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Série documental ‘Resto de mundo’, de Diego Zanotti, chega ao Globoplay

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Dona Maninha, do Quilombo Remanso, é a personagem do primeiro episódio da série “Resto de mundo” (Foto: Diego Zanotti)
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No final de 2019, o documentarista juiz-forano Diego Zanotti resolveu partir para a Chapada Diamantina, no interior da Bahia, com uma câmera na mochila e sem uma ideia definida na cabeça. Quase dois anos depois, o resultado foi a série documental “Resto de mundo”, que entrou no catálogo do serviço de streaming Globoplay em setembro, além de ter estreado simultaneamente no canal Futura, onde fica até o final do mês com exibições às sextas-feiras, às 23h, e reprises às 16h de sábado.

Com sete episódios de aproximadamente 30 minutos de duração, a série reúne depoimentos de 14 “profetisas da caatinga” que Diego conheceu e entrevistou entre janeiro e março de 2020 na Chapada Diamantina, pouco antes do mundo virar de cabeça para baixo com a chegada da pandemia de Covid-19 _ por uma dessas ironias do destino, as personagens da produção respondiam justamente a questões que todos nós passaríamos a fazer pouco tempo depois sobre o destino do mundo, a partir dos saberes, culturas, tradições e crenças baseadas nas lições da ancestralidade brasileira.

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Além dos depoimentos e lições compartilhadas por essas mulheres, “Resto de mundo” também tem como chamariz a visão de Diego Zanotti a respeito desse universo, áudios trocados quando a pandemia já havia imposto o isolamento social e trilha sonora original composta por Daniel Tauzig, Juliano Natrielli e Zoe Dorey. Também participam da trilha mais de 30 artistas brasileiros e do Quênia, indo da consagrada Elza Soares a artistas de Juiz de Fora ou que viveram na cidade, como Tatá Chama e As Inflamáveis, Amanda Martins, Raquel Lara Rezende e Bella Guerra.

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Diego Zanotti passou cerca de três meses no interior da Bahia conhecendo aquelas que apelidou de “profetisas da caatinga” (Foto: Divulgação)

A sincronicidade dos encontros

A jornada que resultou em “Resto de mundo”, explica Diego, foi pontuada pela intuição. Sem conhecer a Chapada Diamantina, ele partiu para o interior baiano no final de 2019 com a câmera na mochila mas sem a pretensão, a princípio, de transformar essa jornada em uma produção audiovisual.

“Sempre gostei desse roteiro afetivo, feito no boca a boca. Queria conhecer a região e a população local, além dos seus mitos de origem e fim do mundo”, conta. “Mas fui com a sensação de iminência de alguma coisa, de que estava tudo entrando num certo colapso. Nem imaginava que viraria uma série, o desejo era apenas de encontrar essas mestras; porém, uma pessoa foi indicando outra, e essa sincronicidade me fez cruzar com pessoas cruciais que me levaram a essas mulheres.”

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“Foi uma experiência impactante e especial poder escutar essas mestras, porque tem a coisa da oralidade, do tempo, da prosa, de conviver ali e trocar afetos, de sermos aprendizes desse tempo expandido, dessa escuta, da ancestralidade que tomamos contato ao entrarmos na fonte desses saberes. Não deixa de ser uma forma de resistência a esse mundo prático mostrar outras formas de enxergar a vida, não tão objetivas”, prossegue. “E é um cinema que respeita os territórios, estamos aprendendo como chegar devagarinho nesses lugares e criar elos de comunicação que vão além dos filmes.”

A força da solidariedade

Diego terminou as gravações e retornou para Juiz de Fora poucos dias antes do país ser impactado pela pandemia. Ao pegar o material bruto para decupar em casa, a série surgiu. “Lá estavam essas mulheres falando do destino do mundo, sinalizando esse momento trágico de alguma forma”, pontua. “Por isso que falo em sincronicidade, pois havia algo acontecendo em várias dimensões e que nos deixou impressionados. Não tivemos contato prévio com muitas dessas personagens, conhecemos na hora de gravar, é como se houvesse forças além da matéria.”

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Além dos registros feitos no interior da Bahia, a série também é marcada pelos áudios trocados por Diego Zanotti com a equipe de produção e as personagens da série, que ajudam a dimensionar as diferenças e semelhanças entre realidades tão diferentes, e ao mesmo tempo tão próximas diante do cenário pandêmico mundial.

“Esses áudios tinham muita força, pois estávamos passando por um dos momentos mais delicados da humanidade. Deram um tom de querer viver, resistir a essa dor coletiva, a esperança de que tudo vai dar certo, além da torcida para que a Covid não chegasse até aquela região. É como se a ilha de edição fosse uma forma de elaborar essas dores”, filosofa, acrescentando que está nos planos voltar à Chapada Diamantina para encontrar as “profetisas da caatinga”.

“Foi difícil não poder fazer uma devolutiva para elas no mesmo momento em que lançamos a série. Nosso desejo é voltar até lá no melhor momento possível, mas por enquanto mantemos contato com elas, estamos nos mobilizando em projetos na região que possam ajudar essas protagonistas. E também pretendemos desenvolver projetos com as artistas que colaboraram com a série.”

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