
Dentre todas as bandas veteranas do rock nacional, o Raimundos é uma das poucas que pode se considerar uma verdadeira sobrevivente, devido à sua trajetória ímpar dentro do cenário musical brasileiro. Surgida no final dos anos 80, tocando covers dos Ramones, o quarteto chegou ao sucesso em 1994, ano de lançamento do seu primeiro álbum, com sucessos como “Selim” e “Nêga Jurema”, inaugurando um estilo só deles rotulado de forrócore. O sucesso acompanhou o grupo pelos anos seguintes, com centenas de milhares de cópias de seus CDs sendo vendidos, até o baque da saída do então vocalista Rodolfo.
O grupo lançou um álbum sem seu integrante original, chegou a dar um tempo nas atividades, ficou sem gravadora, saiu da mídia, mudou integrantes, voltou a gravar e, hoje, vive um dos melhores momentos de sua carreira, com direito a lançamento de um CD (“Cantigas de roda”) em 2014 e agenda lotada de shows, levando milhares de fãs às suas apresentações, muitos que sequer eram nascidos em 1994 mas foram conquistados pelo som pesado, agressivo e de letras críticas, irônicas – às vezes pornográficas – de Digão (vocal e guitarra), Marquim (guitarra), Canisso (baixo) e Caio (bateria), que chegam a Juiz de Fora nesta sexta-feira para se apresentarem na 11ª edição do JF Rock City, no Cultural. O repertório será o da turnê “Raimundos 20 anos”, em que tocam um repertório escolhido pelos fãs mais algumas da preferência dos integrantes da banda, abrangendo todas as épocas e momentos.
Um dos membros originais dos Raimundos, Digão conversou esta semana com a Tribuna, por telefone, ao mesmo tempo em que precisava lidar com as tarefas do lar. Com a simpatia e a simplicidade de quem não se deixa levar por toda a fama, ele falou sobre a trajetória da banda, o bom momento atual e os planos para o futuro – que incluem um acústico “nada conceitual’ para 2017.
Tribuna – O grupo Raimundos, no início da década de 90, era a banda da vez em revistas como a “Bizz”, na coluna “Rio Fanzine”, de “O Globo”, destaque de festivais independentes, e vocês conseguiram passar de promessa a realidade. Como é, hoje, ver a banda como a atração principal de um festival com tantos nomes que tentam conseguir o seu lugar ao sol?
Digão – É meio louco (risos). Acho que o Raimundos voltou a ser um parâmetro para as bandas de rock independente, pois passamos por vários momentos e continuamos, agora independentes, mas fortes e trabalhando. Tudo fruto de trabalho sério, que é o mais importante, pois não adianta ter o marketing se não tiver a verdade. Você pode até enganar por um tempo, mas não o tempo todo. Ficamos felizes com o que fazemos hoje, é muito chão, muito aprendizado. Estamos num momento ótimo na carreira, com uma força muito grande.
– A formação atual está consolidada há algum tempo. O quanto é importante para vocês ter essa segurança no palco após um período, na década passada, com momentos tão conturbados?
– Isso é importante para qualquer banda. Passamos por várias transições, transformações e estamos aí, há quase dez anos, com essa formação. A banda está sólida, entra no palco com uma equipe que já se conhece, sabe o que vai acontecer, até mesmo dentro do improviso. E estamos sempre melhorando, tudo vai se lapidando, se tornando melhor.
– O Raimundos passou por trocas de integrantes, saída de gravadora, chegou a suspender as atividades, ficou distante da mídia, mas hoje tem uma agenda repleta de shows. A que se deve essa “volta por cima”: a perseverança do grupo, os fãs que nunca abandonaram os Raimundos, ou os dois?
– É tudo, cara. A gente não se apoia no nome do Raimundos, e sim na competência que temos, vontade de tocar, amor pela banda e querer fazer um bom show sempre. Nossa resposta para quem diz que o Raimundos acabou está sempre no palco. Quem vai ao show vê que a banda é tão boa quanto antes, mesmo com as mudanças. A energia, espontaneidade, diversão, as risadas, tudo isso continua, e cada vez mais forte. E nunca perdemos o contato com o público. E o mercado fonográfico, hoje, é uma coisa muito louca, virou um jogo de cartas marcadas mesmo. Quem tem dinheiro aparece, tem um banho de boutique, vão enfiar goela abaixo, e o Raimundos está fora disso. Não temos como investir 200 mil, 300 mil reais para tocar nas rádios do país inteiro, e dinheiro e a verdadeira arte não combinam, né? O que preocupa um pouco são as bandas novas, que têm dificuldade para se estabelecer. Nós tínhamos uma gravadora no início, e hoje as bandas de rock só têm a internet. Mas elas estão aprendendo a se mexer com as armas que têm.
– Vocês vão se apresentar nos Estados Unidos em junho, de acordo com a programação de shows no site da banda. A turnê vai passar por quais cidades, e como que surgiu o convite?
– Vamos tocar em Nova York, Nova Jersey e acho que Boston, sei que vai ser em Massachusetts. Nós vamos tocar para os brasileiros mesmo, hermanos perdidos na América que estão fugidos do Brasil (risos). Foi nosso empresário que arrumou os shows, não sei exatamente como, parece que estão levando diversos artistas brasileiros para lá.
– O Raimundos tem feito apresentações acústicas eventuais. A banda tem pretensão de gravar um álbum no formato?
– Isso mesmo. Nosso próximo projeto é o DVD acústico do Raimundos, o tão esperado (risos). A gente ainda não tem data, porque vai ter esse negócio de Olimpíadas, surgiu a turnê Raimundos Rock Fest… É bom porque não queria lançar (o DVD) este ano, ainda mais com crise, Olimpíadas, não estou a fim de concorrer. Quero esperar o melhor momento. Ele vai ser lançado pela Som Livre e chegou a ser programado para ser gravado em junho, mas acho melhor que seja mais para o fim do ano, para que estejamos mais preparados, e aí lançamos no ano que vem. Esse disco vai ter uma vibe muito grande, a canção vai estar mais em evidência. Já fizemos alguns shows acústicos, temos outros na agenda, e está funcionando muito bem. O pessoal tem cantado junto, pulado do mesmo jeito. É um acústico muito poderoso, nada conceitual, acho até essa palavra meio afrescalhada (risos).
JF ROCK CITY
18 de março, às 22h, com os grupos locais Ellyot 5, Obey!, Smouke e Visco. Encerramento com Raimundos
26 de março, às 16h30, com Lotloryen (Poços de Caldas), Algar, Usversus, Martiataka, Traste, La Macchina, Kymera, Outubro ou Nada, Insannica, Glitter Magic, Vivenci, Radiocafé, The Basement Tracks e Soul High (Juiz de Fora). Encerramento com Matanza
Cultural Bar
(Avenida Deusdedit Salgado 3.955)