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Anelis Assumpção faz show em Juiz de Fora

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‘Ser mulher me marca com faca amolada’, afirma Anelis (Foto: Divulgação)
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Onze músicas, e o caminho é todo aberto. Cada faixa, um convite ao passeio circular, com direito de passagem de ida e volta, a desvendar as avenidas de São Paulo, o interior da mulher, o profundo da solidão, os devaneios do amor – tudo com o coração na mão, como sua música de abertura sugere e tantos podem ser os significados. O quarto disco de Anelis Assumpção, “Sal”, é, como o nome sugere, elemento que liga, realça o sabor. Um disco diferente de tudo o que a cantora, compositora, percussionista e escritora paulistana já fez. O show, esse contato ao vivo e único, incorpora esse novo. Ele será apresentado neste sábado (20), no Sensorial, a partir das 22h.

É na cozinha o local onde Anelis tem sua criatividade despertada. Isso ela deixou bem explícito em seu disco anterior, “Taurina”, de 2018. Nele, a comida é alimento que desperta, por onde tudo passa. “Sal” não deixa de apontar para esse caminho, mas traz pitadas de outros elementos. A própria forma de ser na pandemia foi alterada. Isso, por consequência, afetou a maneira como se pensa e se produz um disco. “Todo mundo teve que reorganizar as estratégias da vida e da produção. Eu, no primeiro momento, ainda estava em lançamento do meu terceiro disco e foi interrompido. E, naturalmente, composições começaram a surgir, movidas por aquela experiência que foi tão singular e solitária. Eu senti muita necessidade de pluralidade, muito, provavelmente, por estar em um estado de isolamento.”

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Essa vontade de estar ainda mais junto fez com que Anelis, naturalmente, fosse pensando em outras mulheres para fazer parte de seu trabalho. “Fui olhando, observando todo mundo ali. Buscando um lugar, entendendo como seguir existindo na pandemia e trocando muito intimamente com elas. Eu fui trazendo para perto. Até que eu consegui entender que o que eu queria mesmo, e que ia ser muito importante, era que a gente conseguisse inaugurar uma forma de produzir que é feminina, encabeçada por mulheres. Nada mais justo e democrático que cada uma produzir uma faixa.”

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Larissa Luz, Luedji Luna, Céu, Jadsa, Mahmundi, Thalma de Freitas, Dona Anicide, Josyara, Iara Rennó e Maíra Freitas, cada uma delas, imprime sua musicalidade nas faixas, da mesma forma que Anelis se deixa ser registrada. “Isso (a sonoridade de cada uma impressa de maneira democrática) só foi possível porque trabalhar com mulheres é trabalhar de um jeito em que você tem muito mais escuta, compreensão e empatia. Não há essa necessidade instintiva e estranha da masculinidade em impor uma forma. Ou, mais que isso, muitas vezes dar a entender que aquele pensamento ou formato é o mais cabível ou melhor. Então, eu acho que isso deixa bem claro como houve generosidade nas trocas e, havendo generosidade, todo mundo é vista, enxergada no processo. Eu tenho muita noção de que cada faixa tem o que é meu e o que é delas, na composição, no pensamento musical, na escolha de timbragem, enfim. Foi muito leve, foi muito fácil, trabalhar com essas pessoas.” Além das dez mulheres, Curumim assina a última música, “Mais uma volta”.

Ancestralidade, São Paulo e o ser mulher

Entre as composições, Anelis traz uma inédita de sua irmã, Serena, que faleceu em 2016, em decorrência de um câncer. Ela, na verdade, também estava presente no disco anterior de Anelis, assim como o pai delas, Itamar Assumpção. Trate-se pois, como afirma Anelis, de sua ancestralidade, que permeia todos os processos. “A ancestralidade é esse movimento em formato de vai e vem, para frente e para trás, para os lados, para cima e para baixo, o tempo todo. E eu só consigo realmente expandir quando eu tenho esse olhar para trás e para frente, relacionado à ancestralidade. Filho (que também é tema de uma de suas músicas, “Benta”, com Luedji Luna) é ancestral também, vem depois, mas carrega ancestralidade. O tempo todo a gente está se expandindo através dessa conexão, que é eterna, infinita, não tem marco inicial. A gente está em relação com a ancestralidade o tempo inteiro, que seja de qualquer micro-organismo a parentes de sangue.” Não à toa é um tema recorrente em suas canções.

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São Paulo, sua cidade, também se manifesta nas composições de Anelis. Já na primeira canção, “Uva Niágara”, com Larissa Luz, ela faz um passeio pela cidade cruzando as avenidas, encontrando suas belezas. “A cidade que eu habito é a maior cidade da América Latina e eu me sinto muito estimulada por São Paulo, por conviver com muitas culturas diferentes, por ter perto de mim sempre dezenas de pessoas que não nasceram aqui nessa cidade, mas que constroem essa cidade, que fazem com que ela seja o que ela é, que habitam, que amam e se apaixonam por tudo o que São Paulo dá e tira: é estimulante e cansativo”, ri.

Ser mulher e mãe também impacta essa forma de ver o mundo todo – e está aí uma outra inspiração de ser e fazer música. “Ser mulher me marca com faca amolada. Ser mulher nesse mundo é um desafio muito grande para o corpo e para o psicológico de um ser. É de uma força tão grande tudo o que envolve o universo feminino, em todas as suas potências – e isso não se restringe jamais a corpos que menstruam – que não tem como não ser inspirador demais para compor”, assume.

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Cada elemento dessas tantas formas de pensar têm o sal como o elo. É mesmo a liga: entre as mulheres, os corpos, as cidades, as solidões. “O sal representa diversas químicas necessárias e fundamentais. Foi olhando um pouco para isso também que eu achei que era um excelente nome para dar título ao disco, que é o que faz ligações, o que une, realça. Foi por causa dessa ideia, do que é expurgado, limpa e dá gosto, dessa presença no organismo humano e natural na natureza, em tantos aspectos, em tantos lugares, em tantas águas. Acho que é essa a grande síntese”, explica.

Estar no palco

Sobre o show, Anelis diz que traz mesmo um novo formato para dar conta do que é “Sal”. “(O show) tem uma nova formação de banda, com uma proposta de explorar também uma musicalidade de outros lugares, com outros acentos, com outros sotaques. Foi a partir disso que eu redesenhei um pouco como estar no palco, como estar ao vivo com esse trabalho. E eu espero que o show seja lindo. Que a gente consiga levar e ter essa experiência. Porque fazer ao vivo um trabalho é sempre muito gratificante. Poder tocar, cantar e me comunicar ali no presente é único. Eu espero que seja único e belíssimo.”

 

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