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Outras ideias com Manoel Monteiro Silva

seu manoel ja foi vereador em sao joao nepomuceno marcelo ribeiro12 08 2015

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Seu Manoel já foi vereador em São João Nepomuceno (Foto: Marcelo Ribeiro/12-08-2015)
Seu Manoel já foi vereador em São João Nepomuceno (Foto: Marcelo Ribeiro/12-08-2015)
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“A felicidade consiste em saber aceitar as determinações de Deus”, diz uma mensagem num papel de pouco mais de 7cm de largura por 4cm de altura. “Quando tudo parecer escuro e sombrio na sua vida, olhe para a beleza das estrelas, e se guie pelo seu brilho, rumo a um novo amanhecer”, aconselha a outra. “O deserto pode ser longo, mas a fé diminui a distância e o faz suave como a neve e azul como o céu que foi pintado por Deus”, indica, ainda, outra. Todas elas, em grande número, surgem dos bolsos de Manoel Monteiro Silva, que, aos 82 anos, segue por consultórios médicos, lojas, mercados, padarias e outros estabelecimentos do Centro, distribuindo suas palavras de gentileza. Como o profeta que fez história nas ruas do Rio de Janeiro, Manoel oferece acalanto em texto.

“Meu pai era esotérico e gostava de escrever mensagens. Espalhou mensagens durante 70 anos. Eu faço desde 1972, e não me atrapalha nada nos negócios”, conta. “As pessoas que pedem minhas mensagens costumam sarar. Param de beber, de fumar. Uma moça me contou isso ontem, que vai a uma loja buscar mensagens minhas”, orgulha-se. E de onde vem a inspiração? “É de Deus”, responde, apressado. E livros, já publicou? “Não publiquei porque fica caro fazer, e não sei bater à máquina, dependo dos outros. Já o xerox é mais barato”, diz ele, que, “esses dias fez uns R$ 300 delas”. Rapidamente faço as contas: cada xerox custa R$ 0,10, cada folha possui seis mensagens, então, Manoel fez, “esses dias”, 18 mil delas. “Rapidamente acaba. Todo mundo ajuda a distribuir”, surpreende-me mais.

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Pela água

Nascido em São João Nepomuceno, aos 15 anos desembarcou em Juiz de Fora, morando numa pensão na Rua São João, para estudar. Concluído o científico, retornou à terra natal e fez o curso para se tornar contador, mas acabou indo para a roça, tirar leite, ao lado do pai. “Ele tinha uma fazenda”, conta. Por lá ficou até os anos 1970. Ao chegar à zona urbana, candidatou-se a vereador e foi eleito como o mais votado de São João Nepomuceno. A legislatura durou de 1977 a 1983. Manoel, tentou novamente, como vice-prefeito e vereador, mas não obteve os votos necessários. “Perdi as eleições e me mudei. Pensei: ‘Esse povo não me quer mais’. Minha plataforma era o tratamento da água, porque morriam 180 crianças por ano numa cidade de 15 mil habitantes. Hoje não falta água, e ela é tratada, mas antes era complicado”, explica o autor de “A natureza”, mensagem na qual defende que “a natureza não negocia os seus direitos, e, acima de tudo, é indomável”.

 

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Homem das hipnoses

Antes de mais uma vez transferir-se para Juiz de Fora, Manoel fez curso de parapsicologia, no Rio de Janeiro, com Frei Albino Aresi. “Sei fazer hipnose, regressão, mas não estou fazendo porque estou muito trêmulo. Fazia gratuitamente, porque quem tem o dom para essas coisas não pode cobrar”, conta o pai de quatro filhos e marido de Maria de Lourdes. Trabalhador desde pequeno, o homem de voz firme começou cedo no batente, aos 7. “De primeiro, os porões eram altos e o pessoal jogava vidro quebrado lá. Entrávamos, pegávamos e vendíamos para a guerra”, conta ele, que já foi de tudo um pouco e aposentou-se como empresário, dono de uma loja de frios em São João Nepomuceno. “Nunca fui empregado, mas já fui presidente do Lions, do Abem (Associação do Bem-Estar do Menor), do Clube Campestre. Aqui, ajudei a fazer a Festa das Nações, ajudei a construir uma escola”, enumera.

 

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Tempo de mudas

O “Gentileza de Juiz de Fora” vendia doces, depois mudas. “Há dez anos, parei com as mudas. Mas foi o melhor negócio que achei. Comprava por R$ 1 e vendia por R$ 10. Quem vendia só tinha muda velha, com raiz torta. Como sou agricultor e conheço, sabia as que se desenvolviam. Vendi muda de acerola, azeitona do Ceilão, jambo, abacate, banana”, diz. Enriqueceu? “Não, mas formei meus filhos e moro no melhor lugar da cidade”, responde o morador do edifício de número 1.966 da Avenida Rio Branco. Com as mãos machucadas por um tombo na rua, Manoel espera viver muito, 100 ou até 200 anos. Não pensa em parar de escrever e distribuir suas mensagens. Quedas não lhe assustam, me assegura: “Não fico com medo. Levanto e continuo”.

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