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Coral da Academia participa de congresso internacional

coral capa
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Coral ensaia na capela para se apresentar no 41º Congresso Internacional Pueri Cantores, até o dia 23 de julho. Foto: Marcelo Ribeiro

 

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O Coral Mater Verbi, presente no Colégio Academia desde 1953, se prepara para comemorar 65 anos em 2018. Ele é o segundo coral de meninos cantores mais antigo do Brasil. Seu fundador, Padre José Maria Wisniewski, SVD, está estampado em um dos quadros no corredor do terceiro andar do prédio de Núcleo Artístico da instituição de ensino.

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Na busca de uma retomada, após um período de menos investimento e latência, o atual regente Diego Pedrosa, ex-membro do coral, quer resgatar a tradição, a qualidade e busca oportunidade para que os alunos se apresentem ao público. Entre os dias 18 e 23 de julho, 32 cantores irão ao Rio de Janeiro participar do 41º Congresso Internacional Pueri Cantores, pela primeira vez sediado em território nacional.

Diego, 31 anos, foi convidado à difícil tarefa de reenquadrar o antigo e tradicional coral aos âmbitos de qualidade e alcance que carregam. A história do coral Mater Verbi está toda emoldurada em fotografias antigas, embalando meninos de batina e cruzes de madeira no pescoço. Este símbolo, tão importante para o cristianismo, foi usado, no princípio, para dar nome ao coral. Há também todos os discos lançados pelo grupo, com ilustrações de capa assinadas pelo artista Ziraldo, envidraçados e pendurados no corredor.

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Uma outra sala, que também conta histórias pelas paredes, é destinada ao piano preto de calda. Ele se encontra aberto, com certeza uma relíquia, mas que dificilmente é usado por falta de manutenção. Dissociado dos investimentos financeiros do colégio, o Coral Mater Verbi busca sua autossustentabilidade através do apoio de pais dos alunos membros do coral, bem como articulando ações de levantamento de fundos.

“O coral passou por uma fase difícil, a gente tinha o maestro Fernando, que foi o meu maestro, ele é referência, mas foi afastado da função. Depois foram assumindo outros maestros, e o coral foi perdendo o foco. Perdendo a função de cantar nas missas e depois de se apresentar em congressos, principalmente de nossa federação, nacional e internacional. E aí, quando o último maestro se desligou do coro, eles me ligaram. Tinham a necessidade que o novo maestro fosse um ex-menino cantor para voltar a essência do que era antes”, relata Diego, que desde 2015 assume a função.

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Ao piano

De batina e cruzes de madeira no pescoço, Coral Mater Verbi, regido por Diego Pedrosa, mostra disciplina em foto na capela da Academia. Foto: Marcelo Ribeiro

Mas há um piano de armário no ambiente onde todos costumam se encontrar para ensaiar. Enquanto estava finalizando a entrevista, escutei sendo plenamente tocado. Era Lucas Rocha, aluno e membro do coral, de apenas 10 anos. Enquanto seus amigos estavam na sala de jogos, ao lado, criada para um intervalo entre o fim das aulas e o início dos ensaios de voz. Lucas senta-se ao piano.

“Sempre que há um instrumento musical na sua frente, você sente vontade de tocar, né?”, perguntei. Ao que ele respondeu: “Sim, eu sei tocar vários instrumentos: violão, guitarra, piano, teclado, ukulelê, cavaquinho…” e percorreu em uma enumeração que me deixou boquiaberta. “Participar do coral me ajuda, pois usamos a partitura, e, assim, fica fácil de eu ler qualquer outro instrumento”, complementa.

Fora do coral, escuta rock, pop e, principalmente, hardrock. Black Sabbath, Guns ‘n’ Roses, AC/DC e Led Zeppelin estão entre suas bandas clássicas do rock preferidas. No coral, tem postura, posiciona um dos braços para trás e canta com vontade, usando indumentária que exige rigidez, o peso simbólico da cruz e o contraste com seus pensamentos musicais que desde novo já devem ir longe, buscando fontes de inspiração para começar a criar.

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“Se chegarem roucos, cabeças vão rolar”

Enquanto tocava despretensiosamente o piano, outros meninos cantores foram chegando e ocupando a maior sala do núcleo. Estavam agitados com os jogos esportivos, interclasse, mas a presença do regente impunha respeito. Com certeza não o mesmo que a linearidade de cantores estava acostumada. Diego conta que antes, quando o regente aparecia, todos imediatamente posicionavam-se em silêncio. A geração é outra, há aqueles que chegaram ao mundo recentemente, com 8 anos de idade.

A estrutura de hierarquia, a severidade, a cobrança de perfeição, o respeito com alguns rituais já não mais fazem sentido para quem nasceu sendo registrado por vídeos streaming em 360°. Mas para quem assistiu “Whiplash”, longa dirigido por Damien Chazelle, e indicado ao Oscar de melhor filme em 2015, sabe que no contexto da música de orquestra, a cobrança e a seriedade estão muito acima da média. Diego pede para que coloquem as batinas, mas ressalta que não gritem ou falem muito. “Se chegarem roucos aqui amanhã, cabeças vão rolar!”, todos saem e se aprontam. Estão perfeitamente vestidos, de sapato social preto e com as cruzes de madeira ao pescoço.

Música sacra

Há um objetivo litúrgico que envolve todo o trabalho do coral, inclusive, a maior parte do repertório que irá apresentar no Rio será de música sacra. Haverá também uma missa com cantos gregorianos, bem como um momento com a apresentação em coro de composições brasileiras com novos arranjos.

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“Cio da terra”, parceria do Milton Nascimento com o Chico Buarque, “Trenzinho caipira”, do Heitor Villa-Lobos, e também “Doce é sentir”, do filme “Irmão Sol, Irmã Lua” (1972), autoria do Padre Ney Brasil. Estão em ensaio intenso para se prepararem. Dessa vez, foram para a capela do colégio, com suas pastas, em devida posição, e treinaram algumas das músicas como será feito no dia. “Acerta a gola, Tiago”, “Você está dentro da igreja de batina e uma cruz, e está dançando?”, Diego vai chamando a atenção dos meninos aos rapazes.

Há idade de 8 a 33 anos. Isso porque o coral também tem, em seus membros, ex-alunos. Inclusive, um deles, Gabriel Lobato, 31, participou durante nove anos enquanto estudava na Academia e, desde 2015, decidiu voltar. “Uma vez menino cantor do coral, sempre será”, afirma Diego Pedrosa, que o convidou, junto a outros colegas de sua época, justamente para ajudar nesse resgate da tradição. “Nós fomos em um ensaio conversar com os meninos, passar nossa experiência, aí o Pedrosa convidou os ex-membros para voltarem”, conta Gabriel, que além de Beatles e Los Hermanos, escuta muito samba e bossa-nova.

Diego conta com orgulho sobre a terceira benção do Papa que será enviada ao coral. Don Gil Antônio irá ao Vaticano receber em setembro deste ano. Sobre possíveis mudanças de tradição, indaguei a respeito da participação de mulheres nos corais, já que houve uma atualização no estatuto em 2001, permitindo tanto corais somente formado por meninas, bem como corais mistos. “O nosso coral é o fundador da Federação Nacional de Meninos Cantores do Brasil, e, por ser o segundo mais antigo, já que o primeiro é o dos Canarinhos de Petrópolis, esses dois não podem mudar a tradição de ser apenas formado por meninos.” No entanto, com pequenas exceções, o resto da federação, no Sul e no Sudeste, é de corais mistos, afirma Diego.

 

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