Atualmente, nada menos que 18 filmes inspirados em histórias em quadrinhos fazem parte da lista de cem maiores bilheterias de todos os tempos, sendo que cinco produções ultrapassaram a marca do bilhão de dólares: “Capitão América: Guerra Civil”, os dois “Vingadores”, “Homem de Ferro 3” e “Batman: O Cavaleiro das Trevas ressurge”. Essa proporção – de praticamente um longa a cada cinco – pode aumentar até o final do ano, com as eventuais inclusões de “Esquadrão Suicida”, que estreou na última semana, e “Doutor Estranho”, que estreia em novembro. Três longas já entraram para o Top 100 este ano: além de “Capitão América: Guerra Civil”, que passou do bilhão de dólares em todo o mundo, “Deadpool” – que foi lançado em março – surpreendeu ao render US$ 783 milhões para Fox, enquanto “Batman vs. Superman” passou dos US$ 800 milhões mesmo longe de ser uma unanimidade.
Rendendo pelo menos os US$ 644 milhões obtidos pelo menos “lucrativo” da turma (“Thor: O Mundo Sombrio”, de 2013) para estarem no Top 100, essas produções podem ser considerados um gênero à parte na sétima arte: o de filme de super-herói, capaz de fazer com que personagens desconhecidos do grande público (caso dos Guardiões da Galáxia) obtivessem nada menos US$ 773 milhões na boca do caixa. Essa mudança, entretanto, deve-se ao filme que pode ser considerado o “marco zero” do gênero, mesmo fora da lista: lançado no ano 2000, “X-Men” custou US$ 75 milhões e rendeu US$ 296 milhões para a Fox. Ironicamente, o mais recente filme da franquia mutante, “Apocalipse”, decepcionou nas bilheterias ao render cerca de US$ 530 milhões, bem distante da lista dos cem mais.
“X-Men” tem o mérito de ser o filme que mostrou para os estúdios que era possível fazer longas metragens inspirados em personagens de HQs, desde que se apostasse em diretores, atores, roteiristas, efeitos especiais e marketing. Até mesmo a Marvel, que esteve à beira da falência na década de 1990, soube aproveitar o momento para dar a volta por cima e faturar nada menos que US$ 10 bilhões com os 13 filmes produzidos pelo braço cinematográfico da editora, comprado pela Disney por US$ 4 bilhões em 2009.
Existe, entretanto, uma série de produções para a tela grande e TV muitas vezes esquecidas, quase sempre devido à péssima qualidade das produções, com altas restrições orçamentárias e produzidas por gente que não era do ramo. Há exceções, claro, como o primeiro “Conan” e, com muita boa vontade, “O Sombra”. De resto, temos inúmeras produções trash que merecem ser relembradas e assistidas para entender porque devemos agradecer ao primeiro “X-Men” pela existência, hoje, de longas como “Capitão América: Guerra Civil”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e até mesmo “Deadpool”.
Doutor Estranho
Benedict Cumberbatch foi o escolhido para envergar a capa do Mestre das Artes Místicas, mas em 1978 a CBS chegou a produzir um piloto para uma possível série de TV, protagonizada por Peter Hooten e seu visual de Senhor Madruga. Apesar do sucesso que a série do Hulk fazia na época, a produção capenga acabou afugentando os patrocinadores e caiu no limbo. Por razões que desconhecemos, o “Doutor Estranho” psicodélico chegou a fazer parte da programação dos canais de filmes por assinatura no Brasil.
Quarteto Fantástico
Se os três filmes com o Quarteto Fantástico produzidos pela Fox são ruins, esta versão dirigida por Roger Corman em 1994 consegue ir além. É horrível, horroroso, pavoroso, risível, desagradável de se assistir, a ponto da Marvel mandar destruir todas as cópias do longa. Por sorte, alguma alma caridosa conseguiu salvar um dos rolos de filme e disponibilizá-lo na internet, onde é possível conferir os (d)efeitos especiais que tornam “Quarteto Fantástico” algo desagradável aos olhos – ainda mais com um roteiro tão destrambelhado.
Geração X
O fracassado piloto para uma abandonada série de TV serviu para a Fox perceber como não fazer um filme dos X-Men. “Geração X” comete a proeza de ter entre suas fileiras os mutantes mais fuleiros e insuportáveis – o que obviamente justifica a presença da chatonilda Jubileu -, treinados pela Rainha Branca e Banshee. Esse timinho mequetrefe enfrenta um vilão de terceira e sua “máquina dos sonhos” (???).
O Monstro Do Pântano
O destino tem, definitivamente, os seus mistérios. Após o sucesso estrondoso dos dois primeiros filmes com o Superman, o próximo personagem a ganhar adaptação para a tela grande foi o Monstro do Pântano, que na época sequer tinha revista própria e anos antes da sua reformulação pelas mãos de Alan Moore. O longa, lançado em 1982, foi dirigido por ninguém menos que Wes Craven, mas a produção foi um fiasco total graças ao baixo orçamento e roteiro pífio. A roupa de borracha (!) usada pelo intérprete do personagem é das coisas mais constrangedoras que já existiram. O personagem chegou a ganhar um outro filme, anos depois, além de um seriado e desenho animado, todos igualmente esquecíveis.
Howard O Pato
Cheio de moral por conta de “Star Wars”, George Lucas se meteu a produzir essa lamentável versão para os cinemas de Howard, O Pato, personagem criado por Steve Gerber nos anos 1970 para a Marvel. O filme é ruim demais, desde os efeitos especiais, a fantasia do pobre coitado que interpretou o personagem principal, o roteiro e as interpretações. O resultado foi um retumbante fracasso de bilheteria e um longo período no limbo para Howard, que só voltou à tela grande na cena pós-créditos de “Guardiões da Galáxia”.
Capitão América
Vamos pular as produções em preto e branco para o cinema, nos anos 1940, e ir para o que interessa: os três telefilmes produzidos com o personagem. Dois deles foram produzidos em 1979 e mostravam o Capitão combatendo o crime de motocicleta (!), capacete (!!) e um escudo de acrílico (!!!), com direito a Christopher Lee de vilão no segundo longa. Houve uma nova tentativa em 1992, com Matt Sallinger (filho do escritor J.D. Sallinger) vestindo o uniforme do Sentinela da Liberdade. Por sorte, o Capitão América ganhou três filmes excepcionais no universo cinematográfico da Marvel.
Blade
O mestiço de humano e vampiro interpretado por Wesley Snipes merece entrar na lista porque teve seu primeiro filme lançado antes de “X-Men” e por ter como protagonista um personagem pouco conhecido mesmo pelos fãs de quadrinhos. Os três filmes com o caçador de vampiros estão longe de ser clássicos do gênero, mas não provocam vergonha alheia em quem os assiste, mesmo que os vilões sejam meia-boca (incluindo aí o Drácula de Dominic Purcell).
Hulk
A clássica série do Hulk nos anos 1970 não é nenhum primor de teledramaturgia, mas conseguiu conquistar o público com os dramas do cientista David Banner, que se transformava no Gigante Esmeralda e ao final de cada capítulo fugia de uma cidade com aquela musiquinha melancólica. Pois foram produzidos três telefilmes com o personagem na década de 1980, com as participações especiais de Thor e Demolidor e que eram presença constante na programação do SBT. Um quarto filme chegou a entrar em pré-produção, mas a morte de Bill Bixby (David Banner) pôs por terra a iniciativa.
Guerreiros De Fogo
Dino Di Laurentiis aproveitou o sucesso de “Conan, o Bárbaro” e “Conan, o Destruidor” para produzir este longa com a personagem integrante do mesmo universo do gigante cimério, que não aparece no longa… ou não. Arnold Schwarzenegger, intérprete do personagem, participa do longa como Lorde Kalidor, um dos “nomes de viagem” de Conan. Brigitte Nielsen, a Sonja, ganhou o Framboesa de Ouro de pior atriz e pior estreia.
Conans
Lançados em 1982 e 1983, respectivamente, “Conan, o Bárbaro” e “Conan, o Destruidor” fizeram a alegria dos fãs do personagem criado por Robert E. Howard e de quem gosta de filmes de luta, porradaria e mulheres com pouca roupa. As restrições orçamentárias, inclusive, foram essenciais para que “Conan” tivesse o espírito de aventura pulp que era vista nas edições em preto e branco de “A espada selvagem de Conan”, revista que a Editora Abril publicou por mais de dez anos graças ao sucesso do personagem. E jamais haverá outro ator tão perfeito para o papel quanto o monossilábico Arnold Schwarzenegger.
Supergirl
Superman já havia estrelado três filmes quando tentaram pegar carona na capa vermelha do herói, mas “Supergirl”, lançado em 1984, é absolutamente constrangedor. O longa foi um fiasco de crítica e bilheteria que se tornou cult graças à presença de Helen Slater vestindo o uniforme de sainha curta. Pior para Faye Dunaway, Mia Farrow e Peter O’Toole, que emprestaram seus nomes e prestígio para esta bomba cinematográfica, mais uma que era presença constante na programação do SBT.
O Sombra
Adaptação do personagem criado por Walter B. Gibson em 1931, “O Sombra” é o tipo de filme que não muda a vida de ninguém, mas é agradável de se ver. Alec Baldwin, quem diria, interpretou o vigilante mascarado, um milionário que perdeu o rumo lá pelas bandas do Oriente antes de dar um jeito na própria vida. O clima de filme noir que permeia a produção garante a simpatia, além da risada característica do personagem que sabe o mal que se esconde nos corações dos homens.
Justiceiro
Gostou da participação de Frank Castle em “Demolidor”? Pois saiba que o personagem foi o astro de três filmes lamentáveis lançados a partir de 1989, com três protagonistas diferentes (Dolph Lundgren, Thomas Jane e Ray Stevenson. Se juntar os três, não se consegue ter um filme decente, tamanha a combinação – em maior ou menor grau – de péssimas interpretações, roteiros ruins e direção pior ainda. É torcer para que a série do personagem na Netflix compense o estrago para as retinas.
Nick Fury: Agente Da S.H.I.E.L.D.
Antes de ganhar a carranca de Samuel L. Jackson no cinema, Nick Fury foi interpretado por David Hasselhoff (“Super Máquina, “S.O.S. Malibu”), nesta produção de 1998 para a TV que até aproveita vários personagens dos quadrinhos (Barão von Strucker, Armin Zola, “Dum-Dum” Dungan) que aparecem nos filmes mais recentes da Marvel. Na história, Fury e a S.H.I.E.L.D. precisam evitar que von Strucker mate toda a população de Nova York utilizando um vírus mortal. A produção chegou a ser exibida na TV brasileira e ganhou edição em DVD, mas é do tipo que apenas os mais fortes conseguem assistir até o final.