Quando a responsabilidade é grande demais para ombros frágeis – ou mesmo para apenas um par de ombros poderosos -, é preciso apelar para o melhor que se tem a fim de garantir a própria sobrevivência. “Liga da Justiça”, longa que reúne alguns dos maiores heróis da DC Comics, chega aos cinemas nesta terça-feira carregando justamente o lema mais conhecido de um certo aracnídeo da rival Marvel Comics: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
No caso da Liga, essa responsabilidade é redobrada: além dos personagens terem que salvar nosso planeta de uma ameaça maior que os poderes individuais de cada um, o longa dirigido por Zack Snyder é visto como a segunda (última, talvez?) chance da DC conseguir criar na sétima arte um universo coeso, equilibrado e bem-sucedido, assim como sua concorrente logrou êxito ao lançar, em 2008, o primeiro “Homem de Ferro”, abre-alas que culminou com a chegada, em 2012, do apoteótico “Os Vingadores”. O sucesso do longa serviria, ainda, para apimentar as eternas discussões virtuais entre os fãs das duas editoras, com os mais radicais sempre tripudiando dos desempenhos ou falhas dos “inimigos”.
Trajetória tortuosa
O caminho até o lançamento de “Liga da Justiça” foi tortuoso, e marcado por uma série de percalços e polêmicas. A Warner, dona da DC Comics e responsável por produzir os filmes da editora, conseguiu entregar a reverenciada e referencial trilogia do Batman comandada por Christopher Nolan entre entre 2005 e 2012. Ao mesmo tempo, teve que enfrentar tropeços como “Lanterna Verde” (2011), um fracasso de público e crítica lançado sem qualquer conexão com outros heróis – e que chegou aos cinemas no mesmo ano em que a Marvel lançava os primeiros filmes do Thor e Capitão América, que prepararam terreno para “Os Vingadores”.
A situação melhorou apenas financeiramente com a chegada de “O Homem de Aço”, em 2013, que teve críticas elogiosas e negativas praticamente na mesma proporção. E aí a DC começou a trocar os pés pelas mãos, ao anunciar de forma abrupta que o próximo longa seria “Batman vs. Superman”, primeiro encontro dos heróis no cinema e que teria participação luxuosa da Mulher-Maravilha. A história serviria de única “prévia” para “Liga da Justiça”, com “Mulher-Maravilha” contando a origem da personagem; Flash, Ciborgue e Aquaman seriam apresentados apenas por meio de uns arquivos safados que Batman conseguiu surrupiar do vilão Lex Luthor em “BvS”. Outro longa produzido nesse período, “Esquadrão Suicida” serviu exclusivamente para encher os bolsos da Warner, pois acrescentou quase nada à história e foi massacrado pela maioria dos críticos e parcela considerável do público.
Ainda que tenha faturado mais de US$ 800 milhões, “Batman vs. Supermnan” divide opiniões por conta de um roteiro truncado, visual sombrio e um Superman mal-humorado, para dizer o mínimo, e não faltou quem colocasse a culpa em Zack Snyder, diretor de “O Homem de Aço” e “BvS”. Chegou a rolar um abaixo-assinado pedindo à Warner para escolher outro diretor para o filme da Liga.
Entre refilmagens, tragédias e bigodes
Mas lá foi Zack Snyder dirigir o filme, marcado por uma série de problemas durante sua produção. A principal delas foi a mudança constante no roteiro, incluindo e tirando e recolocando personagens numa velocidade que surpreenderia o próprio flash. Depois, foi a vez do próprio Snyder deixar o projeto na pós-produção, em maio, devido ao suicídio de uma de suas filhas, ocorrido em março; as refilmagens, ocorridas em julho, ficaram por conta de Joss Whedon, que dirigiu os dois primeiros “Vingadores” para a Marvel. Nesse meio tempo, Ben Affleck deixou a direção do próximo filme do Batman, que foi adiado e ganhou novos roteiristas e diretor (Matt Reeves).
Para concluir, as filmagens enfrentaram os problemas de agenda de dois dos atores principais, incluindo a polêmica “o bigode de Superman”: Henry Cavill, que interpreta o Homem de Aço, participa das filmagens de “Missão: Impossível 6”, e por contrato estava proibido de raspar o bigode de seu personagem. A solução foi retirar o “adorno” por meio de efeitos de computador. E Ezra Miller, o Flash, participa da sequência de “Animais fantásticos e onde habitam”.
Tudo isso resultou em mais US$ 25 milhões na conta da Warner, que buscou fugir do tom sombrio dos dois longas dirigidos por Snyder com as novas filmagens.
Onde está o Homem de Aço?
Dependendo do ponto de vista, pouco – ou muito – se sabe a respeito da trama de “Liga da Justiça”. As primeiras críticas, entretanto, destacam o clima leve e aventuresco da história, mais distante do ar sombrio que se imaginava e que se aproxima das produções da Marvel. O ponto fraco do filme, aliás, seria o mesmo da rival: um vilão (Lobo da Estepe) pouco expressivo.
A história mostra um mundo que ainda chora o luto da morte do Superman pelas mãos de Apocalypse, como visto em “BvS”, com Batman (Ben Affleck) e Mulher-Maravilha (Gal Gadot) encarregados por conta própria de encontrarem seres superpoderosos para enfrentar uma ameaça extraterrestre que já se encontra na Terra: o Lobo da Estepe e os Parademônios de Apokolips, planeta tiranizado pelo cruel Darkside. O vilão está em busca de três poderosos mecanismos, as Caixas Maternas, que num passado distante ficaram sob posse dos humanos, atlantes e amazonas.
Os heróis recrutados são aqueles que, além da Mulher-Maravilha, Batman descobriu ao roubar os arquivos de Lex Luthor: Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Ciborgue (Ray Fisher). Os cinco tentarão impedir os planos do Lobo da Estepe, acompanhado de seus Parademônios, e, pelos trailers e entrevistas concedidos pelo elenco até agora, “Liga da Justiça será marcado por batalhas épicas, tanto no presente quanto no passado.
Mas a pergunta que não quer calar é: e o Superman? Com o personagem morto e enterrado no final de “Batman vs. Superman”, uma série de teorias já circulou pela internet; até agora, porém, só quem assistiu às sessões para a imprensa sabe como o Último Filho de Krypton vai voltar dos mortos. Este momento, inclusive, promete ser o de maior catarse entre os fãs.
Além dos personagens principais, “Liga da Justiça conta com uma lista de coadjuvantes de peso: Amber Heard (Mera), Willem Dafoe (Vulko), J.K. Simmons (Comissário Gordon), Jesse Eisenberg (Lex Luthor, que ninguém mais sabe se está ou não no filme), Jeremy Irons (Alfred) e Amy Adams (Lois Lane).
Com tanto investimento por trás, “Liga da Justiça” tem uma responsabilidade do tamanho do mundo em suas costas, e talvez o sexteto de heróis precise de uma mãozinha extra na história. Um Lanterna Verde, talvez?
Liga da Justiça
UCI 2 (3D/dub): meia-noite (ter), 16h (qua). UCI 2 (3D/leg): 18h30 (qua). UCI 3 (3D/leg): meia-noite (ter), 19h, 21h30 (qua). UCI 3 (3D/dub): 14h, 16h30 (qua). UCI 4 (3D/dub): 19h30, 22h (qua). Santa Cruz 2 (dub): 21h10 (qua).
Classificação: 12 anos