Antes de mudar-se para a Noruega, o mineiro Leo Ribeiro percorreu, por um mês, em 2018, a bacia do Rio Madeira e os trechos dos Rios Amazonas e Negro, com o projeto “Amazônia das Palavras”, que leva oficinas de literatura, teatro, música e animação pelas escolas públicas das cidades circundadas por esses rios. Depois dessa experiência, seu cenário mudou rapidamente: do calor tropical ao frio norueguês. Enquanto tentava se adaptar à sua nova realidade, o Brasil não saía de sua cabeça. Não o Brasil carioca (onde morava antes da mudança) ou o Brasil mineiro (onde nasceu e cresceu), mas, sim, o Brasil da Amazônia e os rostos das pessoas que conheceu no percurso. Como tinha de ser, essas imagens não ficaram só ali, guardadas na memória. Elas se transformaram em uma história em quadrinhos, “Amazônia – Histórias de beira de rio”, que Leo Ribeiro lança nesta quinta-feira (18), a partir das 19h, na Autoria Casa de Cultura.
Leo Ribeiro se formou em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Desde essa época, tinha um interesse pela produção visual, sobretudo contribuindo na elaboração de fanzines de literatura, poesia e histórias em quadrinhos de Juiz de Fora. Ele também tinha o seu próprio, o “Enzima”, mas que teve apenas uma publicação. “A maior parte da minha produção nessa época era de histórias em quadrinhos, então eu posso dizer que a minha escola foi o fanzine. Mas o meu estilo mudou muito desde aquela época e não tem uma ligação direta com o estilo anárquico e despreocupado, despretensioso dos fanzines”, explica.
Quando, em 2002, começou a trabalhar com animação e desenho animado, a história em quadrinhos acabou por ficar de lado, como um “desvio”, como diz, em sua produção. Ele, de fato, só voltou ao formato de HQ quando se mudou para a Noruega, no final de 2018. “Um novo começo na vida e um recomeço no trabalho. Então pensei: ‘Ótimo momento para voltar a produzir histórias em quadrinhos’.” E foi o que fez: como um retorno, vendo terra e trajetória ainda mais longe, sobretudo depois da viagem que fez.
Não foi a primeira vez que Leo Ribeiro viajou pelo Brasil oferecendo oficinas de animação. Ele já foi ao Maranhão, ao Tocantins, a Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, enfim, “o Brasil de cabo a rabo”, como diz. Foi por isso que ele não pretendia, de pronto, documentar o que via ali, acostumado com a dinâmica. Achou, a princípio, que seria apenas “mais uma viagem de trabalho”, ideia que, rapidamente, mudou.
A viagem começou em Manaus, descendo o Rio Negro, pegando parte do Amazonas, até o encontro com o Madeira, e subiu até Porto Velho – exatamente um mês antes de se mudar do Brasil. “No decorrer dela, eu senti que seria importante documentar a minha experiência. Comecei a fazer anotações, desenhos rápidos e muitas fotografias. Mas não tinha um plano para o que faria com este material.”
Como surgiu o livro
Em solo norueguês, com as imagens indo e voltando em sua memória, de forma bem saudosista, é que, finalmente, Leo Ribeiro teve a ideia de fazer um livro. Inicialmente, ele seria um livro de viagens com ilustrações. Ele até esboçou uma ideia em que desenharia e um amigo, que também estava na viagem, escreveria a história. “Mas quando eu comecei a fazer as ilustrações, percebi que ficaria melhor com HQ. E resolvi tocar o projeto sozinho”, conta.
A história em quadrinhos começou a ser trabalhada, primeiro, esporadicamente, quando Leo Ribeiro tinha tempo, entre um trabalho e outro, a partir de 2019. Foi só em 2023 que ele, de fato, conseguiu se dedicar exclusivamente ao projeto de “Amazônia – Histórias de beira de rio”, quando foi agraciado com uma bolsa de trabalho pelo Fundo Norueguês de Ilustração (Norsk Illustrasjonsfond) e conseguir finalizar a obra. Depois de pronto, ele assinou um contrato de publicação com a editora Sisko, de São Paulo, para a versão em português, que vai ser lançada em Juiz de Fora. Uma versão norueguesa, como afirma, deve ser publicada ainda neste ano, por outro editora do país.
Estrutura
A construção da HQ foi pensada como, de fato, seria navegar pela Amazônia: um grande rio entrecortado por riachos estreitos que deságuam em outros e rumam a diferentes caminhos. Cada um tem seu jeito, como narra, e suas histórias e peculiaridades. “Então, quando você pensa que está totalmente perdido, eis que acaba voltando ao rio principal”, diz Leo Ribeiro.
Ir e vir de Leo Ribeiro
O artista ainda fala sobre suas inspirações na hora de pensar nos desenhos, que muito têm a ver com sua própria história: “Uma consequência desse ir e vir é a variação formal entre os desenhos, transitando entre a simplificação e o naturalismo. Entre a justeza da linha traçada e os desenhos repletos de tonalidades e nuances de luz e sombra. Assim, analogamente a um cineasta, que usa diferentes suportes de imagem para montar um documentário, utilizei diferentes estilos de desenho para montar a minha história em quadrinhos”.
Ao mesmo tempo que se autoficcionaliza em “Amazônia – Histórias de beira de rio”, Leo Ribeiro eterniza suas memórias no livro que é também uma declaração de amor ao bioma mais importante do mundo e um retrato de um lugar que nem os próprios brasileiros, de fato, conhecem.
Serviço
Lançamento de livro
“Amazônia – Histórias de beira de rio”, de Leo Ribeiro
Quinta-feira (18), a partir das 19h
Na Autoria Casa de Cultura (Rua Batista de Oliveira 931, 2º andar – Granbery)