“As histórias folclóricas não são somente para as crianças. As crianças se deleitam por elas, mas os adultos também. O saci tem características que envolvem qualquer pessoa. Ele é engraçado e faz arte, mas também é parte da superstição de objetos perdidos”, conta Margareth Marinho, educadora da Biblioteca Municipal Murilo Mendes. Dos personagens que permeiam os mitos e os medos do imaginário infantil, o saci protagoniza a bibliografia de Margareth, professora, educadora e jornalista – sobretudo, “sacióloga”, pois. De peneira na mão, Margareth atira-se em qualquer redemoinho para dominar a figura do folclore brasileiro. Com sorte e astúcia, captura o ser de uma só perna. Não há assovios e objetos domésticos perdidos que a assustem. Última e inédita obra de seu portfólio, “Manual de saciologia” alcançou a segunda colocação na categoria Literatura Infantojuvenil no Prêmio Off Flip de Literatura 2018 – integrante do Plano Nacional do Livro e Leitura e do Circuito Nacional de Feiras de Livro. Entre os dias 25 e 29 de julho, os vencedores receberão os prêmios no Centro Cultural Sesc, em Paraty (RJ), durante a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip). Os resultados foram divulgados pela organização do prêmio na última quarta-feira (11).
O prêmio dá direito à publicação do título em versão digital – e-book, com download gratuito aos leitores – e impressa, ainda que sem prazo previsto. Margareth aguarda o contato da editora Selo Off Flip para tratar os detalhes contratuais. “Eu me senti escritora. Estou muito feliz com o resultado. É muito difícil a gente ganhar um prêmio de edição no Brasil. É uma obra que dá continuidade ao que o saci representa”, relata a sacióloga. Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a educadora foi à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tornar-se mestre em Comunicação e Cultura. Concluiu, também, o Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes pela Fundação Educacional Rosemar Pimentel (FERP). Junto à atividade de professora – iniciada há 32 anos -, começou o interesse pelo saci a partir das obras de Monteiro Lobato. “Há uma evolução do saci para hoje, uma lapidação do mito para chegar tanto para as crianças quanto para os adultos. Ele é objeto de estudo, por isso eu me tornei uma sacióloga; ele é protetor das matas e favorável à preservação do meio ambiente”, explica Margareth.
Ainda que tenha um viveiro de sacis e lidere caçadas no Museu Mariano Procópio – com crianças, de 6a 11 anos, e seus pais, desde 2012 -, a professora decidiu catalogar as informações a respeito do ser. “Eu dou curso de formação para professores. Quando falo de Monteiro Lobato, sempre brinco com eles que vou abrir uma faculdade de saciologia para formar saciólogos como eu – eu dou o módulo de saciologia no curso. Então, pensei em fazer um manual de saciologia. Era o que estava faltando.” Em reconhecimento às caçadas realizadas no Dia Nacional do Saci – celebrado em 31 de outubro -, a sacióloga recebeu o Prêmio Ricardo Oiticica de Melhores Práticas Leitoras em 2014, promovido pela Cátedra Unesco de Leitura da PUC do Rio de Janeiro. Margareth ainda coordena, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes, projetos de incentivo à leitura.
Ao Acre, Pará, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, a educadora levou as suas práticas saciólogas. “O saci apresenta, exatamente, os detalhes daquilo que a gente é, do que a gente faz, só que alegoricamente”, diz Margareth. Em seu acervo, bem como “Manual de saciologia”, as obras “Dossiê saci” (2007) e “Pé de saci” (2016) alimentam a bibliografia dedicada ao culto do folclore – além do pererê, há, também, o saçurá e o trique. A primeira e a segunda edição de “A tia míope”, lançadas em 2005 e 2018 respectivamente, também são assinadas pela educadora. Para Margareth, “o mito é completo. O saci representa a cultura brasileira”.