
Emílio Orciollo Neto vivencia seis desabafos no palco do Central
"Quando se está sozinho no palco, não há para onde fugir, não dá para enganar", constata Emílio Orciollo Neto, definindo o espetáculo "Também queria te dizer – cartas masculinas" como um dos trabalhos mais desafiadores em seus 23 anos de carreira. O primeiro monólogo do ator terá única apresentação em Juiz de Fora nesta sexta, às 21h, no Cine-Theatro Central.
"Procuro me lançar no trabalho da forma mais intensa. Sou muito crítico, cobro muito de mim mesmo", diz, em entrevista por telefone à Tribuna, em meio aos intervalos de gravação da novela "Amor à vida", na qual interpreta o bon vivant Murilo. "O personagem vai ter uma virada bem bacana na trama. Ele começa a trabalhar como professor de etiqueta e oratória da Valdirene (Tatá Werneck), e será bem engraçado", conta.
O texto do espetáculo – que estreou no fim do último ano e teve temporada de sucesso no Rio de Janeiro – é uma compilação de cartas do livro "Tudo que eu queria te dizer", da escritora gaúcha Martha Medeiros, que ultrapassou a marca das cem mil cópias vendidas. Com direção de Victor Garcia Peralta, a peça conta a história de um artista plástico que faz uma instalação usando cartas e se permite viver a vida dos remetentes de algumas delas, narrando seus desabafos. "É um trabalho delicado, artesanal. O público se emociona, se diverte, sai do teatro refletindo sobre questões da vida prática, do dia a dia do ser humano", diz Orciollo.
São seis depoimentos, vividos em primeira pessoa, de homens entre 18 e 70 anos. Com humor e sensibilidade, são abordados medos, mágoas, revoltas, alegrias e tristezas em situações nas quais emergem culpa, traição, tragédias pessoais, preferências sexuais. "Há uma humanização muito grande do texto, a todo tempo contemporâneo e pertinente. É impossível não se identificar com uma das cartas ou não conhecer alguém que já tenha passado pelo que está sendo dito", observa o ator, que no fim de cada sessão se dispõe a participar de um bate-papo com a plateia. "Respondo a perguntas, ouço críticas, elogios. Esse momento tem sido muito importante."
"Sou um eterno observador"
Em cena, o processo de criação vem à tona vertiginosamente, já que os personagens são vividos sem recursos de maquiagem ou troca de figurinos e adereços. O caminho toca no sensível trabalho do ator e em todas as suas possibilidades de atuação, utilizando somente as primordiais ferramentas de corpo e voz. Mas ao mergulhar de maneira profunda na alma humana em cena, o ator mergulha também em sua alma de artista. "Como artista, busco a transcendência. Às vezes, consigo, às vezes, não", diz.
"Você goste ou não do trabalho, o artista tem que continuar desenvolvendo a sua arte. Nesse universo poético, é tudo muito pessoal, mas a arte é universal", reflete o ator comparando seu ofício ao do desenvolvido na trama pelo artista plástico em sua instalação. "As cartas que chamam sua atenção são vivenciadas. E são todas muito interessantes e tocam em um determinado momento ou lugar da minha vida."
O que é absorvido pelo ator em todos os anos de interpretação e vivência de vidas alheias, é, segundo Orciollo, uma mistura de tudo. "Você acaba absorvendo um pouco de tudo, mas, com o tempo, aprende que não pode levar esses personagens e seus dramas para a casa, para a cama, porque senão você enlouquece. Passa a fazer tudo de uma forma mais técnica, sem se machucar, mas sem perder a intenção", avalia. "O ator tem um trabalho de observação do comportamento humano constante no seu dia a dia. Eu procuro fazer isso e colocar nos meus personagens. Sou um eterno observador."
Dedicando-se à atuação desde os 15 anos, Orciollo assina diversos trabalhos na TV, no cinema e no palco. "O teatro é a casa de todo ator. Você se recicla, escuta coisas diferentes, cada praça tem uma pegada. Mas amo todos os meios, gosto mesmo é de bons personagens e trabalhos interessantes."
Além de se dedicar à turnê do espetáculo e às gravações da novela, o ator está em cena no longa "O inventor de sonhos", dirigido por Ricardo Nauenberg, que acaba de estrear nos cinemas do país e se passa na época da chegada da família real ao Brasil. "Vem muito trabalho bacana por aí", diz o ator. Em fevereiro, Orciollo também integra o elenco dirigido por Caio Sóh no filme "Por trás do céu".
TAMBÉM QUERIA TE DIZER
Sexta, às 21h
Cine-Theatro Central
3215-1400