Um é pouco, dois é bom e três formam um belo trio de música de câmara. Formado pelos brasileiros João Carlos Ferreira, Eduardo Swerts e a sérvia Jovana Trifunovic – todos integrantes da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais -, o Trio de Cordas Villani-Côrtes lança neste sábado, no Teatro Pró-Música (com entrada franca), o seu trabalho de estreia, “Três tons brasileiros”, gravado por meio do programa Natura Musical. O repertório do disco e da apresentação é marcado por trabalhos para trios brasileiros mais antigos e duas composições inéditas, uma de Cláudio de Freitas e outra do juiz-forano Edmundo Villani-Côrtes, cujo nome do trio é uma homenagem ao compositor.
A produção do álbum, gravado no primeiro semestre deste ano, ficou a cargo de João Carlos Ferreira, também nascido em Juiz de Fora, e Bernardo Bessler foi o responsável pela direção musical. “Tentamos retratar várias facetas da música erudita brasileira (neste álbum)”, explica João. “As duas estreias mundiais são os trios de Edmundo Villani-Côrtes e Cláudio de Freitas, que são peças que foram dedicadas ao Trio de Cordas Villani-Côrtes. A escolha do repertório se deu em função de criar um panorama da música brasileira, abrangendo diferentes linguagens e estilos. Temos, então, um CD em que as obras caminham de forma complementar, mas sempre mantendo características próprias e únicas de cada compositor. Lembrando que a terceira obra do CD é o trio do mestre Heitor Villa-Lobos, um criador que foi muito preocupado em universalizar as tradições nacionais.”
“É estimulante o fato de termos podido adicionar duas novas obras ao repertório nacional, e nos alegra muito que o nosso trio não tenha sido o único beneficiado por todo esse apoio”, acrescenta. “Esperamos que essas peças possam fazer parte da cena musical brasileira devido à grandiosidade que revelam desde uma primeira audição. E não posso deixar de agradecer ao patrocínio do programa Natura Musical, que é um apoiador exemplar da música brasileira em suas diversas vertentes e que permitiu que esse projeto nascesse.”
Do antigo ao inédito
Quanto ao repertório de “Três tons brasileiros”, o músico e diretor musical do Villani-Côrtes salienta o desafio de abarcar em um mesmo trabalho composições de estilos tão diferentes sem perder a coerência em seu produto final. “Isso, em si, já é um desafio: se adaptar para buscar o melhor de cada obra. Aí entra também outro lado: são obras extremamente difíceis do ponto de vista técnico. Seja na questão da unidade do conjunto, seja na execução de cada uma das partes. Para o grupo, isso representa muito, já que somos o único ou um dos pouquíssimos trios de cordas fixos do Brasil.”
O desafio, todavia, não se encerra apenas na execução das composições selecionadas, é preciso que os três músicos consigam ter a harmonia, a química necessária para lidarem com as diferenças de estilos e assim se complementarem no estúdio e nos palcos. “O trio de cordas é uma instituição musical única porque carrega uma principal peculiaridade para os instrumentistas: o limitado número de músicos faz com que o violino, a viola e o violoncelo tenham que atuar de forma solista durante todo o tempo. Formações maiores podem se apoiar na força da unidade do conjunto, tendo um ou outro instrumento atuando de forma solista. Já a unidade do trio acontece quando os três músicos atuam de forma mais independente, criando, aí sim, uma quarta imagem que é o resultado dessa união”, explica.
“No nosso caso, temos uma violinista sérvia, Jovana Trifunovic, que carrega a grande tradição musical eslava. O Eduardo Swerts, nosso celista, é mineiro de Belo Horizonte e teve uma longa formação na Alemanha, um dos berços da música clássica. E eu tenho sido um músico de orquestra e de grupos de câmara por mais de dez anos. Então a junção desses diferentes estilos nos ajudou a criar e solidificar o som que apresentaremos.”
Estreia ‘em casa’
Após a apresentação no Pró-Música, o Trio de Cordas Villani-Côrtes vai realizar apresentações também gratuitas em Belo Horizonte (domingo) e Ouro Preto (dia 24). Segundo João Carlos, ele aproveitou o fato de ser filho da terra para fazer uma força e realizar o concerto de lançamento em sua cidade natal – o que também cria uma expectativa particular para o músico. “Será a primeira vez que tocaremos as obras em público, sendo, assim, suas estreias mundiais. Já falando em uma perspectiva mais pessoal, é sempre um grande prazer tocar em Juiz de Fora, as apresentações também me carregam de sentimentos saudosistas que se unem à energia do concerto, criando um ambiente único e forte, além de extremamente feliz.”
Por fim, o músico explica as razões para o trio ter homenageado Villani-Côrtes dando ao projeto o nome do compositor mineiro. “Eu tive a oportunidade de conviver com o Villani enquanto era estudante da Escola Pró-Música. O Eduardo tocou peças dele, inclusive na sua formatura na Alemanha. Sabíamos da importância dele para a música brasileira atual. A Jovana não conhecia tanto, o que não impediu que hoje ela seja uma grande fã. Então não foi difícil fazer essa homenagem. O Villani, além de tudo, é uma pessoa encantadora. Hoje sentimos que não poderíamos ter feito uma escolha melhor.”
TRIO DE CORDAS VILLANI-CÔRTES
Lançamento de CD neste sábado, às 20h
Teatro Pró-Música
(Avenida Rio Branco 2.329)
Entrada franca