O ano era 2014 e a banda Martiataka, conhecida por fazer barulho da melhor qualidade, desplugou sua guitarra para gravar o álbum “Coração & tripas: pequeno monumento acústico ao country gótico”, muito antes de a Beyoncé pensar em ir para o Texas em “Cowboy carter” (2024). A Tribuna conversou com o leader band Wendell Guiducci (vocais) sobre o sucesso do formato, que levou este a ser o álbum da banda mais escutado no Spotify. “Havia ali referências ao country, ao blues, ao folk, e essas influências ficam mais aparentes quando a gente ‘deseletrifica’, por assim dizer”, conta.
Martiataka toca o álbum na íntegra, neste sábado (19), às 22h, no Muzik. A banda será formada por Del, Thiago “Jim” Salomão (baixo), Ruy Alhadas (teclados), João Paulo Ferreira (guitarra), João Reis (guitarra) e Douglas Gomez (bateria), que volta, substituindo o Vitor Fonseca (Frango), que se recupera de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Os ingressos podem ser adquiridos no Uniticket.
Tribuna: “Coração & Tripas” é o álbum com mais plays do Martiataka? Está em destaque no Spotify como o mais ouvido. Por que uma banda conhecida por fazer barulho agradou tanto em formato acústico? O que este álbum trouxe que é o DNA de vocês?
Wendell Guiducci: Eu acredito que seja o álbum com mais plays porque o formato acústico acaba ampliando o público para perfis que não se ligam tanto em um rock mais enérgico, mas que podem curtir as melodias que estão ali no meio daquela pegada mais pesada. Acho que agradou justamente porque conserva os ouvintes mais antigos, que podem curtir outras versões das músicas que já conheciam, e porque ganha esses novos ouvintes, que preferem um som mais suave, mas que tem personalidade. Não é exclusividade nossa, claro. São muitas as bandas que gravaram álbuns acústicos e alcançaram outros públicos. O sucesso da série “Acústico”, da MTV, é exemplo disso.
O nosso DNA está presente no disco inteiro. Todos nós somos grandes fãs de música, e nossas influências vão além do rock pesado que transpareceu mais em nossos shows até aquele momento. Mas, investigando as camadas das músicas, desde o primeiro álbum, além das influências mais roqueiras, havia ali referências ao country, ao blues, ao folk, e essas influências ficam mais aparentes quando a gente “deseletrifica”, por assim dizer. Foi uma oportunidade de a gente trazer pra superfície o que, para alguns, estava subjacente. A gente se divertiu demais fazendo aquele disco.
Dez anos é muito tempo, né? Qual o segredo para serem tão longevos na cena local?
Nós fizemos nosso primeiro show em 2001, lançamos nosso primeiro álbum em 2005, ou seja, vai fazer 20 anos ano que vem que estamos nesse circo doido que é o rock independente. Vivemos muitas épocas diferentes, cenários diferentes, tecnologias diferentes. Acho que o que nos mantém ativos é o prazer de compor, gravar e tocar, mesmo que seja para pequenos públicos. São seis álbuns, vários EPs e compactos. E as pessoas ainda saem de casa pra ver a gente, e é sempre bom rever as pessoas, e ainda aparecem caras novas entre aquelas conhecidas. Então, tem valido a pena permanecer por aí. A gente ainda acha graça nesse negócio.
Como está a saúde do Frango? Quando ele poderá voltar à banda? Fiquei sabendo do acidente muito recentemente.
O Frango sofreu um AVC no começo desse ano, durante um show com a outra banda dele, The Basement Tracks. Mas está muito bem, não teve sequelas e está de volta ao trabalho em São Paulo, onde mora desde o ano passado. Inclusive está pra lançar um novo álbum com a Basement, eu pude ouvir alguns músicas e está maravilhoso. Infelizmente ele está proibido, por ordens médicas, de tocar bateria por um tempo, especialmente do jeito que ele toca, que é de uma forma absolutamente furiosa. Mas conversamos sempre e estamos planejando gravar coisas novas em breve pro Marti. O Douglas Gomez, que foi nosso baterista lá no primeiro disco, é quem está tocando com a gente. Aliás, quando ele saiu, indicou justamente o Frango pra substitituí-lo, lá em 2007, se não me engano. Então, está tudo em casa.
Serviço
Martiataka comemora dez anos do álbum acústico “Coração & Tripas”
No sábado (19), às 22h
No Café Muzik (R. Espírito Santo, 1081 – Centro)
Ingressos no Uniticket