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Inoutside lança clipe e reforça protesto contra a violência policial

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Banda aborda temas políticos em suas músicas (Foto: Divulgação)
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O power trio juiz-forano Inoutside, formado por mulheres LGBTQIAPN+, lança, nesta quinta-feira (14), o clipe de “Whose blood is that?” – traduzido como “De quem é esse sangue?” – em todas as plataformas digitais. A faixa, presente no álbum de estreia “Dare the night” (2022), ganha nova versão, com vozes regravadas e remixagem, reafirmando o tom político e contestador que marca a trajetória da banda.

Atualmente integrada por Mariana Campello (guitarra e voz), Leticya (bateria) e Bruna Odas (baixo e voz), a Inoutside surgiu em 2012, em Vitória, no Espírito Santo, e se consolidou em Juiz de Fora como a única banda de rock autoral da cidade composta exclusivamente por mulheres. Com influências do hardcore, stoner e rock alternativo, o grupo combina sonoridade intensa com letras que discutem desigualdade, preconceito, feminismo e a condição de ser artista em meio ao capitalismo.

Protesto em música e imagem

Gravado na histórica Fábrica de Tecidos São João Evangelista, no Bairro Floresta, o clipe apresenta o trio performando em um cenário industrial que potencializa a atmosfera de indignação presente na letra. O single denuncia a violência policial seletiva e a impunidade que favorece a elite, além de criticar a forma como parte da mídia reforça essas desigualdades.

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Mariana, compositora, relembra o contexto em que escreveu a canção. “Foi pouco antes da pandemia, que foi quando gravamos o álbum. Lembro que, naquela semana, as notícias sobre violência policial estavam dominando os noticiários. Eu sempre busquei me manter informada, mas aquilo se tornou sufocante. Parecia que esse tipo de notícia nunca teria fim. Senti que não tinha para onde direcionar esse sentimento, a não ser escrevendo.”

A pergunta-título – “De quem é esse sangue?” – funciona como um chamado à reflexão sobre massacres direcionados, ignorados ou até aplaudidos por parte da sociedade. A letra também aponta a postura superficial de autoridades políticas que, especialmente em períodos eleitorais, exploram tragédias para fins de autopromoção, sem agir para modificar a realidade.

Além da crítica direta à violência, a música aborda questões estruturais, como a destruição ambiental ligada ao agronegócio, guerras e tragédias sustentadas pela lógica capitalista. Escrita em inglês, busca ampliar o alcance da mensagem, ressaltando que a cultura de violência é um fenômeno global, não restrito ao Brasil.

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Trajetória e novos passos

Desde a estreia, o Inoutside acumula apresentações em eventos como Mulheres no Volante e Dia de Rock, em Juiz de Fora, além de participações em festivais de outros estados, como o Não Tem Banda com Mina, organizado pela banda paulistana The Mönic.

Formada há 13 anos, a banda sempre apresentou posicionamentos claros. Mariana explica que não havia como se afastar do teor político. “A partir do momento em que somos uma banda só de mulheres, num meio tão dominado pelo machismo, não somos muito bem recebidas. O rock nasceu como questionamento, para abraçar os marginalizados e excluídos. Para nós, sempre fez sentido ocupar esse lugar de protesto.”

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A artista destaca que as dificuldades de inserção no cenário musical estão refletidas nas letras: “Vivemos isso na pele. Os caminhos não se abrem facilmente para a gente. No próximo EP, que será em português, vamos ‘rasgar o verbo’ para falar sobre a dificuldade de existir como artista num mundo capitalista, especialmente sendo mulher. A gente tem que suar a camisa em dobro e, como eu digo, abrir o matagal no facão, sem esperar que alguém abra o caminho.”

Mesmo após mais de uma década em Juiz de Fora, o cenário local continua hostil, segundo a artista. “Infelizmente, é um dos ambientes mais machistas que já presenciamos. Muitas vezes, não somos chamadas para eventos nos quais caberíamos perfeitamente ou recebemos tratamento desrespeitoso. Isso não acontece com todos, e sim por sermos mulheres. Por isso, buscamos tocar mais fora para ampliar o público, já que aqui não somos levadas tão a sério quanto gostaríamos.”

Com um álbum e clipes que evidenciam vozes exclusivamente femininas e arranjos diversificados, o grupo se prepara para uma nova fase. O próximo EP, já está em produção. “Estamos vivendo uma crise, chegando aos 30 anos, e não conseguimos ignorar nossa parte artística. Mas ser artista hoje é complicado, tanto financeiramente quanto criativamente. Trabalhamos tanto que, às vezes, não sobra tempo nem cabeça para compor. Esse EP vai falar muito sobre esse momento e sobre o que significa ser artista agora.”

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*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

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