Desde que a TV por assinatura começou a ganhar força no Brasil, há mais de duas décadas, o telespectador deste lado da Linha do Equador foi adotando, aos poucos, o costume de aguardar ansiosamente a virada do ano para saber se suas séries favoritas seriam renovadas, canceladas e o que haveria de novo na tela da TV (ou do PC, do notebook, do tablet, celular…), seja nos canais fechados ou serviços de streaming.
E não seria diferente em 2019. Ainda que a agenda das emissoras não esteja fechada, e plataformas de streaming como a Netflix e Amazon Prime guardem algumas surpresas, já dá para ter uma boa ideia do que virá e do que teremos que dizer adeus. Dentre as novidades, séries históricas, tramas originais, adaptações de livros, quadrinhos se destacam; por outro lado, nas despedidas, há séries que se encerram no auge, outras canceladas por conta de baixa audiência (mas com direito a um desfecho digno), aquelas que passaram do prazo de validade – independente do fato da audiência ser boa ou ruim -, produções que já sabiam seu limite de duração e não cometeram a besteira de perder o bonde da história, e até mesmo seriados forçados a se despedir por conta de escândalos com seus protagonistas.
Expectativa e teorias mil para ‘Game of Thrones’
Por isso, a Tribuna apresenta um apanhado das novidades e despedidas de 2019, começando pelas produções que terão seu fim este ano. E não existe desfecho mais aguardado pelos fãs do que a temporada derradeira de “Game of Thrones”. Lançada em 2011, a produção da HBO levou para a telinha o universo da série de livros de George R.R. Martin, e a luta pelo poder entre as famílias reais de Westeros conquistou milhões de seguidores, incluindo leitores dos livros e quem apenas queria acompanhar uma boa história.
A expectativa aumentou ainda mais porque a oitava e última temporada, que deveria ter sido lançada em 2018, foi adiada e será exibida a partir de abril, em data a ser confirmada. Com isso, foram quase dois anos de espera e de toda sorte de especulações sobre o que acontecerá com John Snow, Daenerys, Arya Stark, Tyrion e Cersei Lannister e… Ah, um monte de personagens que reaparecem do nada e tínhamos esquecido deles.
Dentre os fãs ansiosos pelos seis capítulos que encerram o seriado está a jornalista Nayara Carvalho, que cita o fato de George R. R. Martin ainda não ter lançado o último livro da saga como um fator que aumenta a incerteza quando ao que virá (vale lembrar que “Game of Thrones” ultrapassou os eventos dos livros em seu sexto ano). “Como boa fã de ‘GoT’ que sou, não tem sido fácil esperar esse tempo todo para saber o que acontece no final. Sou muito ansiosa e gosto de maratonar e poder assistir tudo de uma vez só. Mas até que tem sido boa essa espera, porque a gente fica na expectativa, imaginando mil teorias do que pode ou não acontecer. Tudo é possível e inesperado. Só espero que não matem meus personagens favoritos, Jon Snow e Daenerys Targaryen”, diz Nayara, que como leitora da saga considera a adaptação para a telinha “bastante fiel” e coloca “GoT” no mesmo nível da franquia “Harry Potter” em termos de fidelidade.
Além da ansiedade, existe a inevitável tristeza por ver uma de suas séries favoritas chegar ao fim. “Mas sou do time de fãs que preferem que a história tenha um final digno, encaixadinho, sem pontas soltas, do que prorrogar a trama, virando uma história sem muito nexo e repetitiva, que é o que acontece com a maioria (não todas!) das séries com mais de dez temporadas.”
E para evitar esse desgaste em relação à história principal e diminuir o “luto” (e faturar mais algum coma franquia, claro), os fãs podem contar com a série derivada já confirmada pela HBO, ainda sem previsão de lançamento, que vai se passar milhares de anos antes dos eventos vistos em “Game of Thrones”. “Eu, particularmente, gosto muito de séries derivadas. Acho que mostra outro lado da história e isso é muito interessante. Basta saber se os diretores saberão explorar isso, sem provocar um desgaste ou forçar demais a barra.”
O fim do ‘Big Bang’
Outras séries também encontram seu fim em 2019, e em momentos e situações bem distintas. Uma delas é a longeva “The Big Bang Theory”, que dirá adeus após 12 temporadas esticadas com os já conhecidos recursos de personagens que casam, engravidam, têm filhos, resolvem fazer outra coisa da vida e até se tornam astronautas, sem esquecer da spin-off “Young Sheldon”. Outras atrações que também esticaram demais a corda são “Orange is the new black”, da Netflix, que teve confirmada a sétima e última temporada – mesma quantidade de “Elementary”, estrelada por Jonny Lee Miller (“Trainspotting”) e Lucy Liu, e “Homeland”, que depois de um início promissor se arrastou até o oitavo e último ano.
A longevidade traz como preço a perda de parte do telespectador cativo, mas “The Big Bang Theory” se tornou tão influente na cultura pop que conseguiu manter uma audiência expressiva. Um dos fãs que não largou o osso é o guitarrista Lincoln Brian, da banda juiz-forana Insannica, que acompanha “TBBT” desde sua estreia, em 2007. Ela destaca a importância da atração para muitos se assumirem como “nerds orgulhosos e convictos” e transformar esse perfil como algo “cool” nos dias atuais, atingindo a grande massa e até criando um novo público consumidor.
Ele ressalta, ainda, a ligação sentimental com a sitcom, em que a evolução dos personagens se deu paralelamente à sua transição da adolescência para a fase adulta. “Criei um vínculo emocional muito forte com a produção, acontecimento que fez acompanhá-la ferrenhamente ao longo dos anos, mesmo com uma inconstância em sua qualidade, que foi restabelecida com êxito nas últimas temporadas, e a mudança de meus gostos pessoais”, afirma o músico, para quem é certo o sentimento de saudade assim que chegar o final do seriado.
“Sentirei falta daquela rotina de aguardar por uma nova temporada e novos episódios, de saber o que se passa na vida de personagens que se tornaram amigos próximos e de tudo que me circundou nos bons momentos em que assistia. Dificilmente esses rompimentos ocorrem de forma fácil, mas ao mesmo tempo há a curiosidade e ansiedade por como se dará o desfecho de algo que foi impactante em minha vida. E sempre há a possibilidade de revisitar antigos episódios e relembrá-los com carinho e alta carga de nostalgia.”
Lincoln acredita que “The Big Bang Theory” chega ao fim em um bom momento, apesar do coração não esconder o desejo de que a sitcom continuasse. “É o show televisivo com maior audiência nos Estados Unidos, o que fará com que seja sempre lembrada de maneira positiva, e a decisão de não prosseguir sem o ator principal, Jim Parsons (que interpreta o Sheldon), se deu de forma acertada, pois dificilmente seria possível manter a qualidade e audiência levando a série para outra direção, como aconteceu com ‘Two and a Half Men’ (após a demissão do ator principal, Charlie Sheen).”
Outras séries que se vão
Algumas produções chegam ao desfecho em 2019 antes de ter que enfrentar o desgaste, ou bem perto desse limite. A premiadíssima “Veep”, da HBO, vai mostrar em sua sétima temporada a tentativa da intragável e desprezível Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) de voltar à presidência dos Estados Unidos. As elogiadas “Mr. Robot” e “Unbreakable Kimmy Schmidt” terão um quarto e último ano, enquanto “The Deuce” encerra seu ciclo na terceira temporada.
Outras produções, porém, parecem ter ganhado um último respiro apenas para não ficar feio a história acabar sem pé, cabeça, troncos e membros. São os casos de “Gotham” e “iZombie”, adaptações de histórias em quadrinhos que fecharão todas as pontas na quinta temporada. Séries menos conhecidas, mas de público fiel, “Jane the virgin”, “Easy”, “Crazy ex-girlfriend”, “The affair”, “Broad city” e “The Killjoys” já tiveram o final anunciado. “Desventuras em série” já teve seu terceiro e definitivo ano liberado pela Netlix.
Mas nenhuma delas tem uma história mais triste que “Transparent”. A elogiada produção da Amazon Prime teve o seu protagonista, Jeffrey Tambor, demitido após a quarta temporada por conta de acusações de assédio sexual, numa história parecida com a que levou à saída de Kevin Spacey de “House of Cards”. Assim como aconteceu com a série da Netflix, a Amazon produziu uma temporada final sem o principal personagem, a transgênero Maura Pfefferman.
O que vem por aí
Com tantas produções dizendo adeus, 2019 já tem uma lista considerável de novas atrações confirmadas, e muitas delas despertaram interesse desde o seu anúncio. Uma delas é “Watchmen”, da HBO, que não vai retornar à minissérie em quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons, levada ao cinema em 2009 por Zack Snyder, e sim dar prosseguimento à mitologia. Segundo o showrunner Damon Lindelof (“Lost”, “The leftlovers”), a história será totalmente original e vai se passar anos depois do desfecho da HQ da DC Comics, com os heróis sobreviventes sendo considerados bandidos pela sociedade.
Outras duas produções baseadas nos quadrinhos da DC Comics chegam à televisão este ano. “Titãs” estreou na Netflix na última sexta-feira (11), e “Patrulha do Destino”, estrelada pela mais bizarra equipe de super-heróis da editora, chega ao DC Universe ainda este ano. Produção também aguardada é “The Umbrella Academy”, inspirada na HQ criada por Gerard Way (da banda My Chemical Romance) e o brasileiro Gabriel Bá, que chega na Netflix em 15 de fevereiro. Nome inicialmente conhecido pela série em quadrinhos “Sandman”, o inglês Neil Gaiman terá mais um livro seu levado para a TV, a exemplo de “Deuses Americanos”. “Belas maldições”, escrito em parceria com Terry Pratchett, é coprodução da BBC com a Amazon e deve ter apenas seis episódios, com promessa de Gaiman que não haverá continuação. David Tennant e Michael Sheen são os protagonistas.
Além de “Watchmen”, a HBO conta com mais um caminhão de novidades, que vão desde o drama histórico “Catarina a Grande”, em que Helen Mirren interpreta a poderosa imperatriz russa no século XVIII; “The Righteous Gemstones”, com John Goodman; “Chernobyl”, minissérie sobre a tragédia nuclear ocorrida em 1986; “Pico da Neblina”, de Fernando e Quico Meirelles, que se passa num futuro em que a maconha foi legalizada; e “O hóspede americano”, minissérie dirigida por Bruno Barreto que mostra o ex-presidente americano Theodore Roosevelt (Aidan Quinn) embrenhado nas florestas brasileiras ao lado do marechal Rondon (Chico Diaz). Emissoras como ABC, Fox, NBC, FX, CBS, AMC e SyFy ainda não fecharam o cronograma de estreias para 2019, então é aguardar para ver como ficará a agenda até o final do ano.
Vida social? Às vezes, é melhor passar raiva com Cersei Lannister do que aguentar aquele tio cheio das fake news nos almoços de domingo.