“Há um apagamento histórico das mulheres e do feminino das artes, reduzidos ao papel de musas, de esposas ou tendo seu trabalho fadado ao anonimato”, diz a agente de cultura e lazer da Escola de Artes Pró-Música/UFJF Raizza Prudêncio. Buscado atuar no sentido contrário, de dar visibilidade ao feminino, a instituição promove, de terça (19) a sexta (22), o Ciclo Feminino nas Artes, que é gratuito e aberto ao público, com oficinas e palestras. O evento terá programação baseada nos processos de pesquisa e criação desenvolvidos pelos estudantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Artística (Pibiart) da UFJF nas interfaces do feminino nas Artes Visuais, na Moda e no Cinema. O programa é aberto a qualquer estudante de graduação em cursos de artes, design e música da universidade, que pode enviar seu projeto quando há abertura de edital. “Percebemos que neste ano houve uma grande afinidade temática nos projetos aprovados, com muitos tratando de questões ligadas ao feminino, mas não somente à mulher no sentido normativo desta noção. Há, na programação, por exemplo, um documentário seguido de bate-papo com a drag queen Loren Z, e outro projeto que fala da relação de um dos alunos com tecidos, por meio de memórias construídas com a mãe e a avó. A programação é bem variada e vem dos trabalhos desenvolvidos neste ano pelo programa”, explica Raizza.
O tema, de fato, se alinha à discussão que vem sendo feita em grandes espaços artísticos do país. Em São Paulo há dois importantes exemplos destas instituições: O Masp, que está com as exposições “Histórias de mulheres: artistas até 1900” e “Histórias feministas: artistas depois de 2000” em cartaz; e o Santander Cultural, que traz a mostra “Estratégias do feminino”, com obras produzidas apenas por mulheres brasileiras oriundas de coleções de diferentes regiões do país. “O volume de trabalho que tivemos neste tema este ano é reflexo de esta discussão estar em pauta na cultura. Há pouca pesquisa extensa e uma grande urgência de revisão histórica, que se reflete em iniciativas como os projetos que apresentaremos no ciclo”, reflete Raizza.
Segundo a gerente de cultura e lazer, a ideia é dar visibilidade aos trabalhos realizados no Pibiart, buscando levar o debate além da academia e estabelecendo conexões com a comunidade. “O ciclo e sua programação foram pensados para ser essa plataforma de divulgação do trabalho feito na universidade, algo que hoje em dia se torna ainda mais fundamental, mas também no intuito de acolher a comunidade. Por isso temos o primeiro dia com uma exposição de artes que será fruto de uma oficina aberta ao público: quem participa da oficina está automaticamente na exposição. E também no sentido de o evento ser um festival cultural, com o encerramento com uma banda de rock local feita por mulheres, por exemplo, para promover ainda mais integração”, diz Raizza.
PROGRAMAÇÃO
Dia 19/11 – Terça-feira
Oficina “Mulheres múltiplas: autorretrato e autoconhecimento” , das 14h às 17h abertura de exposição
Abertura da exposição “Mulheres múltiplas”, às 19h, com trabalhos produzidos na oficina
Dia 20/11 – Quarta-feira
Palestra “Fantasia afro-nova: pilhagem antropofágica na construção de ludonarrativas” (Com Monique Onofre – 10h30)
Palestra “A representação da mulher nas pinturas de Georgina de Albuquerque do final do século XIX a 1929” – 14h (Com Fernanda Ferreira de Mello)
Palestra “Conversando sobre colorir tecidos, conectar mundos: o potencial pedagógico em oficinas experimentais de tingimento têxtil natural” – 16h (com Ana Flávia de Oliveira Carneiro)
Oficina Pintura em tecidos e “trocação” de histórias – das 14h às 17h- com Sérgio Izzo
Dia 21/11 – Quinta-feira
Palestra “Representatividade feminina nas Artes Visuais: as relações entre mulheres artistas e público na arte contemporânea brasileira” – 14h (com Maria Clara Brigatto)
Palestra Museu Itinerante: Criação de jogo de cartas para o ensino de linguagem visual e história da arte – 15h30 (com Isabela Fernandes)
Oficina Resignificação Indumentária – 14h às 17h- com Maria Julia Ourique*
* é indicado que participantes levem materiais como tesoura, cola , caneta e tintas para tecido, retalhos, pincéis, alfinetes ou outros objetos que pretendem adicionar na peça. Na sexta-feira acontece a segunda parte da oficina, onde darão continuidade aos trabalhos.
Oficina Moda Sustentável: tingimento natural e estamparia botânica, das 9h ao meio-dia
Dia 22/11 – Sexta-feira
Oficina Resignificação Indumentária, das 14h às 17h.
Exibição do documentário”Multi Polaris” às 14h, seguido por uma conversa sobre o tema com a drag queen Loren Z, às 15h30.
Às 16h, performance de Loren Z e show da banda Misandri
Todas as atividades são realizadas na Escola de Artes Pró-Música (Avenida Barão do Rio Branco 3.372 – onde funciona a Casa de Cultura da UFJF)