Nesta sexta-feira (21), começa a primeira edição da Semana de Arte de Cataguases, que promove uma série de atividades gratuitas até o dia 29 deste mês com o intuito de celebrar a riqueza cultural da Zona da Mata mineira, destacando, ainda, a importância da perspectiva decolonial nas artes brasileiras. A programação envolve apresentações artísticas, exposições, oficinas, rodas de conversas e performances e acontece em seis espaços da cidade: Praça da Estação, Chácara Dona Catarina, pracinha do Bairro Ana Carrara, Casa de Maria, Centro de Referencia Especializado de Assistência Social (Creas) e Monumento a José Inácio Peixoto.
A programação da Semana de Arte de Cataguases tem como tema “Por uma perspectiva decolonial: ancestralidade e negritude”. A curadoria, inclusive, selecionou artistas e realizadores de Minas Gerais que conversam, diretamente, com essa ideia. “Uma autêntica revolução está em curso nas artes brasileiras. Trata-se da virada decolonial, protagonizada por artistas que demarcam seus territórios com trabalhos que desafiam as estruturas opressoras do colonialismo e o sistemático apagamento de suas memórias e subjetividades”, afirma, em nota, Alessandra Simões Paiva, pesquisadora, critica e professora adjunta da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Além disso, a programação conversa, de certa forma, com a Semana de 22, de forma a reavivar a relevância que Cataguases teve no cenário cultural nacional naquela época, sobretudo por ter sido palco da criação da Revista Verde. “Porém, essa nova geração vai além da busca por uma identidade nacional, naquela época, almejada por uma elite que procurava renovar as linguagens estéticas, mas que ainda estava alheia às questões raciais e de gênero. Agora, a arte decolonial luta contra o racismo, a misoginia, a xenofobia, as desigualdades econômicas, as disparidades geopolíticas e a destruição ambiental”, pontua, em nota, Alessandra.
De forma prática, Alessandra mostra como, na programação, é possível encontrar esse tema sendo debatido. “Podemos ver toda a potencialidade desta nova geração na obra de Renaya Dorea, por exemplo, cuja alquimia de expressões visuais afro-indígenas, estampadas em pinturas, no grafite e no audiovisual, compõem um universo poético que entrelaça questões como identidade, poder e resistência. A criatividade também não tem limites na obra da artista Karine Mageste, cujas cenas afro-futuristas, mesclando seres humanos, animais fantásticos, hibridismos e maquinarias, formam um mosaico de referências que desafiam os estereótipos de gênero.”
E segue: “Trabalhos de arte urbana, ambiental e espacial também estão presentes na mostra, como a obra do artista Felipe Stain, figura emblemática da cultura hip-hop que transforma o espaço urbano em um vibrante museu a céu aberto no qual as pessoas negras e das comunidades periféricas são protagonistas. O crew Minas de Minas, formado por quatro grafiteiras de Belo Horizonte, mostra como as mulheres podem tomar a rua com sua arte empoderada. No trabalho de Samuel Garcia de Alcantara, vemos como a decolonialidade se conecta à luta ecológica, por meio de uma poética da terra, marcada pelo uso de materiais naturais e suportes artísticos inovadores”.
Já na próxima semana, entre os dias 24 e 27 de junho, a Semana de Arte de Cataguases promove uma série de atividades formativas. Duas dela são voltadas a estudantes: oficina de grafite, com Felipe Stain, e oficina de pintura com pigmentos minerais, com Samuel Garcia. Já as outras são abertas ao público: oficina mulheres do grafite, ministrada por Carol Jaued; produção de curtas e narrativas audiovisual, ministrada pela equipe da Abdução Filmes. Há, ainda, uma série de palestras que dialogam com o tema, com os assuntos da cidade e com a Semana de Arte Moderna, a qual o evento faz referência.
“A variedade de trabalhos reunidos aqui revela a potência que a criação artística desempenha em nossas vidas. Acima de tudo, são obras construtoras de outras narrativas históricas, que tornam possível uma nova sensibilidade, um novo modo de habitar o mundo, mais justo e solidário”, finaliza Alessandra, em nota, enfatizando que a Semana de Arte de Cataguases tem como objetivo estimular, além de tudo, a valorização e o desenvolvimento da cena artística na cidade. Todos os detalhes estão disponíveis no Instagram (@coletivocatarte).
Confira a programação completa da Semana de Arte de Cataguases
Sexta-feira (21)
18h – Exibição de curtas-metragens, videodanças e curtas experimentais na Praça da Estação
Sábado (22)
18h – Abertura de exposição coletiva, bate-papo com artistas, grafite ao vivo, discotecagem e feira gastronômica, na Chácara Dona Catarina
Domingo (23)
18h – Palestra e lançamento do livro “Submersa, 20 anos entre Sapos e Afogados”, de Juliana Saúde, e performance “A natureza das coisas” e Sapos e afogados”, do Núcleo de Criação e Pesquisa em Arte e Saúde Mental, na Chácara Dona Catarina
Quarta-feira (26)
18h – Palestra “Modernismo de 22 & Cataguases”, ministrada por Ronaldo Werneck, lançamento de livros, bate-papo, com Murillo Azevedo e apresentação musical do Sexteto Patápio Silva, na Chácara Dona Catarina
Sexta-feira (28)
18h – Exibição de curtas-metragens, na praça do Bairro Ana Carrara
Sábado (29)
18h – Exibição de curtas-metragens e performance de encerramento, no Monumento a José Inácio Peixoto