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‘Mães influenciadoras’: mulheres se transformam em rede de apoio na internet

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Já é notável para todos os usuários de redes sociais que, dentro daquele universo, há uma distorção da realidade. Pessoas que, em uma foto, parecem estar felizes e com uma vida maravilhosa, mas, na realidade, podem até estar vivendo o contrário. Quando essa temática é perpassada pela maternidade, torna-se ainda mais complexa. É quase impossível uma foto conter noites mal dormidas, processos difíceis de criação de filhos ou dores tão comuns durante o puerpério. 

A Tribuna entrevistou mulheres que, em meio a uma pressão por se mostrarem sempre perfeitas, escolheram colocar à prova suas vulnerabilidades, compartilhando a maternidade da forma mais real que conseguem. 

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Dayane Pedrosa @dayanepedrosa

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Quando Dayane começou a compartilhar seu dia a dia na internet, há oito anos, ela tinha 20 anos e foco em tutoriais de maquiagem e beleza para o YouTube. Com o tempo, foi se adaptando para outras redes e trazendo mais da rotina. Em 2020, no início da pandemia de Covid-19 e distante dos familiares, descobriu que estava grávida. Perdeu a sogra nesse processo, sem poder se despedir. Por isso mesmo, decidiu trazer o processo para as redes e tentar, mesmo enclausurada, estar próxima das pessoas.

As redes sociais fizeram com que ela e Sofia, sua filha, estivessem próximas também do resto da família, além dos seguidores. Foi um período que ela contou ter se sentido com frequência sozinha. “O período do puerpério eu senti muito por não ter visita e não poder ter ninguém pra me ajudar. Eu precisava de um colo”, diz. Logo em seguida, compartilhou também o seu processo de amamentação, que foi diferente de muitos relatos que via, por ter tido uma produção de leite muito grande e que gerou desconfortos e dores.

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“A maternidade tirou um pouco dessa ilusão das redes, mostrou que meu corpo passa por mudanças, que minha pele apresentou cansaço, que estava cansada mesmo muitas vezes. Fiquei mais próxima das pessoas que me seguem”, explica. Ela conta que, mesmo assim, sempre tenta ter um limite do quanto quer expor e o quanto não quer. “Eu compartilho as fases difíceis, mas tento sempre trazer de forma leve, para agregar para as mães que estão passando por isso com a minha experiência”, revela.

Thaynná Fávero @tatahfavero

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Thaynná acredita que as redes sociais são uma forma de pessoas que estão longe das mídias e das histórias oficiais poderem contar a própria realidade. É isso que faz, mesmo antes de seu filho, o Dom, nascer. Mas tudo mudou a partir dele, inclusive porque ela descobriu que o filho tinha Síndrome de Down, que a fez buscar, incessantemente, informações e apoio em meio a rede. “Eu tive uma depressão pós-parto pesada e também sou uma pessoa com acesso à internet, filha de professores da rede pública que fazem um trabalho maravilhoso de inclusão. Cresci com crianças com deficiência ao meu redor. Mas quando foi comigo, eu me vi em um desespero, uma dor, sem saber o que fazer. Comecei a me culpar”, conta. 

O processo de entender e aceitar seu filho envolveu, inclusive, estar do lado dele em meio a medos e dificuldades. “Eu chorava e pedia ao Dom desculpa por ele ter nascido, por ter colocado uma criança no mundo. E ele ali, todo lindinho, só precisando de mim. Eu parei de me desesperar e pensar no que ele precisava no dia: comer, tomar banho, se trocar”, diz. Ela conta que a maior preocupação foi conseguir informação sobre o tema e saber por onde começar os cuidados com o filho. “Eu me senti muito sozinha. Digitava no google, só via artigos médicos, páginas e mais páginas que eram difíceis. Mas quando digitei nas redes sociais, o universo se abriu”, diz.

Esse mesmo espaço possibilitou que ela falasse sobre assuntos que a interessavam antes, abordando questões sociais, body positive e dicas de beleza. Hoje, é onde ela mostra como é a criação do filho e cria um conteúdo que queria ter visto quando mais precisou. “Uma coisa que percebi nesses anos todos é que, quanto mais vulnerável eu me apresento, mais eu acolho pessoas, mais pessoas se identificam”, diz.  Uma mensagem em especial a marcou: “Uma mãe disse que estava na maternidade, e tinha acabado de ter seu filho, com Síndrome de Down, e que quando encontrou meu perfil, eu devolvi o ar para os pulmões dela. E eu sei exatamente o que ela quer dizer com isso”, conta. Aprendeu a lidar até mesmo com as críticas, que nunca deram descanso. “Às vezes, recebo mensagens que morro de rir. Me falam, por exemplo: ‘Tatah, to muito preocupada, tem vez que parece que você está no seu limite do cansaço’. E eu digo: ‘gente, qual mãe não está?”, ri.

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Julianna Prado @shiujulianna

Quando Julianna engravidou, precisou sair do seu trabalho para fazer repouso. A internet virou uma espécie de refúgio em relação ao mundo e foi lá também que encontrou mães influenciadoras que escolhiam mostrar o que estava vivendo, inclusive a solidão que sentiam ou a carga que tinham. Esses encontros viraram inspiração para Julianna. Em sua visão, é bastante normal que mulheres  acabem se comparando com realidades que estão sendo mostradas também de forma distorcida e, por isso, é preciso um esforço contrário. “É importante falar sobre os perrengues e as dificuldades para a gente se sentir mais normal”, explica.

Ela conta que também não entendia a dimensão e a complexidade de ser mãe até se tornar uma. No processo de entender, produziu conteúdos que trouxessem informações e rotinas para todas as mulheres. Ainda hoje, explica que são justamente as críticas em relação à criação e à maternidade que mais a incomodam, ainda mais quando vindas de pessoas que não conhecem suas dores ou sua realidade. Enxerga que, mesmo com as evoluções desse meio, ainda há temas que são grandes tabus, como por exemplo a sexualidade da mulher mãe. “Ainda é um assunto muito delicado e que eu sempre sofri ‘hate’ por abordar e por postar fotos de lingerie depois da maternidade. Mãe também é mulher, tem desejo e prazer como qualquer outro ser humano”, ressalta. 

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Izabel Farinelli @aprendendocomclarice

Izabel decidiu mostrar seu processo de maternidade porque engravidou ainda jovem, aos 19 anos, e viu outras meninas na mesma situação e com as mesmas  dúvidas. “Quando se engravida cedo, como eu, as pessoas sempre falam que a vida acabou. Há várias partes difíceis, como tudo, mas tem também as partes legais, engraçadas”, diz. Sua escolha foi tentar conversar abertamente sobre o que estava vivendo e tentar também encontrar mulheres como ela. “Queria mostrar que não é tão difícil quanto parece e também não é tão fácil quanto parece”, explica.

Tendo como base a própria realidade, também entendeu que precisava de referências de vidas que fossem próximas da sua. “Eu já seguia mulheres que eram mães, mas todas casadas, ricas e estáveis financeiramente. Era utópico pra mim. Eu tentei seguir o máximo de mães, jovens e solteiras possível, porque sei o quanto isso impacta na minha rotina e na minha mentalidade”, diz.  Para ela, é por causa da falta de informação que tudo vira tabu e, por isso, tenta falar naturalmente e do seu próprio jeito. “É muita gente querendo dar informação ao mesmo tempo, gerando críticas. Quando se fala de parto normal ou cesariana, amamentação e desmame, muito poderia ser resolvido com informação”.

Virginia Oliveira @vickmommy

A professora Virgínia começou a utilizar suas redes sociais, inicialmente, com o objetivo de fazer uma espécie de diário de maternidade. Logo, a página acabou tomando proporções maiores e se transformou para ela e para as seguidoras em um “espaço de posicionamento enquanto mãe e mulher”. Quando percebeu o alcance que seu perfil poderia ter, principalmente para mães solo, quis usar para divulgação de uma maternidade real e possível. Para ela, isso significa entender que cada mãe tem a sua realidade e seus valores. “Uma mesma mãe tem fases com realidades, fazendo com que o maternar não seja um processo linear”. 

Ela afirma que ainda sente vários incômodos em relação a esse universo: “Me incomoda a intolerância às formas diferentes de maternar e, sobretudo, às configurações diferentes de família. As mães não têm autonomia para decidir sobre seu filho sem inúmeros julgamentos e opiniões alheias”. O fim de sua licença maternidade e o retorno para o mercado de trabalho foram momentos bastante desafiadores. “Se separar do filho é um processo que carrega muitas dores, desde o peito cheio de leite até a dificuldade de voltar para sua vida e se encaixar na sua rotina sendo uma pessoa transformada pela maternidade”.

Ter a sua própria mãe como apoio foi essencial nesse processo, que ainda é doloroso em tantos momentos. “Eu saio de casa pra trabalhar às 6h e só retorno após às 20h, quando mais cedo. É o amor que se encarrega de criar o vínculo entre mim e meu filho, nunca a quantidade de tempo que passamos juntos”.

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