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Darlan Lula lança seu novo livro ‘Em tempos de Covid-19’

Darlan foto Rizza Divulgacao
“Perceber que nem a felicidade nem a tristeza são constantes e a vida é transitória. O livro, de certa forma, é um convite a esse pensamento”, ressalta Darlan (Foto: Rizza/ Divulgação)
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Darlan Lula decidiu, em seu novo livro, estampar, já na capa, o coronavírus. Decidiu também trazer a doença no nome: “Em tempos de Covid-19”. Por mais impactante que possa ser olhar para o motivo de tantas mortes, ler novamente o nome que ocupou as cabeças de toda a população durante tempos e mais tempos, isso, ao contrário, dá também um alívio: passou. Já tinha alguns anos em que o escritor não se inspirava da mesma forma que antes. A esperança era pouca e ela refletia na forma como ele encarava o ato da escrita. Por demanda, foi retomando o ofício. Na pandemia mesmo, passou a querer encontrar, de alguma forma, essa esperança perdida, e escrever. Escrever com a pandemia ali, de fundo. Mesmo sem ser o tema principal, ela está ali, perpassando os contos que se dedicou a fazer crescer. Assim nasce “Em tempos de Covid-19”, que tem lançamento na sexta-feira (19), às 18h30, no Tertúlia Espeteria.

São 17 contos, a grande maioria escritos na pandemia mesmo. A doença da Covid-19 se apresenta de diferentes formas: seja mesmo nas mortes, ou no escancaramento das diferenças sociais, ou no desejo de percorrer, mais uma vez, as cidades, ou na necessidade de se pensar no passado como forma de prever o futuro. Darlan retrata isso em cada um dos textos. O interessante é também poder ver Juiz de Fora presente nas páginas, nomes importantes no ideário do município, trechos com sabor de memória afetiva. “Eu não consegui fugir da nossa cidade: ela que me acolheu e que já virou minha e passei a amar.” As ruas juiz-foranas ajudam a construir cada cenário do texto. Isso traz identificação ao mesmo tempo que dá caminhos para transpor o assunto a qualquer outra cidade. “Um efeito cosmopolita”, resume o autor.

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Mas o que Darlan mais faz é convocar o leitor à reflexão. A ética (ou a falta dela, como ele antecipa) também é plano de fundo das discussões. Ele, apesar de não querer apresentar viés político nas páginas, também não conseguiu fugir dessa ideia. “Eu queria me libertar disso e entender como tudo se deu. Tinha que trazer, sim, esse tipo de discussão”, assume. Nas vozes dos personagens ou no contexto criado, deixa muito claro o abismo social aumentado por decisões políticas, bem como as diferenciações entre o que é, verdadeiramente, uma ameaça à democracia e ao bem-estar.

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Darlan ainda se coloca em “Em tempos de Covid-19”: ele, o Darlan do passado no agora, olhando as situações com outros olhos, bem mais atentos. Revive experiências traumáticas que envolvem, cada vez mais, a ética e debate o lugar, por exemplo, da religião. Em “O sorriso do padre” ele planta uma semente e traz à tona um caso que afirma que ainda vai escrever mais sobre, por necessidade. Acha que apresentar as situações é melhor que “esconder debaixo do tapete”, apesar da dor.

A pedido da Tribuna, em 2020, ele escreveu “Sob o mesmo Sol” e o incluiu no livro. Ali já há esperança – ela fica presente, de certa forma, em algumas linhas, mesmo que escondidas. Porque falar da “desgraça”, como ele fala, às vezes, não é o suficiente. Por exemplo: no conto “Reflito, existo, persisto”, o personagem caminha pela Avenida Paulista e se pergunta como chegamos até aqui. Triste com o rumo das coisas, alguns sinais o alegram. Ele encontra, então, a esperança, e afirma: “A vida tem, sim, solução”.

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Darlan, como escritor, pensa que essa solução pode ser encontrada em diferentes lugares. Essa fagulha da esperança é pólvora. Mas qual seria a solução? “A solução é entender que viver é exercício do caos, como eu falo em outro livro. Perceber que nem a felicidade nem a tristeza são constantes e a vida é transitória. O livro, de certa forma, é um convite a esse pensamento. Tentei, apesar de tudo, colocar uma leveza no mundo. A gente transcendeu isso tudo. Passou, e estamos vivos e bens. ‘Em tempos de Covid-19’ propõe, a partir do que está escrito, refletir sobre toda essa situação.” Depois de tantos anos sem inspiração, ele encontrou, então, um caminho: “A partir de agora, posso dizer que vou tentar, ainda mais, falar sobre esperança”.

 

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