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Longa juiz-forano ‘Vinil poeira e groove’ entra na grade do Canal Brasil

vinil criolo CAPA
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Discos de vinil sempre estiveram à altura das mãos de Diego Casanova. “A minha relação é de ter em casa. Meus pais sempre tiveram discos. Meu pai sempre me incentivou a comprar discos. Até no momento em que não se produzia mais no Brasil, íamos a uma loja em Juiz de Fora, comprávamos e chegávamos juntos para ouvir. Quando fui crescendo, na minha adolescência e na idade adulta, sempre frequentei festas onde as pessoas valorizavam muito o vinil. É uma coisa que começou e nunca acabou na minha vida”, conta. O interesse pessoal se transformou em investigação profissional, e o homem de 30 anos resolveu levar para as telas o universo dos sons que nunca saíram dos ouvidos. Seu desafio, no entanto, era revisar um período que a grande mídia fez dos discos um silêncio. “Existe uma grande polêmica sobre se o vinil acabou ou não. Essa ideia de ‘Volta dos bolachões!’ acabou se tornando um clichê jornalístico. É um lugar comum que não representa o que aconteceu com o vinil. Na minha opinião e na da galera dessa cena, profissionais como DJs, colecionadores, é de que não houve um fim”, afirma o autor de “Vinil poeira e groove”.

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Após estrear no concorrido In-Edit, em São Paulo, ser exibido em pequenas mostras pelo país e rapidamente em Juiz de Fora, no Corredor Cultural, o longa-metragem estreia nesta quinta (17) na TV fechada, com três diferentes datas e horários de exibição no Canal Brasil, que comprou os direitos de exibição por dois anos. Selecionado para integrar a programação cinematográfica do festival multimídia Mimo, o filme excursionou por Salvador e Olinda com o In-Edit, que exibiu a produção em quatro distintos endereços, incluindo a área externa da Cinemateca Brasileira. Realizado com recursos da Lei Murilo Mendes, o trabalho feito em uma parceria entre a paulista Refluxo (de Diego) e a juiz-forana Impulso.Hub (do curta “Barbante”) nasceu da mudança.

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Diego Casanova iniciou o documentário como um curta sobre o Vinil é Arte e ampliou para um longa-metragem (Foto: Reprodução)

“O meu projeto não era de longa. A ideia inicial era produzir um curta sobre o coletivo Vinil É Arte. Eu era próximo e tive a ideia de documentar os 15 anos deles. O projeto foi aprovado, só que comecei a fazer e no meio do caminho tudo mudou. O próprio pessoal do Vinil não me deu muito subsídio, me mudei para São Paulo, comecei a trabalhar com música e a conhecer muita gente e muitas iniciativas. Vi que poderia abranger o vinil, sem focar no Vinil É Arte, que se tornou um personagem do filme. Transformei o projeto e, ao invés de entregar um curta, entreguei um longa-metragem. Ao invés de ser uma coisa local, fiz um trabalho nacional, que contempla Juiz de Fora”, diz Casanova, que pelos escassos recursos acabou por acumular funções na produção com equipe técnica integralmente local. “Grande parte do filme fiz sozinho, gravando com meu equipamento”, conta ele, que nas cenas captadas em viagens e na cidade, contou com a Impulso.Hub, responsável pela montagem e finalização do material.

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‘O vinil nunca parou’

Em sua saga para desmitificar a morte do vinil, Diego Casanova desenvolveu um complexo e profundo mapeamento envolvendo DJs, colecionadores e os fundamentais selos fonográficos, responsáveis por lançar novos nomes nos bolachões e também reeditar trabalhos pouco conhecidos e muito cultuados. “Uma das minhas intenções é mostrar que muita coisa está sendo feita e continuou sendo feita desde que as produção em grande escala industrial foi pausada no Brasil”, pontua o diretor, nascido em Juiz de Fora e formado em comunicação social pela UFJF. “O vinil teve um coma induzido por conta das relações comerciais da indústria fonográfica. Entraram as mídias digitais, o CD primeiro, e houve uma pressão pela aceitação do novo formato. Depois veio o MP3, o streaming, criando certo esquecimento da mídia vinil, que é física e analógica. Em contrapartida, muitas ações foram feitas em torno do vinil. Ele nunca parou. Pode ter deixado de ser feito em escala industrial, mas nunca deixou de ser produzido e cultuado. Sempre houve muitos selos e fábricas.”

Criolo: fã de vinil e personagem do documentário (Foto: Reprodução)

O cineasta reconhece o hiato vivido no Brasil pelo fechamento de fábricas, o que, segundo ele, não representou o fim da produção. “Nesse período, muitos trabalhos nacionais foram feitos fora do país, intermediados por selos. Hoje em dia o consumo aumentou, a produção aumentou e as iniciativas ganharam mais força. Hoje os discos são feitos como antigamente, em um processo quase artesanal, mas a tecnologia ajudou muito, porque as matrizes são feitas a partir de um arquivo digital. Hoje há duas fábricas operando no Brasil, com um processo muito limpo e uma qualidade muito grande. A forma de consumo é que é muito diferente de quando o vinil era o grande suporte físico e quase único”, comenta Casanova.

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No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, conta o diretor, quando os vinis já não eram fabricados no Brasil, um fenômeno curioso reordenou a potência dos bolachões nacionais. “Houve um boom de DJs e colecionadores de fora do país, principalmente do Japão e da Europa, que vieram garimpar a música brasileira, principalmente a produção mais obscura, de pessoas que não fizeram sucesso na época, lançaram um ou dois discos e a indústria não absorveu. Esses discos acabaram indo para fora”, narra Casanova, que encontrou em seu documentário DJs e coletivos que usam o vinil para divulgar essa produção de sucesso posterior.

Conversão inusitada: do digital para o analógico

Da paulista festa Discopédia, feita por DJs renomados, à local Bang!, passando pelo trabalho do coletivo Vinil É Arte, o vinil chegou ao presente sem sofrer com o peso da idade (quase 80 anos). “Hoje em dia todo mundo lança disco de vinil, desde o Criolo, um cara novo que faz um trabalho com o rap e o samba, até bandas de hardcore, como o Traste, de Juiz de Fora, que lançou um compacto pela Lei Murilo Mendes, passando por artistas do funk, como o Naldo. Não tem um estilo específico. Hoje em dia todo mundo quer lançar porque tem quem consome. Os artistas com os quais conversei falam que lançam porque tem quem queira. Mesmo tendo streaming, a galera baixando, há uma procura pelo suporte físico”, comenta Diego Casanova, citando, ainda, o crescente desempenho comercial da mídia. O ano passado, segundo ele, foi um ano recorde na produção e consumo de discos recentemente. A fábrica que ele apresenta no documentário, por exemplo, desde a abertura, há cerca de um ano, já lançou mais de 200 títulos no país. E os discos com sulcos microscópicos que fazem a agulha vibrar para gerar um sinal elétrico também se utiliza dos avanços tecnológicos. “A qualidade do som é um debate grande. Muita gente fala que o digital tem mais qualidade, mas, acho essa discussão uma bobagem”, pontua o diretor. “A produção do disco, com a tecnologia, tem muita qualidade. E existem, atualmente, toca-discos que reproduzem o som de forma muito limpa. Hoje há profissionais qualificados produzindo material analógico a partir de arquivos digitais.”

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VINIL POEIRA E GROOVE
Exibições dias 17, às 20h15, 21, às 13h30, e 29, às 5h40, no Canal Brasil

 

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