Das 12 canções, sete são inéditas em Segunda pele, quinto CD de Roberta Sá, que tem seu nome em uma faixa apenas, No bolso (com o marido Pedro Luís). Antes da dúvida, a cantora potiguar explica sua intenção em produzir um disco enfatizando seu lado mais intérprete. As pessoas já compreenderam que a composição, por enquanto, não é o meu foco, refuta, por telefone, a artista, nos últimos minutos da última entrevista da última tarde de coletiva concedida, ontem, em sua casa no Leblon. Essa é pele da renovação, ela diz sobre o título do álbum a da canção assinada por Carlos Rennó e Gustavo Ruiz. O artista tem que buscar o risco, sem medo. Hoje, por exemplo, estou mais segura, destemida e sem a necessidade de aprovação que tinha durante a divulgação do primeiro disco (2004). Minha alma está virada do avesso.
Consagrada como a melhor cantora de MPB no Prêmio da Música Brasileira, Roberta Sá chegou aos 31 anos e à posição de contar com a direção musical de Rodrigo Campello e direção vocal e de coro de Felipe Abreu. Para dar voz ao projeto, ela reuniu músicas de Caetano Veloso (Deixa sangrar), João Cavalcanti (O nego e eu), Rubinho Jacobina (Bem a sós), Dudu Falcão (Você não poderia surgir agora), Pedro Luís e Mário Sève (Lua), Lula Queiroga (Altos e baixos e Pavilhão de espelhos) e Moreno Veloso, Quito Ribeiro e Domenico Lancellotti (A brincadeira), além de outras.
Mas com tantos bambas nos créditos, como se destacar enquanto intérprete? O meu trabalho é tão interiorizado, artesanal, que não penso em me destacar, e sim o quanto ainda tenho que colocar minha alma para fora, ela ressalta. O que mais me inspira é só ser humano. É o sentir as coisas, um filme, um livro, um poema, um dia de chuva, uma novela. Esse é um disco de reflexões sobre o mundo, apregoa.
Ainda saindo do forno com o apoio do programa Natura Musical, Segunda pele (MP, B Discos e Universal Music) poderá ser saboreado aos poucos, a partir do próximo dia 24, no site da cantora, onde os fãs podem encontrar, além das faixas, vídeos e informações atualizadas, conforme a própria informa. Já a turnê de lançamento começa no dia 1º de março e vai percorrer, inicialmente, capitais como Salvador, Recife, Rio, Porto Alegre e Curitiba. Estou na torcida para voltar a Juiz de Fora, garante ela, entre sorrisos, encerra a entrevista.
A nova pele que habita Roberta Sá – com a licença de Almodóvar – promete mesmo alcançar os poros. Gravado entre julho e novembro de 2011 no estúdio MiniStereo (RJ), o disco, segundo ela, nasceu para arrepiar. Isto porque além da sensualidade da faixa-título e do rastro de requebrado impresso pelo samba de O nego e eu, a exuberante Lua abre o CD com a percussão de A Parede e os sopros orquestrados por ninguém menos que Mario Adnet. Em Esquirlas, em que faz dueto com o uruguaio Jorge Drexler – autor da música -, Roberta desafia a transposição do idioma para gravar, pela primeira vez, em outra língua.
Acertada as contas com o passado e a vontade em seguir desafiando o futuro, Roberta Sá usa o presente para vestir, com prazer, sua Segunda pele, demonstrando ter esta a capacidade para ser muito mais que reveladora e luminosa. É um disco transformador, arremata a cantora, uma das poucas do ramo a ter o privilégio de fazer o CD que sempre quis e com quem – há muito – escolheu.