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Roberto Carlos completa 80 anos, e Tribuna relembra shows em JF

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O tempo não para, no entanto, ele nunca envelhece para Roberto Carlos. O Rei completa 80 anos nesta segunda-feira (19). O músico fia uma trajetória consolidada da vanguarda do iê-iê-iê ao romantismo. De programas de auditórios a cruzeiros. Intérprete de “Splish splash”, mas de “Nossa Senhora”. Sem nunca perder aquela força estranha. Talvez seja só o tempo. A Tribuna resgata as passagens do Rei por Juiz de Fora nos últimos 30 anos para celebrar a sua vida. E, inevitavelmente, para cursar a história da própria Juiz de Fora desde os clubes sociais até as casas de shows privadas.

A última visita de Roberto Carlos foi em 7 de junho de 2013, acompanhado pela orquestra do maestro Eduardo Lage, quando se apresentou para cerca de 3 mil pessoas no Expominas por duas horas. “Foram dez dúzias de rosas sem espinhos pedidas pelo Roberto Carlos”, lembra a gerente de produção da Front Produções, Karla Santos Rodrigues, 43 anos, responsável pela organização local. As clássicas rosas não foram a única exigência da produção do Rei, acrescenta, “mas nada de absurdo”. De forma alguma roupa escura da equipe local de produção, por exemplo.

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“Não sei por quê. Então, fomos vestidos com calças jeans e camisetas brancas ou azuis. Abriram mão apenas para os seguranças. Mas falei para a produtora: ‘Para os seguranças, não existe outra possibilidade senão o terno preto'”.

 

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O Expominas começou a ser preparado para receber Roberto Carlos aproximadamente um mês antes da apresentação. Entretanto, como o espaço é muito fechado, havia um cheiro de mofo insuportável onde ficaria o camarim do Rei. “A preocupação nem era com o público, mas com o lugar em que ficaria o Roberto.” O odor levou a produção a deixar o salão reservado ao músico aberto durante os 15 dias para circular o ar, bem como deixar um purificador no camarim. Além disso, houve a necessidade de improvisar uma estrutura com banheiro, já que, como estava, relembra a produtora, Roberto Carlos precisaria deixar o salão para acessar o banheiro mais próximo. “Tivemos que fazer todo um esquema com água mineral. Colocamos uma caixa d’água mineral.”

‘É de paralisar’

Ainda que a cobertura da Tribuna, à época, tenha registrado um atraso de 40 minutos para o início do show, Roberto Carlos é pontualíssimo, sentencia Karla. Mesmo que a organização local tivesse a prerrogativa de descumprir o horário acordado. “A fila de carros para entrar no Expominas estava enorme, mas nos deram apenas 5 minutos. Isso é dele. Não começa depois do horário pré-definido. Mostrávamos para a produção do Roberto a fila enorme, mas não cedia.” Porém, ela é só elogios à produção do Rei. Bem tarimbada, briga por ele, afirma. “São bastante, bastante organizados. Chegam com tudo com muita antecedência. Já trazem materiais de som, luz etc. Usam muito pouco da mão de obra local.”

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Roberto Carlos entrega rosas – sem espinhos – para fãs em show no Expominas (Foto: Lucas Tavares/Arquivo TM)

Embora não tenha conseguido tietá-lo, Karla guarda a imagem de uma figura carismática e comunicativa sobre o palco do Expominas. “No final, quando, por acaso, fui entregar algum coisa, que vi Roberto Carlos de longe. Então, ele veio e me cumprimentou”, detalha. “O show é maravilhoso. Ele é realmente o Rei. As pessoas o olham e os olhos brilham. Levei a minha mãe e, assim… é de paralisar. Não tem explicação.” De acordo com a produtora, a apresentação, bem-sucedida, ainda fora pouco confortável, porque o espaço era muito comprido. “No meio do salão havia um telão, pelo qual as pessoas mais distantes poderiam ver.” As cadeiras eram numeradas, mas, mesmo assim, todos os fãs buscavam o gargalo.

‘Não tinha como não ser um sucesso’

Antes de 2013, Roberto Carlos havia passado por Juiz de Fora em 2004, em 2 de outubro, em comemoração ao aniversário de um ano da extinta Rádio Panorama no Estádio Dr. José Procópio Teixeira, do Sport Club Juiz de Fora. “Lembro que era véspera de eleição, porque, a partir da meia-noite, o consumo de bebida alcoólica seria proibido”, busca na memória o radialista Marcelo Pacífico, 43, à época gerente de programação da emissora. Quem o trouxe na ocasião foi o empresário Omar Peres, proprietário das antigas rádio e TV Panorama, além do extinto diário ‘JF Hoje’.

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Marcelo Pacífico relembra show no Sport, em 2 de outubro de 2004 (Foto: Arquivo Pessoal)

O palco foi montado de costas para a Avenida Brasil e de frente para a Barão do Rio Branco, detalha Marcelo, hoje residente em Taubaté (SP). “Todo mundo sentadinho. O show foi maravilhoso, foi muito bom.” Já se passaram tantos anos que locutor não se lembra exatamente do público, mas os presentes lotaram o estádio. A memória mais fresca mesmo é o direito que a emissora teria em transmitir ao vivo as três, quatro músicas de abertura.

“Havia alguns prédios ao lado do Sport, e os moradores assistiam ao show praticamente de camarote. Durante a transmissão, falávamos assim: ‘Quem estiver acompanhando da janela de casa, pisque a luz’. Foi um sucesso, é claro. Não tinha como não ser um sucesso.”

Tão bem-sucedida a transmissão que Marcelo arriscou. Era Roberto Carlos. “Virei para os meus repórteres e perguntei se estavam com microfones sem fio. ‘Estamos’, confirmaram. Pedi então que deixassem os microfones lá perto da caixa de som, no palco, no chão mesmo. Dois microfones sem fio”, ri. “E autorizei à rádio continuar a transmissão.” Foram apenas poucas músicas a mais, o que não o livrou da bronca de Omar Peres no dia seguinte. “O Omar me dizia: ‘Cara, o Roberto quase para o show por nossa causa’. Eu ria pra caramba daquilo. Mas o Roberto não pararia o show por isso. Era isso o que fazíamos, para tentar aproveitar mesmo. O cara estava ali.”

Sessão extra no Cine-Theatro Central

Apenas um show em Barbacena separou duas sessões de Roberto Carlos no Cine-Theatro Central em 1994. Uma em 12 de agosto, numa sexta-feira, outra no dia 14. “O rei do romantismo faz sessão extra no domingo”, manchetou o Caderno Dois da Tribuna à época. A princípio, o “Rei” cantaria apenas na sexta. Tamanha foi a procura que o produtor Serjão Evangelista, 62, decidiu por uma apresentação extra. “Foi uma coisa doida. Tivemos que fazer tudo de última hora. Para se ter uma ideia, a decisão foi na semana dos shows”, recorda. A proposta inicialmente fora agendar a sessão extra para sábado. Entretanto, Roberto Carlos já tinha um show em Barbacena marcado, inadiável. “A gente cortou um dobrado para explicar o porquê de sexta e domingo. Muita gente ia comprar os ingressos achando que era no sábado.”

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Caderno Dois do dia 12 de agosto de 1994 destacava a jornada dupla de Roberto Carlos no Cine-Theatro Central

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) já tinha comprado o Central da iniciativa privada, lembra Serjão. Entretanto, não havia iniciado a reforma. “Tanto é que a produção do Roberto Carlos nem quis usar o camarim”, pontua. O espaço, então, foi montado na Galeria Azarias Vilela. “Dava acesso quase que direto à portinha lateral que dá no palco.” A então esposa de Roberto Carlos, Maria Rita Simões Braga, que viria a falecer em 1999, acompanhou o músico na oportunidade. “Em certo momento antes do show, ela precisou fazer uso do telefone. Não tinha celular naquela época”, força a memória Serjão. “Então, a produção veio me perguntar se tínhamos um telefone. Eu a levei na sala da administração pra ela poder fazer a ligação.”

Se bobear, diz Serjão, aqueles shows no Central foram os mais bonitos de Roberto Carlos em Juiz de Fora. O Rei os encerrou com “Nossa Senhora”, detalha.

“Nossa, mãe. Uma coisa emocionante. E caía no fundo uma cascata de lágrimas. E pelo fato de ter sido no Central também. Os shows do Roberto Carlos normalmente eram em lugares muito grandes. As pessoas não o viam direito. Ali, não. Quem estava nas primeiras filas foi à loucura. Estavam a apenas dois metros dele.”

Havia aproximadamente 1.800 pessoas em cada um das sessões no Central, projeta Serjão. Ambas foram esgotadas. “Foi uma coisa inesquecível. O público de Juiz de Fora, tradicionalmente, gosta muito de cantar. E todo mundo sabe de cor e salteado as músicas do Roberto. O artista fica maravilhado aqui.”

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Água mineral no ar-condicionado

Maria Angélica Rebouças Estiguer, 69, garante que produziu dois shows de Roberto Carlos no início dos anos 1990 em Juiz de Fora. Um no Ginásio do Tupynambás, outro no Cine-Theatro Central. “Foram produções em conjunto com uma empresa de Belo Horizonte”, explica a dentista, que assinou uma coluna na Tribuna entre 1982 e 1998 como Marian Riguer, anagrama do nome completo. Assim como Karla e Serjão, Maria Angélica fez apenas a produção local. “A empresa normalmente compra determinado número de shows, te passa e você tem que vendê-los para retirar 20% do total bruto.” Era moda à época os shows no Tupynambás, lembra. “Os dois foram muito bons. O Roberto Carlos é muito simpático, muito agradável.” Os ingressos custaram Cr$ 50. Os da frente, Cr$ 100. Eram caros na época, adverte, mas todos esgotados.

O que Maria Angélica também não esquece é que Roberto Carlos pediu um ar-condicionado no camarim. Mas com água mineral. “São aqueles exageros de artistas”, brinca. Além do ar-condicionado, as rosas, claro. A então produtora as comprou na floricultura ali na Rua Batista de Oliveira, Rosalia Flores. “Tinha que ser rosas importadas para o Roberto Carlos dar para as pessoas da primeira fila. Muita gente xingou a minha mãe por não ter recebido rosa.” Maria Angélica, no entanto, garante que o Rei é simples de lidar.

Cesar Romero ao lado de Roberto Carlos e do diretor de TV Eduardo Eurico em 1992, após show no Tupynambás (Foto: Arquivo pessoal)

O show do Ginásio do Tupynambás ocorreu em 30 de maio de 1992, segundo Cesar Romero, 65, colunista da Tribuna. Até hoje Cesar guarda uma foto da época ao lado de Roberto Carlos e de Eduardo Eurico, diretor da TV Tiradentes. Cesar, aliás, conseguiu uma entrevista exclusiva com o Rei na ocasião, relata.

“Foi uma entrevista muito rápida, no camarim, antes do show mesmo. Foi um bate-papo sobre a volta a Juiz de Fora após alguns anos. Muito simpático.”

Cesar lembra de ter comentado com Roberto Carlos sobre a lotação máxima do ginásio. O Rei, então, respondeu, de praxe, que, para o artista, o reconhecimento era tudo.

Beth aniversaria com o ídolo

A técnica em laboratório aposentada Elizabeth Garcia de Paiva Oliveira, 59, foi ao show de Roberto Carlos no Expominas, em 2013. “Saí de Barbacena com um casal de amigos só para ir ao show. Acabou e voltamos de madrugada mesmo para Barbacena.” A relação de Beth com o Rei não é apenas de idolatria. Ambos fazem aniversário no mesmo dia. “Eu faço 60 e ele 80 na próxima segunda-feira”. Quem não gosta de Roberto Carlos, não gosta de música, adverte. “Tudo o que ele faz, tudo o que ele canta é encantador.” Ela não conseguiu tietá-lo no show em Juiz de Fora, mas em Barbacena, cidade natal, já até pegou uma rosa jogada em uma das duas apresentações em que esteve presente. “Tietava à minha maneira, onde eu estava.”

Para Beth, o momento mais emocionante no Expominas foi quando Roberto Carlos cantou “Nossa Senhora” acompanhado pelo coro da plateia. À época, “Esse cara sou eu” estava no auge. A música também foi cantada em coro pelo público, relembra. “É inexplicável. O Roberto toca a alma.” Outra lembrança a qual a memória não lhe furta é a decoração. “O palco é sempre no tom azul, que é a cor preferida dele”, destaca. “Muitas luzes e sempre o tom azul de fundo.” Beth nem se importou com o congestionamento às portas do Expominas. “Estava tudo muito bom. Valeu a pena pelo show que a gente assistiu.”

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