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2024 é instituído como o Ano Nacional Fernando Sabino

Legenda: Fernando Sabino fez estágio como aspirante no Quartel de Cavalaria de Juiz de Fora, experiência que inspirou episódios cômicos do livro “O Grande Mentecapto” (Foto: Acervo pessoal )
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“A verdadeira inspiração é aquela que nos impele a escrever sobre o que não sabemos, justamente para ficar sabendo”. Essa é uma das inúmeras frases ditas pelo pós-modernista, Fernando Sabino. Conhecido por suas obras, o escritor mineiro comemoraria, em outubro de 2023, 100 anos. Diante de tal marco, em 2024, ano em que se completam 20 anos de sua morte, será celebrado o centenário do nascimento do pós-modernista. Dessa forma, 2024 foi instituído como o Ano Nacional Fernando Sabino. A lei que estabelece tal homenagem foi sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo o texto publicado no Diário Oficial da União, no último dia 8 de janeiro.

Segundo o relator do projeto no Senado e presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, “Ele (Sabino) merece ser celebrado por sua inestimável contribuição às letras e ao serviço público. Ele não foi apenas um escritor de renome, mas um cidadão exemplar. Seu legado permanece vivo, sendo um verdadeiro tesouro nacional”. Essa sanção destaca não apenas a relevância literária de Sabino, mas também oferece a oportunidade do resgate da memória e elementos culturais da época em que ele viveu.

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Nascido em 1923, em Belo Horizonte, Fernando Sabino iniciou sua jornada literária aos 12 anos, escrevendo contos. Seu primeiro livro, “Os grilos não cantam mais”, foi publicado quando tinha 18 anos. No entanto, entre os contos apresentados na obra, alguns foram escritos quando o autor tinha apenas 14 anos.  Antes de se dedicar inteiramente à literatura, Sabino era um talentoso nadador, conquistando diversos recordes como nadador e tornando-se campeão sul-americano de nado de costas em 1939. 

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Uma curiosidade sobre sua vida e que liga o escritor a Juiz de Fora é que, durante três meses, ele fez estágio como aspirante no Quartel de Cavalaria do município, experiência que inspirou episódios cômicos do livro “O Grande Mentecapto”. No romance, o personagem Geraldo Boaventura, percorre o estado de Minas Gerais, onde vive aventuras e desventuras. Geraldo, assim como autor, experimenta a vida militar na conhecida manchester mineira.  Por volta da década de 40, morando no Rio de Janeiro, ele começou a cursar a faculdade de direito, enquanto seguia sua carreira de jornalista e se tornava redator da Folha de Minas. 

O livro “O Encontro Marcado,” lançado em 1956, tornou-se uma de suas obras mais conhecidas, inspirada em suas experiências com o grupo “Vintanistas”, composto por escritores e nomeado de tal forma por estarem todos na faixa dos 20 anos. Entre outros feitos, Sabino fundou editoras importantes, em que publicaram importantes nomes da literatura brasileira e latino-americana, como a Editora do Autor, em parceria com Rubem Braga e, posteriormente, a Editora Sabiá.

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Elizabeth Rodrigues, professora aposentada de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, destaca a variada carreira de Fernando Sabino na literatura nacional. “Ele não apenas viveu da escrita, mas também desempenhou papéis como dono de editora e cineasta. Sua obra abrange uma variedade de gêneros, desde romances até crônicas e contos, disseminados em livros e em veículos jornalísticos”.

Particularmente apaixonada pelas crônicas de Sabino, Elizabeth realça a habilidade do autor em transformar temas cotidianos em narrativas envolventes, muitas vezes impregnadas de humor e ironia. Como educadora, ela trazia regularmente os textos de Sabino em suas aulas, observando a receptividade dos alunos e a formação de debates estimulantes. 

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A linguagem acessível e, ao mesmo tempo, rica de Fernando Sabino é, para Elizabeth, um dos motivos cruciais para a grande aceitação de suas obras. “Essa característica contribui para tornar a leitura de Sabino não apenas acessível, mas também extremamente agradável”, ressalta. Ao abordar as marcas do pós-modernismo em seus romances, como “O Grande Mentecapto”, Elizabeth destaca como Sabino instiga profundas reflexões sobre a vida, consolidando-se como um autor cujo legado transcende o tempo e continua a influenciar leitores de diferentes gerações.

Prêmios e reconhecimento

Ao longo de sua carreira, na qual publicou cerca de 50 obras, Sabino recebeu diversos prêmios. Sua obra  “O Grande Mentecapto” (1979) rendeu-lhe o Prêmio Jabuti, além de uma adaptação para o cinema e o teatro. Em reconhecimento ao conjunto de suas obras, a Academia Brasileira de Letras (ABL) lhe concedeu o Prêmio Machado de Assis em 1999.

Uma estátua de bronze, em homenagem aos “quatro cavaleiros do apocalipse” da literatura brasileira, Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, foi instalada na Praça da Liberdade, Belo Horizonte. 

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Os quatro cavaleiros do apocalipse (Foto: Acervo pessoal)

Memória Guardada

“Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino”, afirma Fernando no livro “O menino no espelho”. O epitáfio da sepultura do escritor, escolhido pelo próprio, destaca sua personalidade singular: “Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino!”.

Fernando Sabino faleceu em 2004 e, a fim de preservar seu legado e incentivar a prática da leitura a partir de suas obras, a família do cronista fundou, em 2005, o Instituto Fernando Sabino. Além disso, inaugurado em 2018 em Belo Horizonte, o Espaço Cultural Encontro Marcado proporciona atividades voltadas à formação cultural de jovens e uma exposição permanente de memória dedicada ao autor.

Projeto “Encontro marcado”

Em 2008, Juiz de Fora lançou o projeto “Encontro marcado com Fernando Sabino pelo Brasil”, que incluía exposições, exibições de vídeos e filmes, apresentações de coral, espetáculos teatrais, oficinas de pintura e caricatura, contação de histórias, leitura de textos e palestras. A ação, voltada para o incentivo à leitura da vida e da obra de Fernando Sabino, mobilizou estudantes, educadores e o público em geral.

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Com apoio da prefeitura de Juiz de Fora, a cidade foi a primeira a receber este formato de projeto que, segundo Bernardo Sabino, filho do escritor e desenvolvedor da ação, circularia por dez cidades de Minas e São Paulo.

Bernardo explicou, ainda, que a escolha por Juiz de Fora se devia ao fato de seu pai ter prestado o serviço militar na cidade e à receptividade demonstrada. “Não basta disponibilizar o acervo, é preciso que haja uma retaguarda do município para que os estudantes tenham acesso e possam desfrutar desse material”. Na época, a mostra foi encerrada com show da cantora Verônica Sabino, também filha do escritor.

*estagiária sob supervisão do editor Marcos Araújo

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