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‘Cora do Rio Vermelho’, estrelado por Raquel Penner, chega a Juiz de Fora

CORA
Cora
Raquel Penner, em cena, dá vida aos poemas de Cora Coralina (Foto: Divulgação)
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Raquel Penner pincela algumas palavras de Cora Coralina em uma tentativa de mostrar que, no fundo, o que a poeta queria era incentivar o caminho, propor um recomeço pelas palavras, pelos gestos singelos, pela poesia, naquela simplicidade em que vivia. Ela cita a palavra “recomeça” e, em seguida, costura os imperativos: “plante”, “escreva”, “faça doces”. Isso, na verdade, foi o que Cora disse, mais detalhadamente, no poema “Aninha e suas pedras” que, entre seus versos, convoca: “Recria tua vida, sempre, sempre./ Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça./ Faz de tua vida mesquinha um poema”. E é bem isto que Raquel, como atriz, faz: pega as palavras de Cora como motivo de encantamento através do simples cotidiano. É aí que reside o potente, o que vem de mais fundo. Esse processo de se apropriar das palavras de uma poeta que se mostrou à frente do tempo fica visível no monólogo “Cora do Rio Vermelho”, que vai ser apresentado neste sábado (15) e domingo (16), às 20h, no Teatro Solar. Os ingressos podem ser adquiridos no link.

O encontro de Raquel com Cora se deu há mais de 15 anos, através de textos espalhados. Ela sabia, de certa forma, da potência de Cora, mas ainda não tinha lido nada por completo. Quando, anos depois, foi em uma pequena exposição sobre sua vida, ficou encantada com aquela mulher que, ao mesmo tempo que escrevia, fazia doces em uma cidade com marcas interioranas. Aquilo tudo se manteve guardado ali. Como atriz inquieta, em busca de novas formas de se expressar, Raquel tinha vontade de estrelar um monólogo e começou a anotar algumas ideias, frases e cenas que vinham na cabeça naquela imersão na possibilidade. Foi quando se voltou a Carlos Drummond de Andrade e, nele, voltou a encontrar Cora. Foi Drummond o responsável por descobrir Cora.

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“São coisas que não se explicam. Eu li um texto que Drummond escreveu sobre Cora e decidi que era o momento de ler os livros dela. Comprei vários e fui lendo, fazendo anotações. Vi que era isso. E, da mesma forma como eu fui impactada por suas palavras, pensei que, talvez, as pessoas também estivessem precisando disso. Tive a ideia de, então, fazer o monólogo a partir da obra de Cora, montei a equipe, chamei Isaac Bernat para dirigir e ‘Cora do Rio Vermelho’ foi nascendo”, relembra Raquel.

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Estreia on-line

Esse processo foi iniciado em 2018. E, para colocar uma peça no palco é preciso um trabalho que envolve muito além de ensaios e textos: verba para fazer acontecer, principalmente. Mas, prestes a conseguir estrear, começa a pandemia e embarga sua apresentação presencial, bem como os ensaios. “Ela (a peça) só foi estrear em 2021, na pandemia, viabilizada por meio da Lei Aldir Blanc. E foi tudo on-line: desde os ensaios à estreia. E foi interessante essa experiência, cada um em sua casa, como se fosse uma sala de ensaio. A gente conseguiu filmar no teatro em Niterói sem público e fizemos a estreia on-line, que foi mesmo um sucesso arrebatador. Em quatro dias de peça, a gente conseguiu cerca de 3 mil pessoas assistindo. E foi acontecendo.”

Foi decidido, já naquele momento, que a peça, mesmo on-line, seria estreada da forma como fosse apresentada presencialmente, com fidelidade de cenário, figurino, falas, gestos – tudo. E, em maio de 2022, finalmente, “Cora do Rio Vermelho” pôde ser assistida em um teatro, com um público presente. Claro que algumas coisas, nesse caminho, depois de circular tantos lugares, foram mudando. On-line, a peça tinha cerca de 40 minutos. Agora, tem cerca de 50 minutos. Eles foram entendendo que o espetáculo poderia ser maior, e muito a partir dos relatos de quem assistia, que alegava que ficaria ali por mais horas. “E assim o caminho foi sendo trilhado.”

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Vida de Cora pela própria Cora

Raquel, em cena, dá vida aos poemas de Cora e são eles mesmos que contam a história da poeta. Em seus textos tinha tudo. Uma mudança adotada na versão presencial foi a inserção de cartas que Drummond e Cora trocavam. Afinal, Drummond, além de ter sido o responsável por apresentar Cora ao mundo, foi o motivo da imersão de Raquel na vida da poeta. Isso deveria estar também em cena: é história.

Os textos que Raquel selecionou nesse processo de estudo ainda estão em cena. Cora, no palco, não é aquela caracterizada. “Eu dou passagem às palavras de Cora. É como uma grande conversa com o público. Leonardo (Simões, que fez a dramaturgia) acrescentou alguns trechos, inclusive anotações minhas, na peça, para dar uma costura no texto”, explica.

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“É comum, por exemplo, as pessoas falarem que parece que, em cena, eu interpreto umas 300 mulheres. Isso acontece porque Cora escrevia sobre as pessoas de sua cidade, sua vida. E o que une tudo isso, o que eu falo no monólogo, é sobre a força das mulheres. Em um tempo que nem se falava tanto sobre isso, Cora já era feminista, e, às vezes, sem saber. Ela afirma que, realmente, não pertencia ao seu tempo. E, como mulher e artista, nesse caminho diário que ela escreveu, eu me identifico muito com ela.” Essa identificação talvez seja o que explica o fato de que muitos saem, realmente, tocados pela vida de Cora.

Essa apresentação é a que fecha a temporada “Cora do Rio Vermelho Visita Minas Gerais”, selecionado na chamada do programa Petrobras Cultural Múltiplas Expressões, que também tem o Patrocínio Master da Petrobras e conta com incentivo fiscal da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Apesar desse término, Raquel afirma que quer voltar a Minas Gerais. Ela percebeu que o público recebe bem o espetáculo porque também se identifica com a vida de Cora.

Curso gratuito

Além da apresentação da peça, também no sábado e no domingo, o diretor Isaac Bernat oferece a oficina “Frutos da terra”, inspirada na figura do griot africano Sotigui Kouyaté. Ela é gratuita e sua intenção é estimular o olhar para as próprias vivências com a intenção de transformá-las em histórias a serem contadas. É um processo que se aproxima daquele feito por Cora Coralina em suas obras. As inscrições podem ser feitas no link.

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