As nuvens a cada instante têm um formato a sugerir novas cenas, objetos ou animais. Mudam numa fluidez absoluta. São muitas enquanto são apenas vapor de água, o prelúdio da chuva. E estão no céu, intocáveis ainda que vista em todos os cantos. “Na nuvem” é o nome do mais novo edital de cultura de Juiz de Fora, lançado no Atos do Governo desta terça, 15, e explicado e debatido em live no mesmo dia, às 19h30, nas redes sociais da Funalfa. A proposta, financiada com emenda parlamentar da deputada federal Margarida Salomão, prevê a distribuição de R$ 77,5 mil para 102 projetos, com cada um recebendo R$ 760 sem descontos.
As inscrições, que se iniciam nesta terça, 15, se encerram no próximo dia 30, com seleção prevista até dia 5 de outubro, e divulgação do resultado no dia 10 do próximo mês. Contemplando diferentes linguagens, o edital é voltado para propostas virtuais, tanto de entretenimento quanto de pesquisa. “É um edital de criatividade”, observa o diretor geral da Funalfa Zezinho Mancini, chamando atenção para a coerência do nome. “A liberdade para que os agentes culturais apresentem propostas é bem vasta e elas poderão ser muito simples. Os agentes podem utilizar diversas plataformas, como YouTube, Google Drive, DropBox, as próprias redes sociais, ou seja, os meios que preferirem para subir suas produções”, detalha.
Inédita reserva racial
Pela primeira vez a cultura local inclui uma reserva racial de vagas em um edital municipal. Dos 102 contemplados, 60% deverão ser pessoas autodeclaradas negras ou indígenas. A ideia, segundo Zezinho Mancini, surgiu na semana do assassinato de George Floyd, em maio deste ano, em Mineápolis, e que fez eclodir as manifestações internacionais do movimento Black Lives Matter. “Naquele momento específico, tínhamos uma previsão de liberação da execução do recurso e essa pauta entrou nas reuniões da Funalfa. Discutimos que a fundação precisaria fazer algo para além das redes sociais, privilegiando negros e negras”, recorda-se o diretor geral, contando ter levado a ideia para o Conselho Municipal de Cultura, que a aprovou sem ressalvas e, inclusive, elevou o percentual de 50% para 60%.
“Há uma felicidade de fazer mais esse avanço dentro da política pública da cidade”, comemora Mancini, afirmando ser, o já histórico “Na nuvem”, uma “bandeira fincada para que a gente não retroceda desse ponto”. Ainda que originalmente tenha sido pensado em outro modelo, o edital que agora chega para a cena de Juiz de Fora soma-se a outras iniciativas de atendimento emergencial ao setor diretamente afetado pela pandemia. Além de contar com um cronograma ágil, a prestação de contas prevista pelo edital é bastante simplificada, como a inscrição, via site exclusivo , com exigência prévia de inscrição no Cadastro Municipal de Cultura. “Com esse formato conseguimos atender tanto os artistas quanto os técnicos”, pontua o diretor geral da Funalfa, que ainda possui outro recurso de emenda parlamentar previsto, mas cujo público alvo, artistas urbanos, não pode ser alterado.