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Outras ideias com Tarcísio Guerra

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Tarcísio Guerra (no centro) cuida da administração e do marketing virtual de loja onde trabalham seus dois irmãos para dar conta de filas e mais filas de clientes (crédito: Leonardo Costa)
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Assim ficou bom. Assim não está bom, não. Põe isso aqui. Tira aquilo ali. Desde pequeno eram comuns e frequentes os pitacos de Tarcísio para os que se postavam diante do espelho. “Sou apaixonado por roupas. Apaixonado por moda para os outros. Para mim, não. Ando normal, não sou estiloso. Mas amo montar produções, desde novo. Escolhia as roupas da minha mãe, dos amigos e da minha irmã. Comprava roupa para ela. Sempre gostei muito de ver gente bem arrumada. Na minha cidade, Rio Novo, tem escolas de samba, e eu vivia no barracão fazendo fantasia”, sorri Tarcísio Guerra, o homem que dá nome a uma das mais movimentadas lojas de vestuário feminino da cidade. Sem letreiro, numa rua residencial, próximo a um hospital, o negócio expandiu a ponto de filas começarem a se formar até duas horas antes de as portas serem abertas. Peregrinação de mulheres que já atraiu flanelinhas e uma constante vigilância da Settra para a rua que fronteia a Maternidade Therezinha de Jesus, no Bairro São Mateus. Seja às 10h, às 15h, às 17h ou mesmo às 19h, o local está sempre repleto de mulheres. Pela fresta da janela da casa em frente, uma residência de fachada simples, como as vizinhas, o homem há dez dias de completar 30 anos acompanha um fervilhar que lhe rendeu mais de 55 mil seguidores no Instagram e mais de 40 mil seguidores no Facebook.

Quando está em casa – e portanto não está em viagem para agilizar novas coleções -, Tarcísio faz as fotos que vão para a internet e programa um cronograma apertado, dando conta de diários lançamentos. “Sou fabricante e compro de outras marcas. Bolo o produto, mando para cortar num lugar e, às vezes, fecho em outro. Vou para Paraná, São Paulo e Goiás. Vendo para atacado e consigo, também, comprar por um preço melhor. Fecho grupo de compras para redes de lojas e daí tiro um preço legal, diferenciado. Trabalho direto com as marcas e vendo minhas fotos. Um dia olhei um Instagram e vi uma foto bonita, das roupas num cabide. Eu não fazia fotos montadas e logo na primeira em que fiz foi um sucesso muito grande. Não parei, e toda semana faço de 20 a 30 fotos”, conta ele, que improvisou um estúdio na sala da casa que divide com os irmãos Felipe e Fernanda, “braços” seus na loja. Utilizando dois modelos de painéis e poucos adereços, Tarcísio fotografa com o próprio celular. Imediatamente “brotam” curtidas e clientes. “Acho que aconteceu no boca a boca. Eu já vendia muito, mas nas redes sociais acabei estourando, e isso ajudou a lotar a loja. São fotos bonitas, criativas, como querem ver. Fora que meu preço ninguém tem igual”, ri. “O país está passando por um momento de crise. Não posso querer ganhar muito, porque, senão, não ganho nada. Sempre tive o pensamento de praticar um preço justo. É complicado porque exige ter um capital de giro, já que o retorno demora. Meu pai é quem teve o capital que precisei”, diz, apontando para um modelo que conjuga baixos lucros e volumosas vendas. “Rico não dá para falar, mas estou no caminho certo.”

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Das sacolas à sala

Assim ficou bom, dizia Tarcísio Guerra aos 15 anos, quando abriu sua primeira loja na cidade natal Rio Novo. O sucesso sobrava-lhe, mas faltava-lhe maturidade, lembra. Então encerrou as atividades e foi investir em outra paixão. “Junto de uma amiga, fui mexer com hospedaria de cavalos, numa terra que era da minha família. Era uma coisa pequena, e não deu certo.” Aos 24 anos, inquieto, resolveu aceitar uma proposta de um amigo do pai e novamente mudou-se para Juiz de Fora. “Ele me ofereceu o emprego de gerente em um restaurante. Aceitei, mas sem deixar de lado a venda de roupas. Vendia biquínis, roupas, na academia, nas horas vagas. Até que resolvi focar só nisso, porque o público daqui é bem grande”, comenta ele, que muito jovem acabou abortando o projeto de estudar para se dedicar ao trabalho. “Naquela época, eu me mantinha com isso. Tinha a ajuda dos meus pais, mas sempre fui independente. Ligava para as clientes, mandava fotos, insistia. Batalhava para vender”, recorda-se.

“Antigamente já tinha uma clientela de todas as classes. Vendia para a patroa e para a empregada, como é hoje. Minha classe é todo mundo. Sou assim, simples. Gosto de andar a cavalo, ando de chinelo e pijama o dia inteiro dentro de casa, gosto de ficar com minha família e meu amigos e detesto viajar”, comenta o empresário, que prefere viajar de ônibus e na garagem tem um carro popular, mesmo a sacola já tendo se transformado num projeto agigantado. “Morava num quarto e sala e decidi transformar a sala em loja.”

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Da sala às lojas

Assim ficou bom, dizia Tarcísio Guerra às clientes que entravam em sua casa com hora marcada. Pouco a pouco, porém, a agenda começou a apertar. “Não cabia mais, porque no corredor do prédio já havia fila. O síndico reclamou e eu desci, alugando a loja do térreo”, diz ele, trazendo à memória um fato vivido há apenas dois anos, quando a irmã Fernanda entrou no negócio. “Eu morava sozinho e ela chegou para me ajudar a fazer tudo, desde arrumar a casa até arrumar a loja. Então dei a sociedade para ela. Quando ela gosta já sei que a peça vai sair rápido. Ela tem bom gosto e é jovem, sabe o que é tendência.” Mesmo assim, quem escolhe continua sendo ele, o mais velho dos quatro filhos de José e Márcia, que trouxe Felipe, outro irmão, há alguns meses, e espera a caçula, Natália, crescer de seus 12 anos para também se integrar ao negócio. “Tudo na vida é questão de oportunidade. Quando seu momento chega, é preciso agarrá-lo. O sucesso chegou para mim por conta do meu trabalho limpo e benfeito. Nunca quis derrubar ninguém. Estou trabalhando para ganhar o meu dinheiro”, pontua ele, que ganhando o seu ajuda a família a ganhar também, exceto a mãe, que se mantém professora, enquanto o pai, hoje, cuida do outro empreendimento de Tarcísio: “Ele é tratorista, tinha máquinas numa empresa que funcionava como uma empreiteira, fazendo terraplanagem para condomínios. Era um serviço muito pesado. Há um ano e meio ele trabalha comigo, administrando meu haras.”

Das lojas à casa

Assim ficou bom, parou de falar Tarcísio Guerra desde que o assédio e as demandas se ampliaram exponencialmente. O tempo curto ele divide fazendo compras, vendendo e planejando. Às 22h, segue para a academia, prática antiga do homem alto e corpulento. Nos finais de semana retorna para a casa dos pais e toma conhecimento do negócio rural. “Cavalo vale um milhão, não é igual a roupa. Se eu fizer a compra errada de um animal, posso me dar supermal. Já se eu fizer uma compra certa, posso me dar muito bem”, explica. A mesma coisa acontece com roupa? “Roupa agrada mais e é mais fácil de vender. Abaixa o preço e vende, porque tem gosto para tudo”, responde ele, que folheia revistas e, principalmente, pesquisa nas redes sociais as tendências do momento. Faz questão, ainda, de sempre almoçar com as vendedoras da loja que fronteia sua casa. É que Tarcísio levou a casa para dentro da loja, ao empregar os irmãos, e o inverso também, ao decidir morar diante da vitrine. E no futuro, será apenas uma escada a dividir casa e trabalho. “Vou abrir um empreendimento muito grande, na Rua Cândido Tostes. Já comprei o imóvel e estou construindo uma estrutura melhor para os clientes. Aqui é do jeito que eu gosto, mas preciso ampliar, ter mais funcionárias. A demanda cresceu, e não posso deixar as clientes esperando sob o sol”, reconhece. Tarcísio diz trabalhar 24 horas por dia. Às vezes, atravessa madrugada arrumando prateleira. Vale a pena? Ele afirma que sim. E quer mais. Está fazendo estudo de franquia para abrir novas lojas em cidades de outras regiões. Assim vai ficar bom, Tarcísio.

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