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Hérmanes Abreu apresenta mini orquestra de jazz em show nesta terça-feira (15)

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Hérmanes Abreu e suas partituras: “Eu levo às vezes mais de anos para escrever uma música” (Foto: Olavo Prazeres)
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Muitas pessoas entendem de arquitetura, outras tantas, de composição musical, mas talvez nenhuma articule tão bem as duas áreas juntas. Em 1962, Hérmanes Abreu nascia em Campina Grande, na Paraíba, mas logo veio para o Rio e, em seguida, para Juiz de Fora. Na casa de seu pai, como até hoje acontece, recebe as influências dos ritmos nordestinos ressoando pelas paredes. A melodia de Minas veio naturalmente por ter sido criado no estado, e o jazz americano apareceu por formação acadêmica.

Em 1993, Hérmanes estava em Boston, nos Estados Unidos, especializando-se em composição e arranjo de jazz, na Berklee College of Music. Retornou ao Brasil em 1995 e desde então nunca tinha conseguido reunir músicos a fim de desenvolver o projeto na dimensão que ele havia construído por lá. Após mais de 20 anos, Dudu Lima, que com seu trio gravou o disco do projeto “Correntezas (Moving Waters)” com Hérmanes, incentivou o compositor a retomar a formação da mini orquestra, para executar com mais profundidade as partituras que vêm sendo escritas, em caneta tinteiro, desde o início dos anos 1990.

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“As minhas composições, não faço em um mês, eu levo às vezes mais de anos para escrever uma música. Cada detalhe do arranjo é escrito, como acontece com o jazz americano, em se tratando de big band ou grupos com quarteto ou quinteto de sopros”, explica Hérmanes, que em seu repertório toca composições próprias que surgiram ao longo de todo esse tempo, mesclando com clássicos do jazz como “Footprints” e “Green Dolphin” Street, do Wayne Shorter, e “Upa Neguinho”, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri.

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O estilo de compor de Hérmanes tem como inspiração Duke Ellington e Claus Ogerman (que inclusive trabalhou com Tom Jobim). O arranjo é pensado junto da melodia e da harmonia. Com esse método, ele consegue mostrar toda a bagagem do que aprendeu em composição para orquestra e também seus experimentos nas estradas e nos shows. “O arranjo está em primeiro lugar, com a composição, é uma coisa única.” O que é escrito por Hérmanes é o ponto de partida para que depois cada músico possa evoluir, deixando sempre espaço para momentos de improviso. Sua intenção é escrever não somente para o instrumento, mas para o instrumentista, explorando ao máximo os trejeitos e a identidade peculiar de cada músico.

Em 1995, Dudu Lima foi à casa de Hérmanes já na intenção de desenvolverem um projeto juntos. Nessa época, Hérmanes morava em Juiz de Fora, mas mantinha seu grupo no Rio, e coincidentemente, Adriano Giffoni, contrabaixista que havia sido professor de Dudu, estava saindo e indicou Dudu para assumir. Seguiram fazendo shows e inclusive passaram por aqui. Em 1998, foram para os Estados Unidos com o grupo e, em 1999, se apresentaram no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, onde gravaram um disco ao vivo: “O homem não foi feito para cair”, de Hérmanes Abreu e o pianista Marvio Ciribelli.

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No ano seguinte, Hérmanes surgiu com a primeira edição do Ibitipoca Jazz Festival, onde, pela primeira vez, irão se apresentar em julho com a nova formação de octeto. “Hérmanes sempre teve como característica escrever muito bem para grupos, e essa ideia de retomar o projeto surgiu aqui em casa. Em um final de ano, eu trouxe ele aqui e falei que tínhamos que colocar o projeto dele na rua novamente, mostrei a ele a orquestra Corações Futuristas que Egberto estava começando junto a músicos jovens”, conta Dudu Lima.

Dudu Lima e Leandro Scio (bateria e percussão) já vinham desenvolvendo o projeto desde o início dos anos 2000, Ricardo Itaborahy (piano/teclado) também faz parte do octeto, porém não participa do show desta terça-feira (15), no Experimental Container Bar, e deve retomar para o show na Serra de Ibitipoca. O encontro com Kim Ribeiro foi através da música, quando Hérmanes ia aos seus shows e ficava impactado com a flauta afinadíssima do músico, que só veio a conhecer Hérmanes por conta do convite para entrar no projeto. “No dia que ele chegou lá em casa para ensaiar, eu mostrei seu primeiro LP, assinado por ele, que eu guardo comigo desde 1982 ou 1983”, conta Hérmanes.

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Suas composições dependem muito dos arranjos de sopro, que não estão ali apenas em segundo plano, a ideia é retomar o formato de grandes bandas, que tem se tornado raro e sempre reduzido no Brasil. “O Dudu me incentivou a montar o grupo, e começamos a pensar que temos excelentes músicos em Juiz de Fora. Esse era um problema que eu tinha antes, precisava ensaiar no Rio. O Caetano Brasil, que toca comigo neste show, nasceu no ano em que eu me formei na Berklee. Eu tive que esperá-lo evoluir, aprender a tocar clarinete para poder encontrar um músico do nível dele aqui.”, comenta Hérmanes.

 

Dudu Lima é parceiro de Hérmanes no projeto da mini orquestra (Foto: Olavo Prazeres)

Um octeto territorializado, porém atemporal

O grupo tem gente de 22 até mais de 60 anos, discutindo música entre várias gerações. Amanda Martins, flautista, Hérmanes conheceu nos shows da compositora popular Uiara Leigo, quando produziu seu segundo disco. Para completar o quarteto de sopros, Wesley Fontes, também de uma novíssima era da música, entra com o segundo clarinete junto a Caetano, que também toca clarone. “Eu achei interessante, porque ele fez um quarteto de sopros bem original. São sopros que têm timbres bem definidos e ao mesmo tempo soam muito bem juntos. O quarteto faz uma harmonia bem orquestral, aproveitando cada um como solista”, avalia Kim.

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Espaço livre

Dudu Lima destaca a maneira visual de como enxerga a música de Hérmanes, que tem uma história associada a um lugar ou pessoa por trás das principais motivações para compor. Tudo é muito visual. “Com cada instrumentista que você toca, você aprende, e eu sempre admirei muito os arranjos do Hérmanes. Ele sai do compasso comum e usa compasso composto, que é uma influência do Hermeto e do Egberto na obra dele, só que de uma forma positiva, porque ele escreve com muita personalidade. O espaço é muito livre, tem coisas que naturalmente são escritas, fazem parte da composição, mas há muito lugar para improvisação”, destaca Dudu.

Caetano e Amanda observam que os sopros são todos de madeira, indo de encontro às big bands tradicionais com trombone, trompete e saxofone, levando a música para um novo ambiente. “Apesar de o trabalho ter uma sonoridade jazzística, o naipe de madeiras flerta um pouco com o universo camerístico, da música de concerto. E apesar de os arranjos de Hérmanes serem muito ásperos em termos de escolhas sonoras e combinações, acaba que isso é um contraste, porque o timbre da madeira é mais doce se comparado aos metais”, revela Caetano, que sente no grupo influências que vão de gêneros nordestinos a Hermeto Paschoal e Jean Sibelius. “Não é fácil tocar a música do Hérmanes, ainda mais neste tipo de formação, mas quando tudo funciona, a composição se revela com uma força, impacto e argumento forte, deixa de ser música para músico e faz todo mundo sentir e gostar. É complexo e acessível”, complementa Caetano, explicando que o baixo é para a banda o que o clarone é para o naipe de sopros, possibilitando alcançar notas em regiões em que as flautas e o clarinete não chegam.

Jazz brasileiro

Amanda, que normalmente toca em bandas, como a Trupicada e a Matilda, está se dedicando a estudar os arranjos e pretende acrescentar o flautim ao grupo. “Um trabalho muito diferente de tudo que já fiz e faço, mas muito prazeroso, em que você se dedica e cresce muito com seu instrumento. As músicas são todas bonitas, é um jazz muito brasileiro, o Leandro traz uma bateria muito percussiva. Kim Ribeiro é um mestre com quem ainda não tinha tido o prazer de ter aula, apenas assistido aos shows e escutado seus discos. Nosso contato se estreitou muito”, diz Amanda observando que a flauta, apesar de ser um instrumento de metal, é considerada madeira.

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A ideia é explorar compassos diferentes sem parecer que a música é quebrada. “Procuro ser agradável ao ouvinte, então exploro muito a melodia mineira, essa influência do Clube da Esquina, até o próprio Egberto Gismonti, que é um carioca, mas tem raiz mineira. E aí eu posso brincar com maracatu de minas, maracatu nordestino, tem maracatu que vem até do Uruguai. A partir das diferenças, transformo em uma coisa única”, afirma Hérmanes, dizendo que a originalidade na escrita desse grupo é essencial.

Arquitetando sons ou compondo construções

Os trabalhos na arquitetura e música são desempenhados com os mesmos critérios, correlacionam-se o tempo inteiro em nível de experimentação e criação. A proporção da arquitetura é levada à música, e o ritmo, aplicado à arquitetura. “Se eu faço um prédio de 15 andares, tenho o ritmo de cada andar. Em meus projetos, os andares são iguais, mas visualmente olhando da rua você fala que cada andar é praticamente diferente um do outro. Enquanto na música, Villa Lobos sempre falava: ‘Não dá para repetir uma frase duas vezes’. Eu posso ter uma recapitulação, repetir a melodia, mas de outra forma, em outro tom ou harmonia”, detalha Hérmanes Abreu. Em suma, o músico/arquiteto quer entregar um prédio ou uma casa que, quando pronta, será a primeira vez que viu na vida, sem lembrar nenhum outro projeto. “A música para mim é isso. Vou ouvir, e ela não vai me lembrar outra. A ideia é ter sempre uma surpresa, poder tocar e surpreender. Todo mundo que vai a um show quer sair de lá melhor do que entrou, e não com uma sensação de ouvir o que já esperava ou o que já escutava.”

Muitas vezes já aconteceu de Hérmanes escrever a grade do grupo, que seria uma partitura com todos os instrumentos na mesma folha, e olhar para aquilo e sentir um apelo estético, já aconteceu de gostar de ver aquelas notas escritas e preferir apostar no visual da partitura do que no som, e em consequência o som sair muito bonito. “Se eu fosse pensar somente no som, talvez eu não chegaria naquele som que eu queria porque eu não pensaria no visual dele, no desenho, antes de escrever. Às vezes, você olha, e aquilo te dá uma textura tão bonita que você fica com vontade de escanear e mostrar, fazer um painel, um papel de parede, fica interessante”, finaliza Hérmanes.

 

Correntezas (Moving Waters)
Apresentação do Hérmanes Abreu Grupo. Nesta terça-feira (15), às 20h, no Experimental Container Bar (Av. Rio Branco 3.162)

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