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Rod Krieger se apresenta em São João Nepomuceno e em Juiz de Fora neste feriado

Rod Krieger show

(Foto: Divulgação/Marina Mole)

Rod Krieger por Daryan Dornelles 01
‘Vou começar o ano em Minas. Decidi começar no estado pela lenda de que para ganhar no Brasil, é preciso conquistar Minas’, brinca o músico (Foto: Daryan Dornelles/Divulgação)
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O músico porto-alegrense Rod Krieger, membro da extinta banda Cachorro Grande, se apresenta em São João Nepocumeno e em Juiz de Fora neste fim de semana. Os shows fazem parte da turnê de seu novo álbum “Assembleia extraordinária”, lançado em 2024. Nas apresentações, o músico, acompanhado de um power trio, põe em prática seu processo de “desgitalização”, em que busca colocar a menor quantidade possível de efeitos nos instrumentos.

Em São João Nepomuceno, o evento acontece no Baile da Aurora, nesta sexta-feira (18), na Moldau, localizada no Pátio da Fábrica0. Já em Juiz de Fora, o show acontece no sábado (19), a partir das 20h, no Maquinaria (Rua São Mateus 552 – São Mateus). Os ingressos podem ser adquiridos on-line, no Instagram das duas casas.

Confira a entrevista completa com Rod Krieger

Tribuna: No início de “A loucura habitual”, faixa que fecha seu último álbum, você fala que quer ser o Bob Dylan. Por que? 

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Rod Krieger: Ele é o pai de todos os cantores, o mentor da turma toda – começando pelos Beatles – na minha opinião. O próprio Jimi Hendrix assumiu em entrevistas que todas vez que ia compor um álbum, ele dava uma checada nos discos do Dylan. Ele não foi o primeiro artista que tive contato na minha vida, caí nele por intermédio dos outros. Até brinco que se você costuma vasculhar discos é inevitável cair no Dylan. No dia que escrevi essa música, encontrei o Elio do Vanguart em Portugal. Conversamos e, como ele é muito ligado ao folk, chegamos nesse assunto do Bob Dylan. Fiquei com isso na cabeça e compus. Mas claro, poderia ser outro ali, como o John Lennon ou o Arnaldo Baptista. 

Você acabou comentando sobre Portugal. Como foi seu processo de mudança para outro país e, de alguma maneira, você sente que isso influenciou na sonoridade deste álbum? 

Total. Sou de Porto Alegre e estava morando há 15 anos em São Paulo. Quando lancei o primeiro disco e o single com o Arnaldo (“Louvado seja Deus”), já tinha esse desejo de abrir essa porta. Quando já estava certo que a Cachorro Grande iria terminar, coincidiu com as eleições no Brasil de 2018, senti que as coisas iam ficar esquisitas. Como ia ter que recomeçar meu trabalho, decidi unir o útil ao agradável e vir para este país que tinha vontade de conhecer. Foi tudo rápido. E veio a pandemia. Morei no interior de Portugal, uma cidade de 140 habitantes, meio medieval: Sobral do Parelhão. Lá tive que rever toda minha vida. Perdi a dimensão do tempo lá. Construí um home studio. A maneira como estava vivendo influenciou bastante. A dinâmica perante o instrumento (forma de bater, tocar, os timbres) mudaram. Minha percepção musical ampliou. Além de tudo o que sempre me influenciou sonoramente, o contato com os músicos portugueses também esteve presente neste processo. Ele é um disco português, por ter sido criado lá. Hoje, sou muito mais influenciado pelo meu estado de espírito. 

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Achei curioso você falar que é um disco português, tendo um cover de Alceu Valença. 

Ele é dono de Portugal. Ele, o Caetano e o Milton. É uma coisa de doido. Mas tem relação sim. Quando estava nessa casa (em Sobral), tempo sobrou. Comecei a dar uma mergulhada nos discos brasileiros. Não sei se era saudade…acho que não. Mas comecei a ouvir os “velhos” um por um. Já tinha escutado mil vezes na casa dos outros, mas sentado, vendo a discografia “dos caras”, isso rolou muito. Fui indo e comecei a revistar muitas coisas do Brasil. Já conhecia “Molhado de suor” do Alceu, já conhecia “Cabelos longos” (música que fez o cover) e já tinha tido a ideia de regravar ela, muito tempo atrás. Como no primeiro disco tenho um cover do Tony Bizarro, quis manter essa tradição da regravação. Quando ouvi esse som do Alceu, percebi que tinha muito a ver com o disco. Substitui a guitarra pela cítara e peguei a batida veio do Haiti, de tanto que estava escutando esses artistas brasileiros como Gil e Caetano. 

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Em uma das letras você fala sobre “respeitar a mamãe natureza”. Em certo sentido isso se relaciona com suas vivências durante a pandemia? 

Já venho com esse papo de natureza desde o disco passado. Acho que já estava de saco meio cheio de São Paulo, daquele contraste da sua cama para o Centro. Mas nessa cidadezinha, parecia que estava em um filme do David Lynch. Como tinha liberdade total de horário, devido ao homestudio, gravava um vocal às 4h30. Colocava no fone e ia fazer o que precisava. Tinha opção de ir pelo asfalto, ou seja, pela estrada que faziam os caminhões, ou a opção de fazer uma trilha. Fiz muita essa trilha. Antes mesmo das músicas terem letra, já ia resmungando as harmonias vocais que viriam se tornar as melodias. Fui resmungando os sons até se tornarem palavras nesse meio, sendo influenciado por um lago, por um mato, por uma trilha, por um macaco, por um ganso, por uma ovelha, enfim, a natureza estava em volta em todos os sentidos. E é muito louco, depois que você está um ano morando em uma cidade dessas parece que você ganha uns 2 centímetros de pulmão. O disco fala da natureza. E nessa música com essa frase, “O fluxo das coisas”, falo o óbvio: se não nos ligarmos, vamos para o saco. Sou só mais um gritando, essa é a maneira que consigo me expressar e alertar sobre esse problema. 

De onde o nome “Assembleia extraordinária” vem? E como foi o processo de gravar o filme que acompanha o álbum? 

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Veio quando observei um senhor abrir uma pasta com um contrato de condomínio escrito isso. Nesse processo, de me ver precisando de uma manutenção durante a pandemia, acabei me descobrindo. Tinham vários Rodolfos trabalhando: o baixista, o guitarrista, um dos caras que esteve em uma das maiores bandas de rock do país, o produtor, o mixador etc. Virou uma assembleia extraordinária de Rods, por estar fazendo tudo sozinho. Isso, consequentemente, acabou caindo nas imagens. Existe uma influência de “Twin Peaks” (David Lynch), mas foi bem nesse processo que comentei das coisas em volta estarem me influenciando mais. Isso justifica algumas montagens do meio se transformando e uma figura central estática. Tudo ali fui eu e um tripé, com minha esposa ajudando também com algumas ideias e takes. Tudo virou uma coisa só, quando vi estava no meio de um furacão meu. Foi um pouco enlouquecedor. O filme começou a surgir no meio do álbum. 

Musico tem como uma de suas principais referências o residente de Juiz de Fora, Arnaldo Baptista (Foto: Daryan Dornelles/ Divulgação)

E como você caracteriza a sonoridade desse seu novo álbum? 

Depois que o disco já estava pronto comecei a entender algumas coisas nele. Peguei emprestado o gênero space rock para definir esse disco. Acho que é o que melhor define, por esse lance da atmosfera. Por não ter uma banda, por não ter um tecladista, muita coisa surgiu com o aprendizado. Isso me afastou um pouco da guitarra, talvez. Ela aparece em alguns momentos – principalmente no lado B -, mas são muitas músicas sem guitarra. Penso em fazer os álbuns, apesar dessa diferença de lados, ele foi feito para ser escutado de A para B, assim como B para A. 

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E nos shows, como está sendo? A guitarra aparece mais? E como você tem trabalhado o lance do analógico e do digital?

Ainda não consegui o resultado que gostaria com isso, então é capaz de serem ainda alguns discos experimentando com isso. Amo fitas, as guitarras Gibson, amo válvula e já gravei de diferentes formas. O que mais “chapei” foi na mistura (entre digital e analógico). Fico pensando o que o Lennon e o Hendrix jovens estariam fazendo hoje. Tive um amor na primeira audição quando coloquei uma bateria eletrônica e uma baterista para tocar por cima. Essas misturas são como misturar o “Revolver” (Beatles) com The Chemical Brothers. Aí caio de novo no space rock. É a busca da minha sonoridade. Nossa identidade é criada em nossa busca. Como a tecnologia não vai parar de avançar e os instrumentos vão ficando mais “antigos”, nesse sentido, o analógico vai indo mais para trás e o digital para frente. Decidi ficar no meio disso, como um imã, puxando um pouco de cada um. 

E como está sua expectativa para esses shows em Juiz de Fora e São João Nepomuceno? 

Vou começar o ano em Minas. Decidi começar no estado pela lenda de que para ganhar no Brasil, é preciso conquistar Minas. Mas também é legal falar que essas apresentações começaram por conta de um jornalista que divulgou a banda Pedra Relógio. Sem querer vi, adicionei a banda nas redes e começamos a conversar. Articulamos o show em menos de uma semana. Em um momento que a internet atrapalha tanto os artistas, é legal usá-la para fazer coisas interessantes, transformando em algo físico. Sei também que nas duas cidades estão rolando cenas interessantes. Conheço algumas bandas da cidade, é uma zona bem efervescente. Estou doido para chegar aí e ligar a guitarra alto. É o lugar onde o Arnaldo Baptista mora. Para mim, é a mesma coisa que estar indo tocar em Manchester. A cidade já tem um ponto mágico, que é ele. 

E existe alguma curiosidade envolvendo o disco?

Cara, curiosamente, adoto um disco por cachorro. Tenho que ver como vai ser no próximo.

*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

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