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Professora da UFJF é uma das indicadas ao prestigiado Prêmio Pipa

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Letícia Bertagna é gaúcha de Porto Alegre e radicada em Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri/Arquivo TM)
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Uma página extensa, repleta de linhas vazias e, no alto, dois zeros em destaque. Trata-se do dia 00 de uma agenda ainda em branco. “O tempo vale ouro”, objeto em metal e madeira produzido por Letícia Bertagna em 2019 parece ter sido feito hoje, diante da pandemia. “Esse tempo vazio ou parado. O zero tem questão de certa ausência, de uma suspensão”, reflete a artista, autora da série “aqui”, na qual inscreve a palavra em cabeças de pregos. Os registros dos pregos em diferentes lugares foram realizados na última década, mas parecem ter sido feitos hoje, diante da pandemia. A imagem de um post-it colado na parede com a inscrição “esquecer”, parte da série “Fundo do fora” foi criada em 2016, mas também parece ter sido realizada hoje, diante da pandemia. A produção de Letícia, gaúcha de Porto Alegre, radicada em Juiz de Fora, onde é professora do Instituto de Artes e Design da UFJF, preserva uma urgência em muito consonante com a contemporaneidade perseguida pelo Prêmio Pipa, que na edição deste ano tem a artista como uma de suas 67 indicações.

“Esse momento excepcional que estamos vivendo faz com que olhemos de uma maneira diferente para os trabalhos”, reconhece Letícia. “Esse ‘aqui’ (termo que desenvolve em diferentes trabalhos), que acaba sendo nossa casa, nosso corpo, reflete sobre coisas que estamos pensando muito agora, tendo que reelaborar relações. Nossa casa virou nosso lugar e maior proteção. Nosso próprio corpo está confinado neste espaço agora. O aqui vibra em cada um”, reflete a artista sobre um trabalho que se apresenta central em sua produção. “Ele acaba tramando distintos trabalhos, tem esse papel, tanto de disparar processos quanto de amarrar todos eles.”

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‘O tempo vale ouro’, obra de Letícia Bertagna (Foto: Divulgação)

A ideia de rizoma, que Letícia Bertagna toma do filósofo francês Gilles Deleuze para pensar a própria produção, demarca também sua abertura para outras e novas práticas, quanto sua preocupação em se fazer coerente. “Essa é uma questão bem própria da arte contemporânea, numa tentativa de dialogar com a tradição moderna, com as vanguardas históricas, com essa multiplicidade de linguagens, essa dificuldade de localizar o objeto de arte, essa explosão que houve nas convenções. Ele atua na ideia de que o artista não é mais aquele que domina uma técnica específica ou se debruça sobre uma linguagem específica, mas transita entre vários procedimentos, brincando com os limites da arte, jogando com os limites entre o que é e o que não é arte, quem é o artista, onde está o objeto de arte, quais são as dinâmicas inseridas no sistema”, conceitua.

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Legitimação
Considerado um dos principais prêmios de arte contemporânea do país, o Pipa, completando dez anos de existência, é dividido em fases que serão concluídas no dia 15 de novembro, com o término da exposição dos quatro finalistas anunciados no próximo dia 19. Antes da mostra, prevista para setembro, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, haverá uma votação on-line envolvendo todos os indicados e que também resultará em um premiado. Enquanto na fase de indicação a premiação contou com um comitê formado por 26 profissionais, brasileiros e estrangeiros, entre curadores, críticos, artistas e estudiosos, na escolha dos finalistas trabalha um conselho de peso, formado por três representantes do Instituto Pipa e cinco convidados, dentre eles Tadeu Chiarelli, diretor da Pinacoteca do estado de São Paulo entre 2015 e 2017 e professor da USP.

“É a primeira vez que participo de um prêmio e de um projeto maior, nacional. Já tive um projeto aprovado pela Funarte, um órgão relevante no país, mas dessa vez é diferente, porque eu não mandei meu projeto, foi o projeto que chegou até mim. É certa legitimação de uma trajetória”, comemora Letícia Bertagna, que conhece alguns dos indicados, principalmente os artistas do Sul do Brasil, uns que estudaram com ela e outros que encontrou no circuito. “Estar com uma galera tão bacana me faz sentir bem feliz”, diz ela, cujo trabalho está parcialmente exposto no site do prêmio, onde é possível confirmar a coerência e a atualidade que saltam da obra da artista e professora de 36 anos. “Foi um exercício bacana de organizar o pensamento, montando uma espécie de apresentação pública do trabalho. Isso culminou, por sorte ou coincidência, no período de finalização da minha tese, quando já estava pensando muito sobre o trabalho, não só os mais recentes, mas sobre os mais antigos e de que forma eles continuam presentes.”

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