Foram três anos escrevendo, guardando as emoções no papel, selecionando o que poderia virar livro e o que não teria coragem de mostrar para os outros. Repensando isso e se abrindo cada vez mais. Foram anos também de evoluções, de enxergar a própria escrita como literatura e se entender a partir das relações que constrói. Todos esses passos foram necessários para que Lara Morais escrevesse “Eu não fui feita para coisas mornas”, seu mais novo livro e primeiro que lança a edição física. Após ter ficado entre as obras mais vendidas na Amazon com “Tudo o que sei sobre amar é saudade”, lançado em 2021, a escritora de 26 anos retorna com seus poemas mais recentes. Falando sobre feminismo, amor, liberdade, desilusões e reviravoltas da vida afetiva, é possível conhecer uma nova versão sua. A obra será lançada na quarta-feira (15), a partir das 20h, no bar Rise Together (Av. Presidente Itamar Franco, 2495 – São Mateus), onde será possível adquirir a obra autografada e bater papo com a autora.
Depois do lançamento do e-book e da conexão que passou a ter com seus leitores, a vontade de Lara em lançar um livro físico foi se tornando cada vez maior. Para que isso fosse possível, no entanto, foi preciso paciência. “Foi um processo focado em publicar, mas eu não ficava me apressando, porque acho que a escrita, principalmente a poesia, não conversa muito com a rapidez. Você tem que esperar o sentimento vir para conseguir transmitir”, explica. Sendo assim, foi vendo os temas virem até ela, já em uma versão mais adulta e tendo maturidade para abordar sentimentos ainda mais fortes. Foi no final de 2023 que sentiu que tudo estava pronto e que, ao lançar o livro, teria que ter coragem de mostrar escritos que ninguém tinha visto antes, revelando mais sobre si mesma. Como começa a obra, em suas próprias palavras: “Sempre serei entrega, é a minha sina”.
Se entregando por completo, Lara Morais resolveu que, por tratar desses últimos anos de sua vida, o livro seria ainda mais autobiográfico que o anterior, que trouxe diferentes épocas de sua vida para os leitores. “Foram situações que eu estava vivendo, não apenas no momento, mas que eu consegui entender a partir daquela hora. A escrita, pra mim, tem muito desse papel de autoanálise”, conta. As duas obras, no entanto, ainda apresentam diferentes aspectos em comum: “Os dois trazem poesias sobre relacionamentos. Gosto de falar sobre relações, não apenas as amorosas, mas de amizade e família, ou seja, relações como um todo. Me entendo a partir das pessoas que eu me relaciono e do que construo”.
Além disso, como a escritora revela, o lançamento também traz temáticas atuais, como sobre a fluidez com que as pessoas se relacionam e um sentimento de inquietação que rege as novas gerações. Também por tratar sentimentos tão profundos da autora, o grande desafio enfrentado, novamente, foi ser capaz de se expor vulnerável assim: “Tem poemas ali que estavam escondidinhos, mostrava apenas para amigas, mas que não tinha coragem de mostrar para os outros porque achava que estava me expondo demais. Tinham poemas que eu colocava e depois tirava do livro”, relembra. Mas, para que a obra ficasse realmente a sua cara, entendeu que era preciso também enfrentar isso. “Eu entendi que esse livro era uma forma de eu ser verdadeira comigo, exorcizar esse sentimento e jogar para o mundo. Foi um processo de gerir as minhas emoções de acordo com o que sou hoje. Claro que estamos em constante mudança e evolução, mas quando olho esse livro, sinto mais uma conexão e verdade com o que eu sou hoje”, explica.
Inverno, verão, primavera e outono
O livro “Eu não fui feita para coisas mornas” é dividido em quatro capítulos, que representam as estações do ano. Mas mais que isso, como explica Lara: são os sentimentos que as estações trazem. Por isso, a divisão apresenta “Gélido inverno (que parece não ter fim, corta, causa calafrios)”, “Temporal de verão (que bagunça, causa transtorno, e transforma), “Manhã de primavera (que traz recomeços)” e, por fim, “Tarde de outono (que equilibra)”. A autora também tem uma página nas redes sociais, “Imperfeito clichê”, em que traz poemas que foi escrevendo ao longo dos anos, e mesmo antes do seu primeiro lançamento. Mas os escritos de Lara Morais que estão sendo publicados neste livro vão chegar pela primeira vez ao público – sendo também uma história que ainda vai ser descoberta pelos seus leitores e com respostas que virão em breve.
Inspirações para ser
O título de seu livro foi inspirado em um poema da escritora brasileira Martha Medeiros, em que também fala sobre o que é ser morno. A autora se identificou porque, atualmente, enxerga que as pessoas não gostam de falar sobre suas emoções ou de serem intensas. “Nem todo mundo se sente à vontade para falar sobre suas emoções ou para ouvir o outro falar. Então passei por algumas situações em que fui percebendo que essa minha vontade e facilidade de falar sobre isso estava causando certo incômodo e estranheza, e que eu era julgada por isso”, reflete. Por isso, também foi muito importante para o lançamento se ancorar na força de outras mulheres, como as escritoras Rupi Kaur, Ryane Leão e Marcela Ceribelli, inclusive para ser possível falar sobre questões que afetam especialmente as mulheres.
Com a obra pronta, Lara agora pode se encontrar com leitores para discutir os temas e saber como o que escreveu afeta as pessoas. Em 2021, quando seu primeiro livro foi lançado, isso não foi possível, graças ao cenário da pandemia de Covid-19. “A poesia tem muito isso de eu sentar para escrever sobre algo, e quem está lendo ser tocado por outro motivo e em outro lugar. Gosto de sentar e entender porque os leitores gostaram de determinado poema ou trecho. Acho que o evento vai ser pra isso também”.