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José Dias Ibiapina lança livro de cordel e “causos”, neste sábado, no Mamm

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Como o leitor e a leitora podem perceber pelos toscos versos escritos acima por este repórter, a literatura de cordel não é para os fracos. Mas serve (espero) de convite para o lançamento de quem entende do assunto: no caso, o professor e médico aposentado José Dias Ibiapina, que promove neste sábado (15), às 10h, no Mamm, o livro “A literatura de cordel, as histórias e as invencionices do Professor Ibiapina”.

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Em pouco mais de 160 páginas, o Professor Ibiapina (como é mais conhecido pelos amigos, ex-pacientes e ex-alunos) escreve em prosa e cordel histórias suas e de sua família, dos amigos, relembra “causos” dos quais foi ouvinte ou testemunha e dá conselhos de saúde. Foi questão de levar para o papel as histórias que Ibiapina sempre gostou de contar para os amigos e também o seu talento para os versos com o qual ajudou muitos alunos da UFJF, Faculdades de Barbacena e Suprema a guardarem seus ensinamentos na memória.

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A estreia tardia do Professor Ibiapina no mundo literário – aos 77 anos – se deu como necessidade de ajudar a ocupar o tempo após passar 14 dias no CTI do Hospital Monte Sinai, em 2016, devido à dengue hemorrágica. Após ser liberado do hospital, ele foi para Brasília ficar com dois de seus filhos, Érika e Ricardo, de onde veio para promover o lançamento do livro em Juiz de Fora – a exemplo do que aconteceu em maio na capital federal – e reencontrar velhos amigos.

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Ainda se recuperando da dengue, Ibiapina continua a caminhar com uma bengala, e a voz sai baixa, pausada, porém serena. Mas a memória continua firme e forte, capaz de recitar inúmeros cordéis sem precisar recorrer ao livro, assim como “causos” e histórias que estão na publicação e outros que ficaram de fora. Tudo isso durante duas horas de conversa, em que se lembra de histórias como as de seu pai, Antônio Félix Ibiapina, que era conhecido por “Mão Santa” pela capacidade de “encanar” (engessar) braços e pernas fraturados mesmo sem ter cursado medicina, e de como ele enfrentou o avô do escritor para se casar com a mulher que desejava, Filomena, mesmo que ela não tivesse dote.

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Ou quando canta a música que sua mãe entoava quando estava a costurar, o dia em que quebrou o braço ao montar no jumento Jagunço, o cavalinho de madeira que ganhou de Natal aos 5 anos, o “causo” do porco e a bicicleta, o último carnaval do Gamboa e a solidão de Cândido Tostes, que escreveu uma carta para si mesmo.

 

Uma vida, muitas histórias

Essas e muitas outras situações ele carrega desde a infância na cidade cearense de Sobral, onde nasceu em 1939. José Dias Ibiapina se mudou para Juiz de Fora aos 16 anos, acompanhando o irmão João Dias, para cursar o segundo grau (atual Ensino Médio) na Academia de Comércio, antigo nome da Escola Cristo Redentor. Ele concluiu o curso Científico praticamente ao mesmo tempo em que terminou o curso técnico na Escola de Laticínios Cândido Tostes, engrenando em seguida no curso de medicina da então recém-criada UFJF.

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Trabalhou como fiscal de Receita Estadual de Minas Gerais até concluir a faculdade, quando passou a exercer a especialização de pediatra em seu consultório particular e também na Secretaria Regional de Saúde. Posteriormente também trabalhou como professor no curso de medicina da UFJF, além das Faculdades de Barbacena e Suprema. Foi também atleta na juventude, tendo disputado provas de salto em altura e basquete.

A habilidade de contar histórias sempre esteve presente, mas a tradição oral passou a ser compartilhada com a escrita quando participou – e venceu – um concurso de poesias promovido pela Funalfa, que tinha como tema “passageiros especiais”. Desde então passou a escrever a literatura de cordel, mas somente com a convalescença provocada pela dengue hemorrágica é que se dedicou a escrever um livro.

“Meu filho Cássio viu alguns dos escritos e disse que eu precisava escrever um livro, e toda a minha família incentivou. Foi uma forma de ajudar na minha recuperação, escrevia muito durante a madrugada”, relembra, destacando que outro de seus filhos, Ricardo, já começou a se aventurar no mundo do cordel. “O cordel sempre esteve presente na minha vida, eu o usava nas aulas de medicina ainda na época da UFJF. Rimar ajuda a memorizar os ensinamentos.”

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Com a melodia na cabeça

O Professor Ibiapina utiliza em seus versos o esquema de sextilhas, com estrofes de seis versos e rimas nos versos pares. É onde ele conta a história de parentes e amigos como o general Cássio Rodrigues da Cunha, Jonas Bomtempo, Zé Lírio Ponte Aguiar, o radialista Márcio Augusto, relembra o cordel “Passageiros especiais”, o nascimento da “Expopinga” e alunas e funcionários da Faculdade Suprema.

“O (ex-prefeito) Tarcísio Delgado se emocionou muito com o cordel que fiz para ele e sua mãe, que eu chamo de ‘Anna com dois enes’.” Muitos dos cordéis presentes no livro foram escritos, segundo Ibiapina, com a melodia na cabeça, que ele logo se põe a cantar durante a entrevista que se tornou uma boa conversa acompanhada de café e biscoitos. “O editor do livro sugeriu a gravação de um CD com esses cordéis musicados, vamos ver se vai acontecer.”

Com uma vida bem vivida e cheia de histórias para contar e compartilhar, o Professor Ibiapina diz que sempre teve algo de bom para tirar de cada fase por que passou, e que mantém o gosto tanto de ouvir quanto de contar histórias (“O bom de ouvir é que sempre temos mais histórias para contar”).

O septuagenário estreante no universo literário lista, para terminar a entrevista, o que mais marcou sua vida na juventude em Sobral e também nas mais de seis décadas vividas em Juiz de Fora. “Da infância em Sobral eu guardo a lembrança das férias, quando ficava pegando passarinho na Fazenda Fonte Vidal. De Juiz de Fora tenho que agradecer a oportunidade de ter um estudo melhor, me tornar um atleta, e tudo que conquistei aqui.”

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