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Os primeiros passos de um jovem (e já premiado) autor

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João Gabriel Paulsen terá o seu primeiro livro, ‘O doce e o amargo’, publicado pela Editora Record (Foto: Olavo Prazeres)
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O anúncio dos vencedores do Prêmio Sesc de Literatura, na última semana, vai mudar a vida de João Gabriel Paulsen mais do que ele poderia imaginar. Aos 19 anos, o estudante de filosofia, skatista e agora escritor juiz-forano foi o vencedor da premiação na categoria Conto – em que superou mais de 900 publicações concorrentes -, com o livro “O doce e o amargo”, e terá um início de carreira bem agitado: primeiro será a participação na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em julho, com o vencedor na categoria Romance, Felipe Holloway; em novembro, será a vez da cerimônia de premiação, em São Paulo, além do lançamento do livro pela Editora Record, com uma tiragem inicial de dois mil exemplares.

Mas ainda tem mais. O ano de 2020 será marcado pela presença em eventos literários e divulgação do livro em várias cidades brasileiras onde o Sesc marca presença. Nada mal para quem começou a escrever aos 15 anos e tão jovem terá um apoio para divulgar seu trabalho, ganhar visibilidade e reconhecimento. Enfim, ver e ser visto no circuito literário e mercado editorial.

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“A ficha ainda não caiu. Foi uma sensação de irrealidade (saber que havia vencido o prêmio), que tudo era um sonho, até porque passei muito tempo sonhando com isso”, confessa João Gabriel. “O mais penoso foi não poder falar para todo mundo, mandar mensagem, publicar (nas redes sociais).”
O escritor conta que ficou sabendo do resultado cerca de uma semana antes do anúncio oficial, e que os organizadores do Prêmio pediram para que não espalhasse a novidade para ninguém. Por isso, a princípio, apenas os pais, alguns amigos próximos – como Marcela Gonçalves, do Pergaminho

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Virtual, que o incentivou a participar do concurso literário – foram comunicados.
Para “complicar” ainda mais a necessidade de segurar a língua, ele destaca a forma que recebeu a notícia. “Eu imaginava que iriam me ligar quando estivesse na UFJF, aí minha mãe me avisaria. Porém, eu estava na UFJF quando recebia ligação de um DDD 21 (Rio de Janeiro), achei estranho, pensei que era telemarketing, e só atendi na terceira vez. Perguntaram se eu era o João Gabriel que havia participado do concurso, e me comunicaram que eu era o vencedor na minha categoria. E aí eu estava na faculdade, no corredor, não podia contar pra ninguém, e ainda tinha uma palestra para assistir depois (risos).”

Agora, com a ficha ainda por cair, a sensação de irrealidade deixada para trás, é hora de ver o sonho se tornar realidade. A começar pela Flip, em 13 de junho, quando vai participar da mesa de conversas promovida pelo Sesc. A ansiedade por participar pela primeira vez da maior feira literária do país é grande. “Estive lá apenas uma vez, de passagem, e foi rápido, coisa de um dia. Agora vou estar próximo de grandes escritores, vai ser algo enriquecedor, pois poderei entrar em contato com o mundo literário, o mercado editorial. O prêmio é uma abertura de portas que vai me dar visibilidade.”

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Caminhada solitária

O contato inicial com os livros teve o incentivo da mãe, mesmo que os pais não fossem leitores contumazes. Mas a curiosidade de João Gabriel Paulsen pelo mundo das letras estava lá, e para isso ajudou – e muito – a biblioteca que encontrou na casa da avó e também a do Colégio Academia, já no final do Ensino Fundamental. Os primeiros livros do que chama de literatura “mais séria” foram entre os 13 e 14 anos: “O Código Da Vinci” (Dan Brown) e “Admirável mundo novo” (Aldous Huxley). Foram os primeiros passos para autores que marcaram e influenciaram o novo escritor: Albert Camus, Fiódor Dostoiévski, Jorge Amado, Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, James Joyce, Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector. “A leitura não era um hábito intenso, mas aos poucos fui me aproximando por conta própria. Matava aula para ficar na biblioteca. Por um lado, posso dizer que foi uma caminhada solitária.”

Essa caminhada entre os livros, diz, fez surgir no leitor a vontade de também ser escritor, e foi dessa forma que João Gabriel começou a escrever os primeiros textos em prosa e as primeiras poesias, se aproximando de pessoas com interesses afins. E foi também um dos motivos para que ele escolhesse a filosofia (cursa o terceiro período) no lugar da psicologia ao entrar na universidade, pela proximidade que acredita existir com o mundo literário.

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“Minha ideia, a princípio, era partir para a vida acadêmica, e por isso tinha planos de começar a estudar psicologia a partir do segundo semestre em outra instituição de ensino, pois filosofia é mais uma questão de satisfação pessoal. Ainda estava tudo em aberto, mas não tinha expectativa em partir para a literatura. Já havia começado a desanimar (do mundo acadêmico) no final do ano passado, e agora, com o prêmio, tenho que pensar qual caminho seguir.”

Textos pessoais e de temas universais

João Gabriel Paulsen também conversou a respeito de “O doce e o amargo”, livro que ganhou o Prêmio Sesc de Literatura. De acordo com o escritor, os nove contos têm ligações com suas experiências pessoais, mas não se resumem apenas a elas. “As leituras durante a preparação dos contos foram importantes, assim como os conflitos que fazem parte da juventude. O livro é bastante amplo, com diversas temáticas, transitando entre o fantástico e o cotidiano. Há narrativas bastantes íntimas, em que coloco muito de mim mesmo, mas deixo em aberto o significado (de cada conto).”
Por fim, João Gabriel acredita que a vitória no Prêmio Sesc de Literatura pode ser vista tanto como uma afirmação para seguir o caminho das letras, mas também impõe desafios. Declarando-se perfeccionista, o escritor vê o prêmio corroborando a qualidade dos textos, que muitas vezes ele tinha dúvidas quanto à qualidade de alguns trechos. “Agora sinto que eram bons”, diz.

“Mas agora vou ser um carrasco comigo mesmo (risos), vou me cobrar mais nos próximos textos, e até nos trabalhos da faculdade. Já pensei como vai ser escrever depois do Prêmio, mas vai ser bom porque ajudará a filtrar mais, é um incentivo para ser um escritor melhor. Já tenho material suficiente para um livro de poesia, e penso em me dedicar em algo maior. O próximo passo que desejo dar é escrever um romance.”

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