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Linn da Quebrada discute documentário sobre militância LGBT no país

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Uma das maiores representantes da cena musical contemporânea, Linn faz de sua ocupação e de sua existência um constante ato político (Foto: Divulgação)
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“Sempre que falo no plural, falo no feminino, ao invés de usar o masculino como termo universal.” É importante manter a escolha vocabular de Linn da Quebrada. A cantora, atriz e ativista observa com ênfase o que muitos jornais compreendem como erro. Para ela, é gesto político, como todo o seu corpo e suas letras. “Bicha estranha, louca, preta, da favela/ quando ela tá passando todos riem da cara dela/ mas, se liga macho

presta muita atenção/ senta e observa a tua destruição”, canta em “Bixa preta” a artista múltipla, que traz seu “Pajubá Tour” a Juiz de Fora nesta quinta, 16, às 23h, na Avalon. Nesta quarta, a paulista de 28 anos participa do bate-papo que sucede a exibição do documentário “Meu corpo é político”, da cineasta Alice Riff, do qual é uma das militantes LGBT entrevistadas.

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Lançado há menos de um ano, e viabilizado por um projeto de financiamento coletivo, o primeiro álbum de Linna Pereira, “Pajubá”, traz em seu DNA a potência discursiva de uma cantora que se faz nas melodias que flertam com o funk e o rap, mas, sobretudo, em letras fortemente combativas. Linn da Quebrada carrega consigo Michel Foucault, Judith Butler e também Clarice Lispector. É a academia e também a rua. “Ela é diva da sarjeta, o seu corpo é uma ocupação/ é favela, garagem, esgoto e pro seu desgosto/ está sempre em desconstrução”, canta em “Mulher”, na qual denuncia a crua e dura realidade das travestis. Esgarçando padrões e fundindo normas, Linn edifica em sua existência, dentro e fora do palco, um manifesto pela viabilidade de ser.

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Premiado com o Teddy, para produções de temática LGBT, no último Festival de Berlim, o documentário “Bixa Travesty”, dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifman, explora a complexidade e também a amplitude de uma artista que, só em 2018, já passou pela Europa, pelo México e pela Colômbia, além de viajar todo o Brasil ao lado da produtora musical BadSista, da cantora Jup do Bairro, da percussionista Dominique Vieira e do DJ Pininga. “Filha das travas, obra das trevas”, apresenta-se no filme, ironizando e satirizando, tomando já na linguagem o confronto que lhe vai ao corpo e que lhe coloca nas margens. Em entrevista à Tribuna, por telefone, Linn da Quebrada sintetiza sensivelmente a luta que é todo dia: “O que fazemos é disputa de territórios e de linguagem.”

CORPO

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“Falo da minha existência plural e singular num mesmo tempo. Enquanto essa sociedade tenta nos massificar diante de todos os outros corpos, nos estimulando a repetir e ser repetidas em favorecimento da tradição, meu esforço vai no sentido de encontrar a potência na minha existência, nas minhas fragilidades, nos meus limites, no meu contorno, onde só o meu corpo possa existir. Uma das perguntas em que oriento minha atuação artística e minha vida é: O que pode o corpo? E mais especificamente: O que pode este corpo? O que só o meu corpo, de forma singular, pode produzir através das minhas relações, da minha estética, dos meus afetos, dos meus desejos, e da minha atuação? Quero vivenciar meu corpo como uma experimentação estética radical. Penso na pluralidade da minha existência, em todas as que posso ser, em todas que já fui e que ainda posso ser, e na minha singularidade, no meu corpo e na minha pele.”

MEDO

“A gente vive sob uma política do medo, sob um sistema político que procura nos amedrontar e nos aterrorizar. Fazem com que tenhamos medo de exercer nossa potência. E eu, como tantas pessoas que vivem sob essa experiência do medo cotidianamente, devolvo o que faço por meio do temor. Procuro fazer, através da minha estética, da minha vivência, com que eles tenham medo. Procuro fazer experiências que não sejam, necessariamente, dócil e doce, mas que cause medo e espanto ao sistema, principalmente, e às normas que tentam me amedrontar e me ‘docilizar’ de alguma forma.”

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LINGUAGEM

“Não sou bicha. Sou travesti, que também é uma dessas palavras criadas como termo que tenta ser pejorativo, mas que nosso grupo se apropria e faz dele identidade de orgulho. Sendo bem sincera, acho esse sistema burro e inocente, porque essa é uma das formas de nos amedrontar: criam termos que sejam pejorativos para que nem a gente queira se identificar no sistema. Justamente aí que eu encontro a força para ocupar esses espaços, subvertendo esses termos, fazendo deles, termos de resistência, de terrorismo de resistência e de terrorismo e linguagem. No final das contas, o que fazemos é disputa de territórios e de linguagem. Queremos ser donas dos termos que dizem respeito à nossa própria identidade. Não queremos ter médicos apontando para nós e dizendo o que somos, nos diagnosticando. Agora, podemos falar sobre nós mesmas, nos nomeando e dizendo o que esses termos significam.”

ARTE

“Acho que é impossível dissociar arte e política. Quaisquer que sejam nossas ações, estão ligadas a um contexto político. Para mim, mesmo que eu esteja falando de culinária ou qualquer outra coisa, isso estará ligado à política. Principalmente quando se faz arte, independentemente do que entendemos como arte, seja a arte com ‘A’ maiúsculo, seja a arte com ‘a’ minúsculo, legitimada por alguns ou deslegitimada por outros, nosso campo de atuação estimula a sociedade. Arte é produção de pensamento, produção de possibilidades de existências. A arte produz corpus, resistência, e por isso são indissociáveis arte e militância. Arte está ligada ao presente, é uma das principais responsáveis pelo presente. É possível não falar de presente enquanto se fala de arte?”

POLÍTICA

“A contradição provoca o movimento. Todo movimento é reativo. Pensar diferentemente do que já se pensa é importante e interessante. Temos conquistado cada vez mais territórios diante de movimentos conservadores que tentam se manter em pé fortalecendo a tradição. O mais importante e interessante são os movimentos que ressalvam a contradição dentro da tradição. Isso traz outras possibilidades de política e pensamento.”

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ESPERANÇA

“Não acredito na esperança. Ao mesmo tempo em que ela faz com que acreditamos numa outra possibilidade, nos mantém esperando que as coisas aconteçam. De certa forma, acredito na raiva, na inquietação, num tipo de movimento que nos provoque e que nos leve, inclusive, a pensar coletivamente em estratégias. Mais do que esperança, é importante que nos mantenhamos atentas coletivamente e pessoalmente, entendendo qual é o papel de cada uma de nós diante desse momento histórico que estamos construindo. Independentemente da posição em que estamos, é bom que saibamos quais são nossas possibilidades enquanto cidadãs. É importante que entendamos, inclusive, quais são nossas responsabilidades. A representatividade tem sido uma conquista, porque agora conseguimos enxergar e se enxergar diante de algumas representantes, mas o mais importante é pensar em participação social. Qual é a sua participação política? O que podemos fazer para esse momento?”

LINN DA QUEBRADA

Debate do filme “Meu corpo é político”, nesta quarta, 15, às 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), ao lado da cantora MC Xuxú, da militante carioca Indianara Siqueira e da professora e pesquisadora da UFJF Carolina Bezerra
Show “Pajubá” nesta quinta, 16, às 23h, na Avalon (Av. Deusdedit Salgado 3500 – Teixeiras)

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Divulgação

 

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