da escola, porque acredita que é isso que mantém o samba vivo. “Todo mundo muda. O samba também muda. Eu sou saudosista porque gosto de colocar, nas letras, a ancestralidade, mostrar quem possibilitou que a gente estivesse aqui. Mas, ao mesmo tempo, quero mostrar que quem faz o presente e o futuro são as pessoas mais novas. A música funciona dessa forma, e por isso precisa haver essa renovação de compositores, com todo o respeito a quem veio antes.”

Formar um grupo de compositores todos de Juiz de Fora, para ele, é também um forma de fortalecer o samba da cidade. “Eu trouxe comigo pessoas que são daqui. É uma forma de mostrar que, quando a gente se junta, a gente chega a lugares mais distantes. Mas a gente tem que se apoiar. A gente lá representa Juiz de Fora e essa nova geração de artistas que seguem levando o samba.”

PUBLICIDADE

Apoio para seguir

Agora, 2 c’s Soul precisa de mais apoio nas próximas fases da competição. Na última quinta, eles apresentaram o samba e, agora, competem oficialmente. Duas chaves foram divididas para as apresentações. Seu grupo, o samba 09, apresenta já nesta próxima quinta-feira (20), em um processo que pode durar meses. Todo as fases são transmitidas ao vivo pelo YouTube da Beija-flor (@BeijaFlorTV). E a torcida é de extrema importância para fortalecê-los na caminhada.

Além de assistir à apresentação na quinta, que está marcada para acontecer às 20h30, 2 c’s Soul pede apoio financeiro para conseguir ir, todas as semanas, ao Rio de Janeiro para participar das fases. As informações de como ajudar estão no Instagram (@samba09beijaflor). “Como a gente não é do Rio de Janeiro, acaba não tendo torcida grande lá. Por isso, é muito importante mostrar que não estamos sozinhos, seja no próprio Instagram na Beija-flor ou nas transmissões”, pede o artista.

Sair da versão mobile