“Nasci cantando no coral da igreja. A minha família toda era da igreja. Então, a gente já tinha a influência do ‘oh, happy day'”, canta Afrodite, 28 anos, a cappella, o trecho do clássico gospel gravado por Edwin Hawkins na década de 1960. Desde criança, a cantora e compositora tem influência de artistas como Aretha Franklin (1942-2018), Al Green e Kirk Franklin. “Cresci ouvindo tudo isso, e também as músicas mais dos anos 1980 e 1990. A minha mãe amava.” O single autoral “Despertar”, lançado em 3 de setembro, expõe o potencial vocal de Afrodite, cujas referências ainda vão desde Nina Simone até Emílio Santiago.
Conforme a cantora, o que tem nítido para si, como é materializado por “Despertar”, é compor canções para ajudar as pessoas. “Às vezes a gente acha que está tudo errado, e o que está errado é, na verdade, apenas a forma que estamos pensando e encarando a realidade. Pode estar um pouco ruim agora, mas pode haver uma luz também. É mais sobre para onde decidimos dar atenção.” O single, aliás, como admite, foi composto quando “pensava realmente em desistir”. “Estava pensando em não fazer mais nada, mas, ao mesmo tempo, ponderei que se é algo que me faz agir, que me move, então é verdadeiro. A gente sempre fica esperando coisas que os outros vão falar ou validações de outras pessoas. A nossa validação é que é a mais importante.”
Embora seja influenciada pela música gospel, Afrodite não é filiada ao gênero musical. A cantora compreende a própria sonoridade mais próxima à soul music, somada a influências do “healing music” – em tradução livre, música de cura. “Quando falo em ‘healing music’, é transformação, transformação e transformação. Você como agente principal da sua vida. É um convite à mudança, você estar desperto para a sua natureza. Todas as minhas músicas têm este contexto. Falo muito sobre a busca por si mesmo”, explica. O propósito, em suma, é ajudar o próximo. “Se é algo que me ajuda a andar, a sensação que tenho é que pode ajudar outras pessoas também.” Afrodite não considera, entretanto, a ‘música de cura’ um gênero musical.
Em “Despertar”, o conceito é valorizado a partir da marcação dos instrumentos, de acordo com a cantora. “Usei instrumentos que sinto que trabalham mais como se fossem a batida do nosso coração. Comecei com uma bateria muito marcada e o baixo fazendo a cama toda. É uma ambientação um pouco misteriosa e profunda em que as coisas começam a fomentar. Ali, é como se fosse algo subindo, acontecendo e, de repente, explode. Há vida, principalmente nos lugares em que você acha que não.” A guitarra e o contrabaixo são de Alice Werneck, o piano e o hammond, de Pablo Garcia, e a bateria, de João Cordeiro. A produção musical também foi de Alice Werneck.
Mais som
Afrodite ainda planeja lançar em 23 de outubro os singles “Luz que vem” e “Valor invisível”. Ambos, assim como “Despertar”, foram compostos durante a pandemia – “tenho aproveitado muito para escrever”, diz. Mas a sonoridade será distinta. As próximas canções revelarão as influências de Bob Marley sobre Afrodite. “É um reggae bem Jamaica, estilo estúdio Bob Marley”, brinca. “Usei instrumentos bem crus para pegar a sonoridade. A gente não fez nada no computador. Isso deu um resultado mais orgânico, mais visceral, que era o que queria passar.”