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Monólogo com a atriz Rosane Gofman chega a Juiz de Fora neste sábado

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No monólogo, Rosane Gofman vai fundo nos dilemas das tantas mães brasileiras que abraçam seus filhos que fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+ (Foto: Patrícia Lino/Divulgação)
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Rosane Gofman se emociona ao falar dos relatos que tem recebido desde 2019, ano que passou a circular com a peça “Eu sempre soube”, escrita e dirigida por Márcio Azevedo. Em cena, a atriz interpreta Majô Gonçalo, uma jornalista em processo de lançamento de um livro que leva o mesmo nome do espetáculo. Rosane, que é mãe de três e avó de sete, dá vida a uma outra mãe, uma mãe que é leoa e, com suas garras, defende a decisão de seu filho de ser aquilo que se quer ser. “Essa peça, primeiro, é para os gays, porque, de certa forma, é uma homenagem. A gente mostra como é a vida dessas pessoas, como é difícil. E levanta uma bandeira de que é preciso que elas sejam respeitadas. Mas também é para as mães que acolhem seus filhos. E também para as mães que estão com dificuldade para acolher seus filhos. Principalmente, para quem ainda rejeita seus filhos por uma escolha deles. É, então, para o público todo”, defende. 

Neste sábado (16), no Teatro Paschoal Carlos Magno, a partir das 21h, é Majô quem sobe ao palco. É também as 98 mães que Márcio entrevistou para fazer o texto. E, ainda, as tantas outras que passaram a contar suas histórias para Rosane, depois de assistirem à peça. Tudo isso a atriz leva ao palco, em um monólogo que, mesmo ficcional, vai fundo nos dilemas das tantas mães brasileiras que abraçam seus filhos que fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+. Rosane confessa que todas essas histórias mudaram sua própria vida. E é por isso que ela segue apostando em Majô, apesar das dificuldades que enfrenta em rodar com uma peça com um assunto como esse. “Mas o objetivo é exatamente esse: rodar sempre com ela. Eu amo essa peça e, para mim, ela é fundamental”. Em Juiz de Fora, os ingressos são gratuitos. 

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Na entrevista abaixo, ela explica a forma como foi impactada por esse texto e como, desde então, tem levantado a bandeira dos direitos LGBTQIAPN+, para além dos palcos, e como isso, às vezes, pode ser um desafio. Fala também do seu desejo de mudar o mundo a partir do seu trabalho – coisa que, por tempos, precisou ser guardada, pela lógica da vida, mas que, agora, volta à tona, como ela acha que deve ser. 

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Tribuna: Como esse texto chegou a você?

Rosane Gofman: Eu recebi esse texto pela internet. Pelo ex-marido do Márcio, que é o autor e diretor da peça. Isso foi no final de 2018. Na hora, eu li e fiquei alucinada, apaixonada e falei que tinha que fazer isso. Fiquei envolvida com o assunto. Liguei para o Márcio, disse que estava a fim de fazer. A gente não tinha patrocínio, mas decidiu realizá-la. Eu sabia que era fundamental e, por isso, começamos a fazer. Estreamos em 2019, fizemos uma temporada no Rio de Janeiro e, em Niterói, recebemos o aviso de que a partir do outro dia estaria tudo fechado. A gente tentou fazer alguma coisa quando se deu a abertura. Agora, estamos retomando devagar. E eu não consigo parar de fazer, porque, cada vez que faço, é tão legal a resposta. É tão bonito o que vem da plateia, o que as pessoas contam depois.

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E você disse que viu que esse texto era fundamental. Por quê?

Sempre foi. Quando você assiste, entende, o porquê de ser tão necessário o que se fala ali. Ali eu li coisas, ouvi coisas e percebi que o buraco era muito mais embaixo do que imaginava, pois as coisas eram piores. Ali vieram várias informações de números, de pessoas, de acontecimentos. E eu sentia que tinha ainda mais coisa pra saber. E, durante o tempo que a gente foi ensaiando e, até hoje, eu não paro de ler a respeito e de procurar saber. Eu passei a ter contato com outras pessoas que me mostram como é difícil, mas, ao mesmo tempo, é surpreendente como elas vivem suas vidas. 

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Acha que ser mãe te deixou ainda mais impactada com o texto?

Eu acho que qualquer coisa que diz respeito à mãe me toca. Eu sou mãe de três e avó de sete. Eu sou, antes de qualquer coisa, mãe. É claro que tinha tudo a ver com isso e fiquei tocada. Aquilo tudo que a gente fica sabendo na peça. E a gente fica pensando que tem que falar, que denunciar e ajudar a mudar a vida das pessoas. E eu acho mesmo muito transformador. 

E a arte transforma, né? 

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Pois é. Eu vou fazer 50 anos de carreira. Lá no início, eu vinha com essa proposta de mudar o mundo. Eu comecei a fazer teatro com pessoas muito politizadas. Tinha gente que falava que não fazia televisão porque não era politicamente correto. E, naquele momento, era importante que eu tivesse meu trabalho de atriz, enquanto uma coisa que pudesse questionar, que pudesse mudar as coisas. O tempo foi passando, eu fui tendo filho e família, tendo que sustentar e trabalhar, a gente sai dessa vertente. E, neste momento da minha vida, eu posso retomar essa minha vontade de fazer aquilo que eu acho importante de fazer e recebo esse presente. Eu retorno, de certa forma, a uma coisa que era importante no início da minha carreira, que é tentar mudar o mundo, questionar e fazer as pessoas questionarem seus valores. Claro, que agora de uma forma mais madura e me posicionando. 

Para além da peça, você se posiciona sobre o assunto nas redes sociais. Sobretudo, agora, quando se tenta proibir o casamento homoafetivo. Por que isso é importante para você? 

Eu abracei a causa. Eu me tornei embaixadora da ONG Mães da Resistência. Como estou indo mais fundo por conta do espetáculo, quando mergulho, vejo uma realidade e, como artista e com certa visibilidade, preciso me posicionar. Não tem como ficar sem me posicionar. Eu acho que tenho obrigação de fazer isso. A gente tem que brigar para isso acabar. As pessoas se incomodam com o amor do outro e acho que isso diz mais respeito a si próprio. 

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Você, inclusive, já viveu problemas ao fazer essa peça? 

A gente foi censurado, de certa forma, duas vezes. A estreia foi no governo Bolsonaro, e a censura dificultou imensamente nosso espetáculo. Não é simplesmente uma ficção que fala sobre gays, a gente fala sobre uma realidade. É baseada em 98 entrevistas com mães de filhos gays. É mais profundo. E ainda é complicado falar sobre isso, tanto que a gente não tem patrocínio. Não é um assunto que se possa falar tão facilmente. Mas, quando pode, é lindo. 

Sobre essas 98 entrevistas com as mães. O que significa para você dar voz a essas mulheres? 

A gente fala sobre alguns casos dessas mulheres e é fantástico fazer isso. São histórias diferentes, apesar de todas estarem ligadas por um mesmo tema. São mulheres diferentes, sendo algumas muito culpadas, outras guerreiras. As mães quando abraçam seus filhos se tornam leoas e são capazes de qualquer coisa por eles. E o prazer de fazer esse espetáculo é poder dizer para essas mulheres, parabenizar as mães e dizer para as outras que é preciso abraçar os filhos, colocá-los no colo. E as próprias mães passam por dificuldades, né? E acolher é o mais importante. E, na maioria das vezes, o preconceito começa dentro de casa mesmo.

 

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